Por Luiz Carlos Prestes Filho –
Em entrevista exclusiva para o jornal Tribuna da imprensa Livre, a compositora Denise Garcia, afirmou: “Infelizmente, os grandes jornais, pelo menos os de São Paulo, não têm mais crítica musical. Muito menos em referência à música contemporânea. Crítica artística é diferente de fazer reportagens, é preciso um profundo conhecimento da música para fazer crítica. Nós não temos essa formação no Brasil, os estudos mais profundos de música ainda estão restritos à academia, nos programas de pós-graduação em música.” Para Denise Garcia:
“Mas ser brasileira e viver no Brasil é estar imersa nesta complexa cultura de muitas misturas e singularidades culturais muito ricas. As músicas, os sons, a corporeidade brasileiros nos habitam.”
Luiz Carlos Prestes Filho: Música de Concerto, Música Erudita ou Música Clássica?
Denise Garcia: Prefiro a expressão Música de Concerto. Música Clássica se refere a um período da História da Música, precisamente no século XVIII e Música Erudita tem um tom elitista. Música de Concerto é um termo preciso, a música que é composta para ser apresentada em um teatro ou sala de concerto, ou mesmo espaço mais aberto, nos quais as pessoas se sentam para apreciar concentradamente e em silêncio a performance.
Prestes Filho: Música Eletrônica, Música Eletroacústica ou Música Acusmática?
Denise Garcia: O termo Música Eletroacústica, embora seja criticado por alguns autores, acabou se generalizando e representa um termo guarda-chuva no qual cabem a música acusmática e a música eletrônica. A expressão música acusmática, defendida pelo compositor François Bayle, nos remete mais à situação de escuta, aquela que se ouve através do véu dos alto-falantes; e a música eletrônica, que se iniciou nos Estúdios de Colônia nos anos 50 do século passado, nos remete mais a forma de produção do som.
Eu poderia me alongar aqui nesta discussão, que parece infinita porque não se chega a um consenso. Mas acabo usando o termo genérico Música Eletroacústica.
Prestes Filho: Seu primeiro instrumento foi o piano. Como este instrumento influenciou a sua trajetória e obra? Em especial, como este foi importante no período quando estudou composição na Alemanha? Momento quando suas obras foram executadas em vários festivais daquele país.
Denise Garcia: Costumo chamar meu piano (não o objeto, mas o que ele representou para mim toda a minha vida) de minha casa, minha primeira morada. Porque depois de comer, dormir e fazer as coisas do dia-a-dia, o que faço há mais tempo na minha vida é tocar piano, desde os 6 anos de idade. Não desenvolvi carreira como pianista, por trauma que sofri na adolescência, mas o piano sempre foi percurso básico da minha formação. Depois de estudar com o pianista Bráulio Martins e Menininha Lobo na juventude, antes da graduação, o desejo desta última era direcionar minha carreira para a performance, mas acho que eu era muito curiosa na época pelos estudos de música para me dedicar apenas ao estudo do instrumento como queria a professora. Na graduação da USP tive aulas com Caio Pagano, que foi também um incentivador dos meus estudos no instrumento. Mas foi mesmo no período de estudos da Alemanha que me dediquei com afinco, horas e horas diárias, quando estudei com os professores Werner Genuit (Academia de Detmold) e Gottfried Hefele (Musikhochschule de Munique).
Na Alemanha, nas duas academias em que estudei, não se concebia um compositor ou um regente que não dominasse o instrumento.
Prestes Filho: Beber na fonte da cultura brasileira foi importante para o surgimento da sua linguagem própria? Os nossos sons e as nossas paisagens foram matéria primas valiosas para a composição “Ouro Preto Mariana”?
