Por Luiz Carlos Prestes Filho –
A serenata de Conservatória é importante patrimônio imaterial do Brasil. Nas pesquisas realizadas, para o estudo da Cadeia Produtiva da Economia da Música (PUC-Rio e Sebrae), entre os anos de 2002 e 2005, identifiquei que a música é o fator de desenvolvimento econômico da localidade. A maioria dos turistas que visitam este distrito da cidade de Valença/RJ, deseja ouvir canções de brasileiras sobre amor. Mas com a Covid 19 as suas ruas e praças ficaram vazias dos sons que encantaram gerações. Nos últimos quatro meses o espaço perdeu a sua alma.
Foi a partir do dia 16 de março deste ano que os hotéis fazenda e as pousadas de Conservatória interromperam suas atividades. O empresário Sérvio Consentino, proprietário do Hotel Fazenda Rochedo, confessa: “A decisão de parar foi muito difícil, a situação era inusitada. Não tínhamos informações consistentes sobre a gravidade da pandemia; sobre formas de prevenção; e sobre os riscos de contágio. Depois, a politização das ações no combate da Covid 19 nos confundiu. Antes eu acreditava que voltaríamos para as festas juninas, meado de junho ou inicio de julho. Agora entendo que a volta será em agosto”.
O seresteiro e proprietário da Pousada Sol Maior, Odilon Parente Cronemberger imaginou que a paralização seria somente de dois meses: “Imediatamente acatamos a determinação oficial da Prefeitura Municipal de Valença. Suspendemos os contratos de trabalho, que foram compensados por acordo que celebramos com banco público. Desta maneira não demitimos nenhum funcionário. Agora, nos meses de junho e julho oferecemos férias coletivas”.
Infelizmente, a retomada das atividades turísticas deverá enfrentar dificuldades: “Não poderemos ter aglomerações quando voltarmos. Vamos abrir oferecendo atividades ao ar livre com caminhadas, passeios de bicicleta e charretes. Preferencialmente, teremos famílias, grupos de pessoas conhecidas entre si. Estes turistas virão em transporte próprio, não acredito que teremos grupos grandes. Pra atender essa demanda terei que treinar nossos funcionários para essa nova realidade que se apresenta. Inclusive, consegui não demitir nenhum deles, por conta de empréstimo que fiz em forma de crédito em banco público”.
Odilon, da Pousada Sol Maior, concorda que os turistas virão nos seus carros para Conservatória, imagina que: “30% dos visitantes serão do Rio de Janeiro; 40% de São Paulo; e 30% de outras regiões”.
A Pousada Serras Verdes, de perfil rural, uma das mais distantes do centro urbano, também não demitiu nenhum funcionário: “Diminuímos os dias de trabalho, mantendo os salários em dia. Temos um perfil diferente das pousadas do centro e dos hotéis fazenda. Aqui o turista vem para ficar consigo mesmo, para se integrar com a natureza e sempre vem no seu próprio veículo. O nosso espaço de camping é muito procurado. Acredito que em breve voltarão aqueles visitantes do Rio de Janeiro. Em menor quantidade os de São Paulo e de Minas Gerais. Como nossa pousada é rural, produzimos café, feijão e morango, por exemplo, temos um produto diferenciado. Aqui tudo é muito simples e os preços acessíveis. Nosso café e geleias são registrados como orgânicos”.
Os empresários Lili e João Batista, do Hotel Fazenda Vilarejo, que também fecharam logo após do carnaval, não tiveram como manter todos os seus funcionários: “Para nós era uma situação muito difícil, nosso quadro era de mais de 150 trabalhadores. Conseguimos para os temporários doar, durante todos esses meses, cestas básicas. Mas não paramos. Aproveitamos o tempo para reformar nossa cozinha, o restaurante, a cachaçaria. Investimos em muitas melhorias O futuro turista vai encontrar aqui um espaço que aprendeu muito com essa crise sanitária mundial”.
Em recente entrevista a imprensa, Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), concorda que: “O primeiro turista vai chegar de carro, e a nossa facilidade é estarmos ao lado de São Paulo. Inicialmente as pessoas terão medo de viajar de ônibus ou avião”.
Neste ponto Lili e João Batista concordam: “Sim nossos turistas virão, como sempre, por via terrestre. Eles são os nossos fieis clientes do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Muitos estão ansiosos para voltar para o nosso lar de encanto e magia da música. Entram em contato, estão preocupados, buscam informações sobre nossas futuras atividades”.
Pelo visto, a partir de agosto, as ruas de Conservatória voltarão a ser sonoras. Mas as serenatas que acontecem toda noite, de sexta para sábado e de sábado para domingo terão um toque diferente, alguns dirão romântico, serão serenatas mascaradas.
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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