Por Isa Colli –
Conheça as ideias criativas da professora de inglês Marcia Leão.
Toca o sinal e os estudantes vão com a professora para a sala. A turma se organiza nas cadeiras e a aula começa. Certo? Errado. Agora, os educadores precisam dividir a atenção entre os alunos que estão no presencial e os que estão no remoto. A adaptação ao ensino híbrido é um desafio diário.
Diante de um novo cenário, o Colégio Ao Cubo, que tem filiais no Rio de Janeiro, intensificou os recursos tecnológicos aliados à criatividade em 2021. Foi criado o projeto Ao Cubo em Rede, que prevê várias ferramentas de apoio aos alunos e professores. Entre as atividades, concursos, ciclos de leitura e olimpíadas, que permitem a participação, tanto dos alunos do ensino presencial, como os do remoto.
Segundo a empresa de tecnologia educacional Movplan, há cinco tipos de ensino híbrido na pandemia: sala de aula invertida, flex, laboratório rotacional, à la carte e rotação por estações.
Sala de aula invertida
O aluno estuda o material da aula antes do encontro presencial e já tem informações para tirar dúvidas e aprofundar o conhecimento. Diferentemente do que é feito no ensino tradicional, o aluno estuda sozinho primeiro para depois aplicar os conceitos e tirar dúvidas entre os colegas e com os professores.
Flex
Muito usado como metodologia do ensino híbrido na pandemia, o Flex dá protagonismo ao aluno e coloca o professor na posição de tutor e mediador para tirar dúvidas, motivar e organizar o estudo. Sendo assim, as atividades podem variar entre individual e coletivo com toda a turma.
Laboratório rotacional
De forma alternada, a turma é dividida em dois grupos, sendo que uma parte realiza atividades online e a outra tem o apoio do professor em sala de aula. Ou seja, o estudante tem autonomia no estudo com apoio da tecnologia, mas continua com o suporte do professor presencialmente para fazer exercícios e tirar dúvidas.
À la Carte
Apesar de manter a escola física tradicional, o modelo oferece disciplinas que devem ser feitas 100% no ambiente virtual. Sendo assim, a instituição de ensino pode oferecer cursos de diferentes assuntos para que o próprio aluno escolha o que deseja estudar.
Rotação por estações
Neste modelo, os alunos são divididos por grupos baseado em estações de aprendizagem, ou seja, possuem objetivos de aprendizagem diferentes e complementares. Além de auxiliar no desenvolvimento do protagonismo dos estudantes, o professor atua como mediador e organizador do revezamento nas estações de aprendizagem.
Avalanche de novidades
A professora de inglês do Fundamental I, Marcia Leão, conta que o ensino híbrido tomou a todos de surpresa, assim como a pandemia. “Veio numa avalanche de novidades, dificuldades, inseguranças, acertos, erros…enfim, dar aulas no ensino híbrido tem sido desafiador todos os dias, sem exceção. Eu diria que tem sido revelador de ambas as partes: aluno e professor”, garante.
Em entrevista exclusiva ao site da escritora Isa Colli, a professora Marcia Leão revela detalhes desta nova rotina, opina sobre inclusão, alerta para a falta de isonomia quanto à acessibilidade digital, fala dos projetos que desenvolve em sala de aula e dá dicas aos colegas da área da educação. Confira:
– Quais as vantagens, dificuldades e principais desafios do ensino híbrido?
As vantagens não são muitas, para falar a verdade. No começo desse processo, os alunos vinham acompanhando as aulas com interesse e motivação, muito mais pela novidade de estar conectado com a tecnologia para assistir aulas. Para nós, professores, entrar na sala de aula novamente também foi vantajoso, pois retomamos o contato com o ambiente comum a nós: a sala de aula. A praticidade da tecnologia foi vantajosa para nós ao darmos aulas: ver todos os alunos que estão remotos ainda, incluí-los na nossa rotina de sala de aula. Porém, os pontos negativos logo apareceram. A internet não tem a mesma velocidade para todos os alunos… eles caem, o som deles falha, o nosso som de sala de aula também falha. O professor tende a falar mais alto para ser ouvido atrás das máscaras e vice-versa. Os alunos que estão em casa se distraem mais facilmente e os que estão em sala se desligam quando temos que verificar “questões técnicas” de som, de imagem, compartilhamento de tela e outros…. O ensino híbrido é extremamente desafiador para os professores, pois nós temos que competir com a tecnologia e o ambiente de casa. Muito cansativo para ambas as partes. Mais, para os professores,com certeza.
– O que mudou na sua forma de ensinar?