Denise Garcia: Fui aluna de composição de Willy Corrêa de Oliveira nos anos 70, portanto influenciada pela estética do Grupo Música Nova, fruto mesmo desse grupo, que era antinacionalista de raiz. Mas ser brasileira e viver no Brasil é estar imersa nesta complexa cultura de muitas misturas e singularidades culturais muito ricas. As músicas, os sons, a corporeidade brasileiros nos habitam. Não é preciso usar um tema folclórico para fazer música brasileira. Sempre gosto de afirmar que Gilberto Mendes fez música brasileira sem ser nacionalista. Mesmo em seu período mais experimental dos anos sessenta. Que música seria mais brasileira que Beba Coca-Cola ou Santos Football Music? “Ouro Preto Mariana” vai nessa mesma direção conceitual. Sou apaixonada por Minas Gerais e suas montanhas, mas não posso deixar de me encantar com os sons dos freios do trem descendo a montanha de Ouro Preto em direção de Mariana.
Estou então imersa na cultura da música experimental e eletroacústica, como esteve Gilberto em sua obra, para descrever uma paisagem brasileira com seus últimos trens à vapor em função.
Prestes Filho: Você atuou como crítica musical no Jornal da Tarde. Qual sua opinião sobre a crítica da música contemporânea no Brasil? Quem são aqueles críticos que realizam um trabalho sobre música contemporânea, no Brasil e no exterior, que merecem reconhecimento?
Denise Garcia: Não considero ter feito um trabalho de crítica no Jornal da Tarde, porque na época era uma estudante de música e minha coluna “Repertório de Hoje” não era de crítica, mas de divulgação dos concertos da cidade de São Paulo. Eu trazia informações sobre os programas e compositores e os artigos tinham o objetivo de informar e formar público para os concertos. Infelizmente, os grandes jornais, pelo menos os de São Paulo, não têm mais crítica musical. Muito menos em referência à música contemporânea. Crítica artística é diferente de fazer reportagens, é preciso um profundo conhecimento da música para fazer crítica. Nós não temos essa formação no Brasil, os estudos mais profundos de música ainda estão restritos à academia, nos programas de pós-graduação em música. Na minha juventude tínhamos Jota J. de Moraes no Jornal da Tarde, que foi meu professor na USP e João Marcos Coelho na Folha de São Paulo.
Este atua hoje na Revista Concerto que é a mídia que concentra o pouco que se escreve hoje em dia sobre música de concerto.
Prestes Filho: Cite nomes de compositores que foram fundamentais para a sua formação. Cite nomes de compositores de Música Eletroacústica que você acompanha no Brasil e no mundo. Também, algumas obras que tem importância estruturante para sua formação. Sua formação foi em música instrumental, como se deu a passagem para a música eletroacústica. Suas palavras “escutar o mundo” são muito marcantes.
Denise Garcia: Em relação à minha formação, todos os grandes compositores em especial Chopin, Debussy, Ravel, Messiaen, Schoenberg, Berio e Ligeti. Compositores brasileiros que foram fundamentais na minha formação foram meus mestres Willy Corrêa de Oliveira, Jocy de Oliveira, Gilberto Mendes e Villa-Lobos. Também, meus professores de composição na Alemanha, Giselher Klebe e Willhelm Killmayer. Compositores de música eletroacústica são em primeiro lugar Rodolfo Caesar, a quem muito devo, mas também compositores da música eletroacústica francesa que muito admiro, como François Bayle, Pierre Schaeffer, Daniel Teruggi (meu supervisor de doutorado), Francis Dhomont, dentre outros. A minha formação foi sim em música instrumental e iniciei estudos no gênero eletroacústico pela via da paisagem sonora, lendo Murray Shafer, escutando as paisagens locais, gravando-as em minhas viagens pelos Parques Nacionais ao longo dos anos. Depois em meu estágio de doutorado no INA-GRM me aproximei mais da estética da música eletroacústica.
Depois voltei a compor música instrumental, mas com a orelha de músico eletroacústico.
Prestes Filho: A Música Contemporânea abraça o seu ambiente de trabalho. Você acompanha quais movimentos de Música Contemporânea? Quais poderia destacar? Poderia citar os artistas brasileiros e estrangeiros da atualidade?
