Por Jeferson Miola

É preciso punir o “fascismo juvenil” de adolescentes bolsonaristas que cometem crimes e, por isso, estão em conflito com a Lei, como é o caso de adolescentes fascistas que professam ideias preconceituosas, racistas e fascistas incutidas e aprendidas em casa com seus pais.

Nas últimas horas, circularam nas redes sociais manifestações de adolescentes de duas escolas de elite da cidade de Porto Alegre, capital gaúcha.

Aluna de colégio israelita com falas preconceituosas. (Reprodução)

Em uma deles, adolescentes do Colégio Israelita de Porto Alegre ridicularizam colegas jovens simpatizantes de Lula e dizem, além de outras manifestações preconceituosas e racistas, que “todos os nordestinos deviam tomar no **”, que “não muda nada na minha vida, sua pobre vagabunda” [vídeo aqui].

E continuaram: “e outra coisa, não vem reclamar depois que tu for demitida, tá bom? Não vem reclamar depois que meu pai te demitir, tá bom fofinha?”.

Sentindo-se impune e inalcançável pela Lei, uma adolescente ainda desafia: “tá, então que me gravem, não vai mudar nada na minha vida, vai levar o que pro tribunal?”.

E, considerando-se alguém protegida pelo judiciário e acima da Lei, ela diz: “o juiz que vai atender o caso é da minha família”.

Após estas afirmações, a adolescente segue ironizando que os 600 reais de Auxílio Brasil conseguem comprar no máximo um sorvete de grife e “papel higiênico folha dupla”.

Em outra manifestação, de adolescentes do Colégio Farroupilha, frequentado por filhos da burguesia e classe média alta de Porto Alegre, adolescentes xingam uma colega com impressionante ódio e violência: “filha da puta, vai tomar nesse teu cu, nojenta, fedida”.

Outro/a adolescente emenda: “vai toma nesse teu cu mocreia, sua chinelona, agnt q paga tua bolsa”.

À continuação, outro/a adolescente diz: “Te prepara pra comer lixo na rua”, recebendo de outro/a colega uma ameaça: “vamo corta tua bolsa”.

A agressão continua com uma saraivada de ataques racistas: “doentio é tu votar no Lula, mas ter iphone e estudar em escola particular”; “Vai embora do farroupilha petista, sai daqui”; “sai daqui chinelona”; “Tomara que passe fome”; “vai come o pão que o diabo amassou fudida”.

Esses adolescentes são reflexo, muito provavelmente, da [des]educação que recebem de seus pais nas suas próprias famílias que, como sabemos, são constituídas por “pessoas de bem”.

Eles estão reproduzindo práticas criminosas que possivelmente seus próprios pais praticam e, por isso, são adolescentes em conflito com a Lei, como define o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei nº 8.069/1990.

Esta Lei diz que, se o adolescente praticar ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar medidas socioeducativas “que têm por escopo: a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato infracional, sempre que possível incentivando a sua reparação; a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrições de direitos, observados os limites previstos em lei”.

Estas medidas “sugerem a reparação do dano à vítima, o alerta de que foi feito algo em desacordo com as regras de convivência social e contra o ordenamento jurídico brasileiro e busca-se despertar a consciência de que seus atos prejudicaram pessoas inocentes”.

O fascismo está profundamente entranhado no Brasil. Professar ideias racistas, fascistas e preconceituosas não é liberdade de expressão, porque é crime. É crime tipificado no direito internacional e, também, na legislação nacional.

Adultos e, também, crianças e adolescentes iniciadas pelos próprios pais na prática desses crimes monstruosos como o racismo, o fascismo e o nazismo, estão sujeitos à Lei.

A ninguém é concedido o direito de desconhecer a Lei e de, em nome dessa ignorância conveniente, praticar crimes. Muito menos a privilegiados abusadores que desde criancinhas são ensinadas a abusar e cometer crimes porque “o juiz que vai atender o caso é da minha família”.

Adolescentes em conflito com a Lei não são impunes. Devem ser punidos com base na Lei, sobretudo os adolescentes fascistas. Ou será que a Lei só deve valer para jovens e adolescentes que sejam pobres e não sejam fascistas?

Obs.: o Colégio Israelita de Porto Alegre publicou nota condenando as atitudes de alunos/as e expressando o compromisso e empenho em enfrentar tais práticas criminosas.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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