Por Ricardo Cravo Albin

“Não sei como será a 3ª Guerra Mundial, mas posso te dizer como será a 4ª: com paus e pedras”. (Albert Einstein)

Creio que muitos leitores já ouviram falar em organizações internacionais que agregam escritores e intelectuais com o objetivo de defender primordialmente a liberdade de expressão, de lutar pela integridade física de seus associados, de exercitar o repúdio à censura do pensamento. Pois bem, este que vos escreve foi eleito há algum tempo para presidir o braço brasileiro da centenária instituição universal que tomou o nome significativo de Pen Clube Internacional, ou seja, o clube dos associados ao ato de escrever. Pen em inglês  significa a antiga pena que escrevia, depois a máquina manual ou elétrica, e finalmente hoje o computador – O Pen Clube do Brasil existe desde 1936, fundado por um intelectual e benemérito, o dramaturgo Cláudio de Sousa, também membro da ABL e figura de ativa presença no meio cultural e social carioca dos anos 20 aos 50 do século anterior. A guerra que se desenvolve com ferocidade no leste europeu fez abrir uma exceção naquilo que seria uma exclusividade do Pen Mundial, a defesa individual de escritores perseguidos, presos, ameaçados de censura de pensamento. Agora, a solidariedade é expressa não mais a indivíduos, mas aos países e suas populações que sofrem o horror da pulverização de suas cidades, famílias e mesmo vidas.

A sede do Pen Internacional, portanto também do Pen Brasil, está em Londres. De lá recebi um apelo, quase que uma ordem, para que todos os países afiliados nos cinco continentes à organização mundial pudessem se somar a um ato de repúdio de quem vive para as letras, para a opinião pública enfim, contra a guerra. A Guerra, compreenda-se, como uma entidade de desarmonia, de desordem, de sofrimentos impostos aos povos em estado de beligerância.

O Pen Clube do Brasil enviou, por certo, sua adesão ao apelo dos escritores/intelectuais do mundo contra esse tipo de ação bárbara, o Estado de Guerra, assim mesmo com letras maiúsculas como que a indicar a entidade daninha que uma (ou qualquer) guerra pode representar. Tomo a liberdade de transcrever abaixo o texto da adesão brasileira que imaginei para nossos associados contra a guerra.

“O PEN Club do Brasil se solidariza de modo enfático e integral com o PEN Club Internacional, ao se somar a todos coirmãos dos cinco continentes no sentido de o Brasil e as centenas de seus associados (escritores, jornalistas e intelectuais) emitirem protesto contra atos de guerra no Leste Europeu.

Os sofrimentos impostos à população civil carecem de qualquer justificativa moral ou histórica. O país invadido, a Ucrânia, está a sofrer ataques militares pesados e perdas de vidas em quase todas as frentes. O país invasor, a Rússia, começará a prejudicar gravemente a sua população com o fechamento de sua economia em inédito bloqueio mundial.

Em resumo, a guerra não acrescentará nenhuma vantagem aos povos atingidos. Ao contrário, contabilizará sofrimentos, perdas humanas e materiais, pobreza e traumas para as populações envolvidas.

Bertrand Russell, um dos patronos do nosso PEN Club Universal, foi profético ao avaliar a guerra como uma maquininha de calcular operando apenas para registrar o negativo, a subtração sempre, e nunca qualquer soma, um acréscimo sequer.

Portanto, o PEN Brasil se une a ação benéfica do PEN Internacional no sentido de agregar seus mais de 200 associados e, quero crer, a quase totalidade dos escritores do Brasil, em repúdio às ações de guerra ou à “Guerra” em seu sentido mais abrangente e universal.

A subtração de vidas humanas, bem como a pulverização de bens materiais de um país ou mesmo a perda de vida de um simples individuo, ferem a dignidade e atentam contra a liberdade. Trata-se de trágica censura ao direito de ir, vir e ser feliz, a que qualquer ser humano aspira. Todos devemos exigir isso a qualquer país, em especial aos que comandam o planeta”.

Ricardo Cravo Albin

Presidente do PEN Club Brasil.

P.S 1– Acompanhar o progresso da guerra no seu dia a dia de destroçamentos é de cortar o coração. Ontem o Jornal Nacional entrevistou uma senhora judia de 85 anos em Kiev que gemia ao repórter -Meu Deus, minha família sofreu no campo de concentração onde foi dizimada, agora estamos sendo aniquilados por bombas que não param de cair de um povo irmão.

P.S 2– A escritora-historiadora Mary Del Priore acaba de ser eleita para a Academia Paulista de Letras. São Paulo, enfim, abraça as letras do Rio.

P.S 3– Não sei não…Essa decisão da prefeitura de liberar máscaras é duvidosa. Segundo quem entende prioritária e definitivamente da pandemia, a Fio Cruz, essa liberação pode ser precipitada. Especialmente quando temos quase 700 mil mortos. E só 72% da população tomaram a vacinação tríplice completa.

P.S 4– Nesta sexta-feira, o querido escritor Ruy Castro recebe o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras. Nada mais merecido. Na mesma ocasião será celebrada a posse da nova diretoria da ABL com Merval Pereira na Presidência e Nélida Piñon, titular do Grande Prêmio Pen Clube, ano passado, na Vice-Presidência.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.


Tribuna recomenda!