Por Siro Darlan

O Sermão da Montanha é o ponto alto da pregação divina. Trata-se de um verdadeiro roteiro de vida para o cristão que deseja ser autêntico.

Ao contrário do discurso mercadológico, o Mestre afirma que esse caminho será estreito e pedregoso, mas vale a pena o convívio fraterno com os irmãos humanos, em sua diversidade. Foi com alívio, em dias de pestes sanitária e política, que recebi a mensagem que segue do Professor Carlos Alberto Rabaça, um amigo inspirador de longa data.

Aproveito a insônia que me surpreendeu esta noite, para ler e refletir sobre o Sermão da Montanha. O que, a rigor, Jesus propõe é que a mera observância estrita da lei é insuficiente para a salvação.

O que haveria, então, de mais importante? Qual a condição de uma vida bem vivida antes da morte? E o amor? E não qualquer amor, mas o amor ágape. Antes de mais nada é preciso entender que esse amor que sentimos uns pelos outros é uma espécie de extensão do amor de Deus por nós. E sua plena compreensão enfrenta questionamentos importantes. O primeiro deles: se Deus nos ama tanto, por que há tanto mal no mundo? A famosa pergunta: se Deus existe, como explicar o mal? São questionamentos fundamentais e inquietantes.

Deus, além de perfeição, é também puro amor. Amor que rem como condição de sua divina perfeição não ser condicionado.

Deus ama e ama a todos de forma incondicional. Nós, como de resto toda a natureza, não somos Deus, mas suas criaturas. Nós até comungamos com Deus alguns atributos, entre eles o amor.

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Porém, nosso amor é diferente do amor de Deus. Enquanto este é ilimitado, infinito e incondicionado, o nosso é limitado, finito e condicionado.

Amamos a partir de certas condições, desde que sejamos correspondidos. Amamos com infinitos ” desde que”, com infinitos “senões”.

Ora, mas esse amor divino funciona no cristianismo tal como a própria vida de Jesus, ou seja, de modo exemplar. Aqui no mundo da natureza, no mundo humano, no mundo de pessoas com sentimentos impuros, esse amor ágape, amor incondicional, não é fácil de existir. Mas serve para nós como amor exemplar.

Nenhum de nós ama como Deus. Nenhum de nós ama o outro nas suas imperfeições, como Jesus nos apontou como uma forma de princípio moral: “Amai-vos uns aos outros”. Não amamos assim, mas somos capazes de compreender esse amor, compreender e aceitar o outro como ele é. Na sua imperfeição, na sua diferença, na sua torpeza.

E somos capazes também de, seguindo o exemplo da compreensão desse amor exemplar, agir como quem ama, ainda que não haja o afeto. Quem ama respeita. Quem ama cuida. Quem ama preocupa-se. Podemos, portanto, escolher cuidar d respeitar. Podemos escolher racionalmente numa deliberação moral livre, agir inspirados no modelo do amor incondicional.

Para Santo Agostinho, é essa a natureza do livre arbítrio, isto é, a capacidade racional de entender o amor divino e agir como quem ama. Pode parecer um amor cínico. Amor que é atitude planejada, pensada mas é melhor do que se agíssemos inspirados em interesses mesquinhos e interesseiros.

Amanhece. Tomara que faça um belo dia com a graça do SENHOR”.


SIRO DARLAN – Juiz de Segundo Grau do Tribuna de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Diretor e Editor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Membro da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.