Denise Garcia: Acho que a música espectral foi uma poética muito forte na música contemporânea e a escrita musical baseada nos sons e não nos parâmetros tradicionais como nota, ritmo, etc., enfim, uma música instrumental que se desenvolveu depois de uma tecnologia musical, ainda é uma poética bastante forte aqui no Brasil, inclusive nas novas gerações. Como professora da Unicamp, acompanho os jovens compositores que foram formados em nossos cursos de graduação e pós-graduação, como Rodrigo Lima, Michele Agnes, José Henrique Padovani, Bruno YuKio, além jovens compositores como Sergio Kafeijan, Valéria Bonafé, Tatiana Catanzaro. Tenho também me interessado pela reescrita musical e pelas obras de Silvio Ferraz, Eli-Eri Moura, Michael Finissy, Salvatore Sciarrino, dentre outros.
Admiro também a obra da compositora finlandesa Kaja Saariaho.
Prestes Filho: A interseção audiovisual/teatro/música hoje é uma realidade. Em especial, por conta da atual revolução científica e tecnológica que está transformando todas as áreas da cultura. Qual é o impacto da mesma na música contemporânea? Especificamente, nos seus trabalhos: “Sopro – Lume Teatro”, dirigido por Tadashi Endo, e “Kelbilin, o Cão da Divindade”, dirigido por Luis Otávio Burnier?
Denise Garcia: Sempre fui apaixonada pelo teatro e recebi o primeiro convite para compor música para uma peça teatral em 1984, por Jean Pierre Kaletrianos. O trabalho com o Grupo LUME TEATRO foi excepcional por ter sido um trabalho no qual tive total liberdade para criar. Em Kelbilim, fiz uma composição em estilo, pesquisando o canto ambrosiano e a música polifônica vocal antiga, a modernidade das peças está nas entrelinhas, em uma escrita harmônica que cruza o modalismo com um ouvido mais moderno. Em “Sopro” fiz um trabalho eletroacústico. Nos dois casos, já que estamos falando em audiovisual, concebi as músicas como cenário, não apenas como música: em Kelbilim o coro cantava ao vivo e tinha um percurso que os cantores deveriam fazer nos espaços invisíveis do teatro e o som se movimentava no espaço; no “Sopro” a espacialização era em 8 canais, com alto-falantes distribuídos pelo espaço da plateia. Nesta obra sem texto, o diálogo se dava entre os gestos do ator e a música. Mas gostaria de citar nesse âmbito audiovisual um outro trabalho que fiz conjuntamente com grupo de artistas visuais. A composição e a programação sonora, em parceria com Ignacio de Campos, da obra “Op_era: uma jornada através de dimensões paralelas e experimentos multisensoriais” das artistas Rejane Cantoni e Daniela Kutscaht, concebida para caverna digital e desenvolvida na Caverna digital da Poli-USP, com apoio do Itaú Cultural em 2003.
Até onde sei foi o primeiro trabalho artístico desenvolvido para caverna digital no Brasil.
Prestes Filho: Na obra “A Casa do Poeta” (2003), você explora a sonoridade eletroacústica. São cinco faixas inspiradas no histórico “Poema Sujo” do poeta neoconcretista Ferreira Gullar. Como a palavra escrita se realiza na sua obra? Primeiro a palavra, depois a música? Em “Homenagem a Kilkerry”, poeta simbolista brasileiro, as palavras guiaram a composição para orquestra sinfônica?
Denise Garcia: Assim como sou apaixonada pelas artes cênicas, também sou por poesia e literatura. Tenho obras vocais e obras que embora inspiradas em obras literárias ou poesias não tem texto, como as que você menciona. Nas obras em que musico um texto, sempre o início é um trabalho com o texto, selecionando as partes, fazendo um estudo da prosódia, as divisões rítmicas, etc. Nas obras inspiradas em literatura o trabalho é diferente. Em “A Casa do Poeta”, que foi meu trabalho de mestrado, fiz um estudo dos signos sonoros citados no poema e uma concepção a partir das teorias de Bachelard.
