Por Amirah Sharif –
Circula pela internet uma matéria do SBT, de março deste ano, sobre crianças que perderam mães e pais para a Covid-19. Terminei de assistir o vídeo, fui para a sala e fiquei pensativa. Morena, minha filha de quatro patas que vocês já conhecem, corria e latia da cozinha à sala sem parar. Fez isso umas quatro vezes até que resolvi segui-la. Ela me mostrava seu cantinho de comer vazio, ou seja, me avisava que não havia servido seu jantar. Tinha esquecido o pratinho (prefiro chamar assim) de Morena em cima da pia. Tratei logo de servi-la, mas o pensamento estava nas crianças sem afeto, companhia e amor dos pais.
Morena e meus demais filhos de quatro patas perceberam que eu estava muito distraída. Meu pensamento foi muito longe. Pensei na minha mãe, uma senhora viúva, de coração rubro-negro, que me adotou. Verifiquei se todos os filhos peludos estavam servidos e fui à varanda contemplar a lua, conversar com Deus.
Perfumes
Na semana passada, informei que era amante de perfumes. Talvez esse gosto seja uma herança de minha falecida mãe. Lembro-me que, antes de sairmos, ela passava perfume em alguns pontos estratégicos do rosto e dos braços para que o aroma projetasse, mas não sufocasse a pessoa ao lado. Ela fazia o gestual e eu a imitava. À época, não existia pump spray. O gestual era simples: abria o frasco, colocava o dedo indicador na parte de cima do perfume, virava e passava. Minha mãe segurava o perfume para mim, e eu, tal qual uma “petite fille”, me inebriava com tamanha doçura.
Na matéria do SBT, a psicóloga Elaine Alves, do Instituto de Psicologia da USP, aconselhou avisar as crianças sobre a morte de seus pais no momento que acontecer. Segundo ela, os filhos precisam ser imediatamente informados, porque a criança tem direito a chorar naquele momento em que todos os parentes e amigos estão chorando, a falar naquele momento em que todos estão falando e seguir no luto junto de todos e não depois.
Testes em animais
Em seguida, me veio ao pensamento empresas de cosméticos e grandes nomes da perfumaria que testam em animais. Eu repudio toda e qualquer marca que utilize animais como cobaias! Será que nós humanos conseguimos perceber que eles sofrem? Ah, mas é apenas um rato de laboratório, me respondem. Não! Por favor, não pensemos assim. Rato, coelho, cachorro não é apenas, é tudo!! Não passemos essa ideia aos nossos filhos de que é apenas um bichinho que deve sofrer para podermos usar o produto sem problemas. Não há felicidade, se existem sofrimento e tristeza de outro lado. Vamos ensinar às nossas crianças o respeito com o próximo. Um animal é tão criatura quanto nós, e é próximo também!
Vamos ter mais compaixão! Sigo pensando nessas crianças órfãs. Elas estariam fazendo o quê? Estariam sendo criadas por quem? Será que estão sendo bem cuidadas? E os bichinhos de estimação dessas famílias? Estão com as crianças? Foram largados por aí? Estão em abrigos? Estão nas ruas? Morreram de saudades?
Ora, Amirah, não pense nisso, senão irá enlouquecer. Você não pode fazer nada. Essas crianças têm parentes para cuidarem delas. Os bichos, também. É o que eu escuto, mas não registro. Entra por um ouvido e sai pelo outro. E respondo: “ah, sim”. Essa resposta dá para ser elegante com quem não é e para ser indiferente com quem também é indiferente com o entorno.
Ao sair da varanda, estavam no quintal meus patudinhos querendo comunicar que haviam terminado a refeição. Fui à copa, lavar e guardar os pratinhos.
Tudo passa
Continuei a pensar em toda a situação acima descrita. Lembrei-me de ter ouvido falar que no quarto de Chico Xavier havia o registro da seguinte frase: tudo passa. Perfeito! Tudo passa.
Seguindo essa máxima, já consegui que alguns vizinhos e amigos mudassem os hábitos de consumo e adquirissem produtos que não testam em animais. Já persuadi também alguns comerciantes a apresentarem nas prateleiras apenas produtos de empresas com o selo de respeito à vida dos animais. É um passo importante até conseguirmos banir do planeta essa insensível prática de testes.
A pandemia está ensinando a olharmos o mundo de outra forma. Nada é seguro e definitivo. Então, o caminho é amar e respeitar mais, com limite e compaixão. Viver bem e em paz com a consciência, porque tudo passa.
AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br
MAZOLA
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