Por Jeferson Miola

Durante participação na “Cúpula íbero-americana de líderes pela democracia e liberdade” nesta 5ª feira [16/12], o candidato da ultradireita José Kast deixou subentendida a possibilidade de não acatar o resultado do 2º turno em caso de derrota, segundo noticiado pelo portal La Tercera.

Kast declarou que “Mais que fraude, podem ocorrer erros. E um voto por mesa pode mudar o destino da eleição”, referindo-se à previsão de uma disputa renhida.

No Chile temos 45 mil mesas. Eu creio que se a diferença for estreita, assim como de 45 mil votos, temos que esperar a recontagem que se faz nos centros de escrutínio no dia seguinte”, disse o candidato de ultradireita.

Ainda de acordo com o La Tercera, Francisco Chahuán, presidente do Renovação Nacional, partido que integra a coalizão de Kast, havia declarado antes que “os resultados serão tão estreitos que provavelmente [a apuração] chegue aos tribunais eleitorais”.

Ao que parece, a cartilha de Trump, Bolsonaro, Keiko Fujimori e outros agentes da extrema-direita também está sendo bem aplicada também no Chile.

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NOTA DO EDITOR: Hoje (17), sexta-feira, a loja de vinhos IPANEMA WINE BAR realiza o lançamento de “Crônicas Subversivas”, do historiador Lincoln de Abreu Penna, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre. O livro é um apanhado de crônicas e pequenos ensaios cuja maioria foi publicada aqui no site. “Os princípios da legalidade e da soberania nacional marcaram a minha geração, voltada para o culto dos valores democráticos e libertários”, destaca o autor. O lançamento começa às 19h e haverá bate-papo com o professor Lincoln Penna. (Daniel Mazola)

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O desinteresse político da sociedade e o terrorismo eleitoral da ultradireita no Chile

A eleição chilena chega na sua reta final em situação de empate entre Gabriel Boric/Frente Ampla e José Kast/Partido Republicano. Uma eleição disputadíssima, das mais acirradas da história recente do Chile. Uma disputa voto a voto em cada cidade, em cada palmo do país.

Este acirramento, entretanto, não se reflete em engajamento político de massas e tampouco é visível na engrenagem social do dia a dia.

Isso se explica, em grande medida, pela baixa participação da cidadania chilena nas eleições, fenômeno que se acentuou sobremaneira a partir de 2012 com o fim do voto obrigatório.

Nas últimas eleições, a abstenção tem sido superior ao comparecimento às urnas – em média, apenas cerca de 47% dos chilenos votam. O plebiscito para decidir a realização da Assembleia Constituinte, ocorrido em 2020, teve leve aumento da participação eleitoral, atingindo 51%.

Nas ruas da capital Santiago o clima é de rotina cotidiana e aparente normalidade, como se o país não estivesse a poucos dias de se decidir entre duas propostas antagônicas de futuro.

Não há publicidade de campanha, não se vê militantes distribuindo panfletos ou abordando transeuntes. Muitas pessoas com as quais conversei, ou manifestaram indiferença e desinteresse em relação ao pleito; ou dizem que os dois candidatos representam “a mesma coisa” – ou seja, a política e tudo o que de sentido ruim é atribuído à política.

A insatisfação social difusa e uma existência cada vez mais “invivível” não é, contudo, garantia de atitude política, em que pese o padrão de desigualdade social no Chile e a inexistência de um sistema robusto de seguridade social.

O Chile é uma espécie de “mercado a céu aberto” no qual serviços e direitos sociais não são bens públicos, porque foram privatizados e mercantilizados com a imposição selvagem do ultraliberalismo durante a ditadura de Pinochet.

Apesar desta realidade, o desinteresse pela política, que se reflete na apatia eleitoral, é um fator chave na possibilidade ou impossibilidade de mudança profunda do país.

Mesmo a Assembleia Constituinte, com a maioria expressiva dos assentos [78%] ocupados por representantes do campo progressista e da esquerda que representam a perspectiva de mudanças, é um espaço de poder que não foi eleito por outra metade da população chilena.

A acomodação e a alienação políticas conformam um senso comum conservador, refratário a mudanças e, em decorrência disso, mais sensível a retóricas que incutem pânico e medo.

A campanha do ultradireitista José Kast explora com eficiência este conservadorismo “inato”. A chave-mestra deste dispositivo de medo e pânico é a anacrônica retórica anticomunista.

A vilania política contra Boric – acusação de assédio sexual, de uso de cocaína etc – que Kast perpetra abertamente em público é, todavia, exponenciada nos ambientes escuros e desregulamentados das redes sociais.

No ecossistema digital Kast opera segundo a conhecida cartilha da extrema-direita internacional, nos mesmos moldes de Trump, Bolsonaro e quejandos.

A relativa eficiência deste terrorismo eleitoral não deixa de ser paradoxal. O próprio Kast, ele mesmo uma figura que inspira e transpira terror e que carrega no seu DNA ideológico o gene do nazismo [seu pai foi oficial nazista], deveria ser totalmente desacreditado.

Mas, aparentemente, não parece ser. Pior: os anti-valores dantescos que Kast evoca têm significativa audiência na sociedade chilena.

Pelo menos é o que mostra sua competitividade eleitoral.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista, Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.


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NOTA DO EDITOR: Quem conhece o professor Ricardo Cravo Albin, autor do recém lançado “Pandemia e Pandemônio” sabe bem que desde o ano passado ele vêm escrevendo dezenas de textos, todos publicados aqui na coluna, alertando para os riscos da desobediência civil e do insultuoso desprezo de multidões de pessoas a contrariar normas de higiene sanitária apregoadas com veemência por tantas autoridades responsáveis. Sabe também da máxima que apregoa: “entre a economia e uma vida, jamais deveria haver dúvida: a vida, sempre e sempre o ser humano, feito à imagem de Deus” (Daniel Mazola). Crédito: Iluska Lopes/Tribuna da Imprensa Livre.