Depois fui para São Luís do Maranhão e, junto com um amigo ton-meister, mapeei sonoramente a cidade, buscando e gravando os sons descritos pelo poeta e encontrando a paisagem sonora característica da cidade na época, muito diferente então da paisagem sonora de São Paulo, por exemplo. Essa experiência foi responsável pela concepção das 3 obras do CD. Em “Homenagem a Kilkerry”, cuja obra conheci através do livro publicado por Augusto de Campos, fiz primeiramente um redesenho do poema ao estilo concretista, e procurei descrever a sensação que o poema me trazia, concebendo a música em 3 partes.
Foi um trabalho iniciado na juventude, mas refeito então, em 2015.
Prestes Filho: Qual tem sido a contribuição dos compositores brasileiros vivos de música contemporânea para com o desenvolvimento da técnica da escrita musical? Podemos identificar uma proposta brasileira? A nossa música contemporânea não deve nada para a música de qualquer outro país?
Denise Garcia: Não sei definir isso. Para isso precisaria estar acompanhando de perto tudo o que está ocorrendo tanto no Brasil quanto no exterior, o que não faço. Acho que atualmente não temos mais porque ter uma concepção desenvolvimentista e positivista da arte. No ambiente cultural que atuo, me preocupo em promover a produção brasileira, mas não com a “brasilidade” das obras. Em comparação à música contemporânea internacional, ainda temos corpos estáveis sinfônicos pouco especializados e pouco interessados na performance de música contemporânea, com exceção de alguns grupos que fazem um trabalho singular e ótimo. Não existindo uma cultura oficial de performance da música contemporânea no espaço musical dos corpos estáveis sinfônicos, há menor possibilidade de desenvolvimento dessa produção.
O desinteresse estatal pela cultura, que voltou a crescer nos últimos anos, atrapalha ainda mais esse desenvolvimento.
Prestes Filho: Sua obra “Vilvadiana” surpreende pelo ambiente barroco. Nesta abertura concertante, você realizou a alternância entre a orquestra e os solistas. É emocionante o “passeio pela obra de Antonio Vilvaldi”, onde você demonstra seu domínio de técnicas composicionais do passado e técnicas contemporâneas. Conte sobre o desenvolvimento deste trabalho?
Denise Garcia: Essa obra foi concebida para servir como abertura de um concerto no qual a Orquestra Sinfônica da Unicamp apresentaria a ópera “Les Plaisirs de Varsailles” de Marc-Antoine Charpentier. Como as outras obras desse concerto eram barrocas, resolvi fazer essa “brincadeira” de reescrever os temas dos terceiros movimentos dos quatro concertos para violino e orquestra de Vivaldi, para dar uma homogeneidade ao concerto. Fiz questão de deixar esses temas reconhecíveis para que fosse escutado como um passeio aos temas tão conhecidos do compositor.
O desafio nessa composição foi operar as transformações graduais de um tema para outro, nas quais utilizei uma técnica de escrita que nomeamos de morphing, paralela ao morphing visual tão popular.
Prestes Filho: Qual sua opinião sobre a presença das mulheres em atividades musicais? O número de compositoras na Academia Brasileira de Música (ABM) é muito pequeno. Seria possível uma reflexão sobre este tema?
Denise Garcia: O número de compositoras na minha geração é pequeno, mas se observamos, nas gerações subsequentes está havendo um aumento gradual da presença de mulheres na composição. Presencio isso nas salas de aula em que dou as disciplinas de composição: nos últimos anos cresceu o número de alunas para esse curso. Então acho que o ambiente começa a ser aos poucos mais ocupados por mulheres compositoras, mas isso só vai se refletir na profissionalização dessas jovens gerações.
