Por Lincoln Penna

“O erro mais grave (dos economistas) é sustentar que o capitalismo é um sistema econômico… Não devemos nos enganar, o Estado e o Capital são companheiros inseparáveis, ontem como hoje”. (Fernand Braudel em sua obra Civilização Material e Capitalismo)

Assim que tomou posse e o governo Lula se depara com as artimanhas promovidas pelos agentes e provedores dos interesses do capital, também conhecido pelo codinome de mercado. Fazem crer que qualquer alteração no que respeita às normas caras aos investidores de recursos financeiros provocará danos irreparáveis à economia.

Partem esses ideólogos e seus repetidores instalados na mídia do pressuposto segundo o qual a economia é uma atividade que independe do caráter do estado ou do sistema econômico em vigor. Com isso, silenciam sobre o essencial, isto é, de que nos encontramos sob uma economia atrelada ao gosto de um modo de produção que dita as tais regras do jogo.

A ausência dessa transparência é uma forma de enquadrar um governo comprometido com as demandas sociais para que ele se afine ao gosto e ao sabor do dito mercado, do contrário o ônus recairá sobre seus governantes. Em outras palavras, se há queda da bolsa de valores e a retração de investidores por conta de falas ou decisões a ser tomadas, o motivo está em quem deveria atentar para a necessidade de se ajustar aos impulsos de quem detém o poder econômico.

Tem razão, por isso, o historiador Braudel ao fazer aquela advertência tão absolutamente verdadeira, a de que a presença nos debates sobre a economia acaba ignorado por não lhe dar paternidade. Razão pela qual as vozes mais sensatas em torno do atual governo sustentam a necessidade de uma comunicação mais vigorosa e direta para que essa realidade e as suas dificuldades que lhes são inerentes sejam conhecidas e amplamente divulgadas.

O enorme contencioso a ser enfrentado por um governo, que além de popular se encontra vocacionado para concretizar os diversos pontos de estrangulamento herdados pelo seu antecessor, precisa estar conectado com as grandes massas ainda desorganizadas e sujeitas a informações desencontradas e por vezes ditadas pelos ideólogos mercadológicos.

A liberdade de imprensa é fundamental numa sociedade democrática, como também é fundamental o apoio de recursos públicos a iniciativas visando ampliar as redes e canais comunitários de comunicação.

Afinal, as grandes empresas nessa área e suas repetidoras instaladas em quase todo o território nacional obtiveram concessões que se renovam regularmente, ao passo que a tão decantada democratização da mídia está longe de ser concretizada. E isso passa necessariamente pela expansão das rádios e tevês comunitárias, presentemente reduzidas em sua capacidade operacional.

As ações políticas não se restringem aos políticos eleitos pelo voto popular. Eles são importantes, mas tão importantes são também as iniciativas de politização da sociedade, de modo a não limitar o cidadão ao exercício do direito do voto e de ser votado. Torna-se imprescindível a massificação de instrumentos que permitam a participação de todas as comunidades nos processos decisórios do país.

Nessa hora em que o governo em seus primeiros dias se propõe a unir e reconstruir o país não basta tão somente tornar esse desejo público. A ele deve se somar voluntariamente todas e todos que queiram contribuir para ajudar nessa tarefa de restauração de direitos surrupiados ou jamais estendidos aos mais necessitados, e tudo isso passa também e principalmente pela comunicação social do governo em permanente conexão com as diversas e multiplicas formas de representação do povo.

Só essa parceria governo – povo é capaz de realizar a democracia em sua plenitude, cujos limites são incomensuráveis uma vez que a democratização é um processo permanente e depende diretamente dessa comunhão entre os que exercem o poder governamental e os que demandam decisões e delas participam.

Por fim, deixar claro que a economia, portanto, é um conjunto de práticas derivadas do trabalho das pessoas e dentro de propósitos que venham a beneficiá-las. Não é propriedade de sistemas ou regimes, que somente orientam e dirigem tais práticas a partir de interesses que podem ser exclusivos ou particulares dominantemente, ou coletivos e socializados.

Cabe ao povo conhecer esses dois caminhos e escolher aquele que melhor possa beneficiá-lo.

LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON);  Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

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