Na essência, nada mudou. Porém, nós, professores, temos que prestar atenção a vários detalhes que influenciam diretamente nas nossas aulas, como o esquecimento do microfone desligado, o compartilhamento de tela correto, o aluno online que não responde, mas está logado. Aquele aluno que não consegue te ouvir ou aquele que entra online depois de 15 minutos, pois ele havia “caído”. Tudo isso em 50 minutos. A nossa forma de transmitir o conhecimento mudou radicalmente.
– Você acredita que as crianças estão adaptadas a essa nova realidade? Será um processo sem volta, mesmo depois que a pandemia passar?
Ainda bem que há crianças que não se adaptaram totalmente. Tenho vários alunos que ansiavam por terem a oportunidade de voltar à sala de aula, de se comunicar com o professor, mesmo com 2 metros de distância, de rever os seus colegas, de ouvir o sinal do recreio tocar…rsrs..e, claro, saudades do próprio recreio(mesmo com várias restrições). Espero que retomemos a nossa rotina de sala de aula, sem nos preocuparmos se estamos compartilhando a tela corretamente, se o aluno está jogando online na hora da aula, se saímos do meet sem querer… Por outro lado, a tecnologia educacional e suas ferramentas vieram para ficar.
– Fale sobre esse projeto que você está desenvolvendo para tornar as aulas mais interessantes.
Em plena pandemia, tivemos que quebrar a cabeça para conseguirmos diversificar as estratégias de ensino online. Sempre gostei de aliar a tecnologia aos projetos pedagógicos. No ano passado, os alunos do 3º ano do Fundamental I tiveram que bolar um sanduíche favorito. Eles desenharam os seus sanduíches com os ingredientes em um papel A4 e colaram numa cartolina. Escreveram um pequeno texto ao lado do sanduíche e, ao finalizarem, cada aluno gravou um vídeo descrevendo o seu sanduíche e os ingredientes. Junto com os vídeos, eles postaram as fotos dos cartazes. Houve alunos que realmente fizeram o sanduíche em casa e registraram o processo de criação. No 5º ano, ao falar de Sustentabilidade na Quarentena, os meus alunos gravaram vídeos muito bem bolados mostrando como era possível ser sustentável durante a pandemia. Os vídeos foram geniais! Mostraram várias alternativas para o consumo de energia em casa, sobre o correto descarte do lixo,criação de alternativas sustentáveis…
Ainda no 3º ano, os alunos criaram um rap falando sobre as suas atividades de fins de semana. Na 1ª etapa, eles digitaram e montaram a letra do rap. Depois, ilustraram o seu rap com fotos e postaram na sala de aula google, como todos os outros acima. Alguns gravaram o ritmo do rap com as suas vozes.
Esses projetos foram idealizados e postos em prática remotamente, mas foram concluídos durante as aulas híbridas. Sempre diversifico as minhas aulas recorrendo a sites com Quizzes, games e videos. Atualmente, estou bolando uma alternativa de projeto com podcast.
– Como tem sido a receptividade dos alunos?
A melhor possível! Eles se engajam ao falarmos de projetos aliados à tecnologia.
– Qual a dica que você dá a professores que ainda se sentem inseguros com o ensino remoto?
Testem os recursos antes de colocá-los em prática. Gosto de seguir educadores de outros países no Instagram. Assista a tutoriaisi no YouTube também. Procure ajuda do setor de Informática da sua instituição para conhecer os prós e os contras. Consulte sites com ideias de projetos, pois ajudam bastante. Practice makes perfect! (A prática leva à perfeição!)
Deixe uma mensagem:
Não deixem que as dificuldades desse processo de ensino híbrido/remoto pelo qual estamos passando prejudiquem a sua criatividade enquanto professor. Arrisquem-se com as suas grandes ideias!
O caminho é árduo, mas recompensa! Sigamos!
ISA COLLI – Escritora ítalo-brasileira, de Presidente Kennedy, Espírito Santo, atualmente reside em Bruxelas, na Bélgica. Jornalista, membro do Conselho Consultivo e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Começou a escrever aos 12 anos, sempre preocupada com o futuro do meio ambiente, e como ensinar as crianças a preservá-lo, atenta aos anseios humanos e às suas dúvidas em relação à vida. Seu primeiro livro foi editado em 2011. O romance, ‘Um Amor, um Verão e o Milagre da Vida’. Porém a partir de 2013, consagrou seu tempo à literatura infantil e conta em 2019 com mais de dez títulos editados, que abordam temas como a sustentabilidade e a necessidade de proteção ao meio ambiente, o respeito pelo próximo, a tolerância às diferenças e a valorização do consumo de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. A autora tem por alicerce a família, em especial, o esposo José Alves Pinto e os filhos Valdeir e Philip. E o sonho de transformar o mundo por meio da escrita, que é o seu principal combustível. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2018 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
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