Prestes Filho: A Academia Brasileira de Música (ABM) desempenha papel importante na difusão da música brasileira. Você entende que o compositor deve participar de associações e sindicatos para encaminhar reivindicações e participar ativamente das lutas populares?
Denise Garcia: Há muitas formas de ações em prol da difusão da música de concerto brasileira. Como atuo dentro de uma universidade, que tem uma orquestra profissional, tem coro de alunos, tem alguns grupos estáveis, minha ação – até porque fui diretora administrativa da Orquestra por 8 anos – foi a de promover concertos de música brasileira através de diversos editais, apresentando obras tanto de compositores consagrados, como estreias de jovens compositores. Eu pessoalmente me sinto mais inclinada a esse tipo de ação do que de participar de sindicatos ou associações. Mas, sem dúvida as ações se complementam e atuar em sindicatos e associações é também importante.
Prestes Filho: O espaço para a Música Contemporânea no Brasil está reduzido. São poucos patrocínios que a iniciativa privada disponibiliza e as políticas públicas estão cada vez mais limitadas. Quais perspectivas para os próximos anos?
Denise Garcia: Não sei dizer, porque sequer sabemos como se desenvolverá o ambiente político nos próximos anos e quando vai terminar a pandemia e a vida cultural retornar ao normal. Acho que tudo vai levar um tempo razoável para se recuperar.
Prestes Filho: Quais são as orquestras brasileiras que você admira como compositora? Quais são as maestrinas e os maestros que mais tem intimidade com sua obra?
Denise Garcia: As duas orquestras que mais tocaram as minhas obras foram a Orquestra Sinfônica da Unicamp, regida pela maestrina Cinthia Alireti; e a Orquestra Sinfônica de Santo André, regidas pelo maestro Abel Rocha. Quero citar também a OCAM, regida pelo maestro Gil Jardim e a Orquestra Sinfônica de Campinas, regida pelo maestro Victor Hugo Toro. Todos esses regentes tiveram a dedicação e interesse em reger minha obra.
Prestes Filho: Está surgindo uma nova geração de compositores? Quem seriam eles? Entre estes, existem seus discípulos?
Denise Garcia: Esses eu já citei acima. Dentre possíveis discípulos, cito meus ex-orientandos de mestrado e doutorado: Valério Fiel da Costa, Clayton Mamedes, Bruno Yukio e Laiana Oliveira.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado em Direção de Filmes Documentários para Televisão e Cinema pelo Instituto Estatal de Cinema da União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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Como sempre, em suas entrevistas com compositores do Brasil tenho de dar-lhe parabéns (não gosto do verbo “parabenizar”, que me soa como neologismo de mau gosto, apesar de não ser tão “neo” assim) pela acabada apresentação que introduz o leitor ao campo do entrevistado.
Aproveito para comentar, nesta entrevista com a compositora Denise Garcia, onde aparece – e com razão – a crítica ao descaso com a cultura no Brasil, que, em se tratando de “música de concerto” e sobretudo em “música de concerto contemporânea”, há, além do descaso oficial, o isolamento quase que regional entre os próprios artistas, o que pode parecer descaso dos próprios criadores entre si.
A compositora Denise, ao citar os outros brasileiros de sua área cita poucos cariocas. Um exemplo disto é que um dos primeiros compositores de música eletroacústica, que na década de 60 se subdividia em “concreta” – vinda de Pierre Schaeffer e Pierre Henry, e “eletrônica”, vinda do estúdio de Stockhausen, talvez pioneiro no Brasil com Jocy de Oliveira e o piauiense Reginaldo de Carvalho, que viveu no Rio, Jorge Antunes, é aqui ignorado.
Curiosamente, ela refere-se a uma peça sua, “Vivaldiana”, parecendo desconhecer a “Vivaldia MCMLXXV”, para dançarina, voz de contralto, piano, violonvelo e fita magnética, do Jorge Antunes. Apenas um exemplo desse “distanciamento” regional.