Por Miranda Sá

“Obedecei mais aos que ensinam do que aos que mandam”  (Santo Agostinho)

O avanço da tecnologia com o computador trouxe-nos a Internet e as redes sociais, facilmente ativadas pelos laptops e celulares. Com isto, estabelecemos a “aldeia global” preconizada lá atrás, na década de 1960 pelo filósofo canadense Herbert Marshall McLuhan, projetando redução das distâncias pela eletrônica.

Mais adiante, o professor Diego Beas, analista político, nos presenteou com um pensamento antológico: “A rede social dotou o cidadão de uma nova e magnífica ferramenta que necessariamente subtrai poder ao Estado”.

… E assim o Planeta Terra converteu-se numa cidadezinha do interior graças à informática, onde já se reinventou os costumes e muita coisa está sendo reinventada para que ocorra as necessárias mudanças estruturais que reflitam a realidade sócio-políticas das nações.

Isto alegra os defensores da Ciência, mas traz saudade dos tempos dos “jogos de botão sobre a calçada, quando a gente era feliz e não sabia” (Ataulfo Alves)…. Este sentimento nos afasta do mecanismo frio para afirmar que nem os videojogos nem a televisão mataram as brincadeiras infantis, como Amarelinha, Bafo, Boca-de-forno, Bota, Cabra-cega, Dança das cadeiras, Esconde-esconde, Estátua, Passa anel, Passa passa gavião, Pega-pega e Viuvinha…

Estes divertimentos lúdicos ainda estão vivos em muitas escolas, subúrbios metropolitanos e cidades do interior…

Quando a gente é menino, entretanto, sonhamos em tornarmo-nos adultos, adulteramo-nos…. E assim azedamos o doce aprendizado infantil exercendo a cidadania para analisar a Economia e procurar entender a Política, construindo uma personalidade independente, seguindo o pensamento do admirável filósofo, físico e matemático francês René Descartes, que resumiu a sua concepção da vida numa frase: – “Penso, logo existo”.

É claro que há muitos que pensam diferente do Filósofo; alguns, possivelmente, tentarão até denegri-lo, porque preferem “pensar” pela cabeça alheia na recreação “Boca-de-Forno” em que uma das crianças é escolhida para representar o Mestre, e os outros obedecem passivamente….

Lembram? A brincadeira começa com o Mestre dizendo em voz alta: – “Boca-de-forno”! … E a manada responde uníssona: – “Forno”! O Mestre então levanta: – “Tirando o bolo”. E os outros respondem: – “Bolo”! Aí vem uma palavra-de-ordem: –  “Farão tudo o que seu mestre mandar?” E o grupo se assume: -“Fazeremos todos! “. Nunca entendi o “fazeremos”, mas era assim que se dizia…

Então o jogo passa a ser levado pelo autoritarismo, com o Mestre dando ordens absurdas aos participantes que obedientes saem para cumprir as tarefas. O primeiro que volta se torna o mestre, e o último é castigado com bolos na mão dados por todos.

É claro que em nome da Democracia respeito o efeito preguiçoso de quem não “ousa pensar por si mesmo”, como preconiza Immanuel Kant. Mas, todavia, parece-me inadmissível usar as ferramentas tecnológicas das redes sociais tangidos pelas lideranças aceitas como “a voz do Mestre”.

Esta submissão “ideológica” torna-se perigosa quando sai da opinião xerocada no mundo digital e mergulha no pântano da fraude e da criminalidade, como vem sendo feito para defender condutas e orientações urdidas nos andares “de cima” do poder.

Isto se viu e se vê, desde que os “conservadores bolsonaristas” passaram a defender os “cartões corporativos”, a aceitar o “foro privilegiado”, a ficar contra à prisão na 2ª Instância, de isolar a picaretagem do Centrão e de adotar o negacionismo insano e genocida diante da pandemia do novo coronavírus.

Fazer tudo o que seu Mestre mandar deve se limitar aos jogos infantis. As redes sociais tão importantes para a construção de um futuro feliz de paz, ordem e progresso, não devem bater palmas para maluco dançar….

É melhor correr o risco de ser chamado “maricas”, virar jacaré, de homem falar fino ou de nascer barba em mulher, do que assumir o fanatismo subserviente ao obscurantismo anticientífico de um sociopata qualquer…


MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.