O momento que vivemos no Brasil exige resiliência e muita resistência. A reforma da Previdência vai sair praticamente do jeito que a elite queria, com pequenos ajustes. A reforma Tributária ainda é um mistério, principalmente porque a União, Estados e Municípios rejeitam baixar impostos e simplificar a cobrança deles. A máquina precisa gastar (e roubar) cada vez mais…

Executivo, Legislativo, Judiciário, militares e a grande imprensa vão quebrar o pau com ainda mais vigor, tudo indica que a guerra de todos contra todos os poderes ainda vai se intensificar. Se o presidente Bolsonaro não quiser apanhar além do normal, terá de construir sua agenda, divulgá-la corretamente e, principalmente, cumpri-la da melhor maneira possível. Ainda há tempo…

Bolsonaro sabe que está pressionado, principalmente pela toda poderosa Rede Globo – sedenta por verbas públicas que o presidente ainda não demonstrou vontade de ceder. Bolsonaro deveria começar a se comportar como o líder de uma agenda de realizações. Mas fica claro até para leigos despolitizados que isso está distante de ocorrer, o que vemos dia-a-dia beira muitas vezes o ridículo. Um dos últimos capítulos dessa novela foi o vídeo em que ele (Bolsonaro), representado por um leão, é atacado por diversas hienas.

Cada hiena leva uma etiquetazinha, uma legenda com nomes como STF, Globo, OAB, Congresso, partidos e organizações da esquerda. As hienas cercam o leão e estão prestes a matá-lo quando então surge um outro, o “leão conservador e patriota”, que vem para ajudar o “leão presidente.” A analogia escolhida foi um ataque extremamente infeliz e de um oportunismo impressionante.

Não bastasse o leão e as hienas, o filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse em entrevista à jornalista Leda Nagle, feita na segunda-feira e publicada na manhã de ontem (31), que poderia vir aí “um novo AI-5”.

A declaração foi dada depois que a jornalista perguntou sobre os acontecimentos políticos em países vizinhos, como a eleição da chapa de Cristina Kirchner na Argentina e os protestos no Chile. “Vai chegar um momento em que a situação vai ser igual a do final dos anos 60 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando executavam-se e sequestravam-se grandes autoridades, consules, embaixadores, execução de policiais, de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E a resposta, ela pode ser via um novo AI-5, via uma legislação aprovada através de um plebiscito, como aconteceu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada” — afirmou Eduardo.

Mais tarde, o deputado e filho do presidente voltou atrás e pediu desculpas. Disse que houve uma “interpretação deturpada” do que foi falado e afirmou que não há uma proposta para a volta do ato institucional (N.5) decretado durante a ditadura militar e que afronta a Constituição de 1988.

Com filhos desse tipo, Bolsonaro nem precisa de inimigos.

RJ – novembro de 2019

Daniel Mazola é jornalista, editor do jornal Tribuna da Imprensa Livre, presidente da Comissão de Mobilização Intersindical e do Terceiro Setor da Associação Nacional e Internacional de Imprensa (ANI). Pós-graduado, especializado em jornalismo sindical. Apresentador do programa TRIBUNA NA TV. Ex-presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Conselheiro efetivo da ABI (2004 a 2017). Foi Assessor de Imprensa da Federação Nacional dos Frentistas (Fenepospetro) e do Sinpospetro-RJ. Vice-presidente de Divulgação do G.R.E.S. Estação Primeira de Mangueira (2010/13), editor do jornal Faferj (Federação das Associações de Favelas do Estado do RJ), editor do jornal do SINTUFF (Sindicato dos Trabalhadores da Universidade Federal Fluminense-UFF), editor do jornal Folha do Centro (RJ), editor do jornal Ouvidor Datasul (gestão empresarial e tecnologia da informação), subeditor de política do jornal O POVO, repórter do jornal Brasil de Fato, radialista e produtor na Rádio Bandeirantes AM1360 (RJ)