Redação

O Talibã ganhou a Guerra do Afeganistão após 20 anos de presença militar dos EUA. Tanto o governo republicano do então presidente Donald Trump como o democrata do atual presidente Joe Biden tiveram de se curvar. Os avanços do grupo nas últimas semanas, conquistando capitais provinciais e com o controle da maior parte do país, já ocupando a capital Cabul, provam que ambos estavam corretos sobre os rumos da guerra.

Derrubar o Talibã do poder não foi difícil em 2001. Aliás, não é complicado para as Forças Armadas dos EUA removerem muitos dos regimes espalhados pelo mundo. Apenas neste século, levaram adiante “mudança de regime” em Iraque, Líbia e no próprio Afeganistão.

SEM ALTERNATIVA – Talibã avançaria mesmo se EUA ficassem no Afeganistão. O problema americano é o que fazer depois de tirar um regime como o do Talibã. Não dá para transformar o Afeganistão em uma democracia como a norueguesa. Todas as instituições precisam ser construídas do zero.

Até houve avanços. Eleições foram realizadas, apesar das enormes dificuldades. A opressão às mulheres existente nos tempos do Talibã diminuiu de forma acentuada. Ao mesmo tempo, o Afeganistão atingiu altos índices de corrupção, e suas Forças Armadas, apesar de 20 anos de treinamento americano, nunca conseguiram se fortalecer o suficiente para enfrentar seus adversários no país sem a ajuda dos EUA.

Há anos, o Talibã vem impondo derrotas às forças do governo. Para complicar, o Estado Islâmico também estabeleceu bases no Afeganistão e tem realizado uma série de ataques terroristas contra minorias xiitas, como os hazaras. O grupo só não ganhou mais espaço porque foi contido pelo Talibã — as duas organizações são inimigas, apesar de serem jihadistas e seguirem uma vertente ultrarradical do Islã sunita.

TIPO VIETCONG – Quando assumiu o poder, Barack Obama herdou a guerra de George W. Bush. Na visão dele, esse conflito, e não o do Iraque, deveria ser priorizado. Enviou dezenas de milhares de militares americanos para conter o Talibã. Conseguiu. Mas assim que as tropas começaram a se retirar, o grupo voltou a crescer.

Trump adotou uma posição mais pragmática. Mais avesso a aventuras militares do que Bush e Obama, o republicano passou a mediar negociações entre o governo afegão e o Talibã. As conversas não avançaram.

Ao mesmo tempo, porém, Trump fez um acordo com o Talibã sem levar em consideração o governo afegão. Segundo o acerto, os EUA se retirariam do Afeganistão, e o grupo se comprometeria a não permitir a presença no país de organizações terroristas como a al-Qaeda.

TALIBÃ DE VOLTA – Esse acordo de Trump foi mantido por Biden e significou na prática que o Talibã estava livre para tentar retomar o poder. A conclusão dos dois presidentes e de seus governos é de que não há solução para o Afeganistão. Há aliados dos americanos, como o da Arábia Saudita. regimes radicais pelo mundo, sendo alguns deles inclusive .

O jeito será lidar com o Talibã, como a própria China vem lidando — o chancele1r chinês se reuniu com o representante de política externa do grupo. A alternativa seria manter indefinidamente a presença militar americana, que não conta com apoio nos EUA. Ao contrário, pesquisa do The Hill indica que 73% dos americanos apoiam a retirada.

O Talibã é uma organização ultraextremista e medieval, assim como o Estado Islâmico. Certamente, o grupo afegão irá oprimir as mulheres e perseguir minorias. A diferença está no fato de o Talibã não realizar ataques terroristas ao redor do mundo. Para os EUA, em meio à fadiga de tantas guerras, isso basta.

Fonte: O Globo


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