Redação –
A mostra é inaugurada às vésperas do lançamento de um livro homônimo, com um resumo da trajetória do artista. Confira a entrevista exclusiva para a Radio France International.
Artista brasileiro radicado há mais de 20 anos na França, Antonio Veronese inaugura nesta terça-feira (30) sua mais nova exposição, “Le Peintre du Regard” (O Pintor do Olhar, em tradução livre) na qual traz obras recentes de seu trabalho conhecido por retratar “as profundezas da alma humana”. A mostra é inaugurada às vésperas do lançamento de um livro homônimo, com um resumo da trajetória do artista, que tem obras espalhadas por várias regiões do mundo.
“É uma mostra com trabalhos novos, de uma fase em que a gente vai ficando mais velho e a pintura mudando um pouquinho”, afirma o artista em referência à oitava exibição na subprefeitura do 6° distrito da capital francesa. O local sempre foi uma referência para a obra de Veronese, que também já exibiu em outros locais de prestígio em Paris como o Carrousel du Louvre, Unesco e o Museu Histórico de Saint-Cloud.
As novas obras se mantêm fiéis à essência de sua pintura: a expressão do sofrimento humano, preocupação despertada desde seus primeiros anos de vida, na sua cidade natal, Brotas, no interior e São Paulo.
“Eu sempre tive uma sensibilidade muito grande, até desproporcionada com relação ao sofrimento dos outros. Eu me lembro que eu era pequeno, passava uma ambulância. Eu começava a fazer uma oração para quem estava dentro da ambulância. Meu pai dizia, meu filho, ele tem a família dele para fazer oração. Você não precisa ser o culpado de todas as dores do mundo. Mas eu acho que isso me um pouco enraizado em mim”, lembra o pintor ítalo-brasileiro.
Suas telas traduzem também suas experiências no Brasil como voluntário de presídios de meninas e meninos menores, no Rio de Janeiro e em Brasília.
“Eu falava da fome, da exclusão, da violência, mas eu não tinha tido experiência própria. E eu fui de encontro aos meus protagonistas nessas prisões, porque são vítimas absolutas da omissão do Estado brasileiro, que é incapaz de formar bem e incapaz de recuperar quando eles são desviados. Então eu fui tocado profundamente por essa realidade, que é uma realidade assustadora”, afirma o artista, que se formou em Direito e só passou a se dedicar completamente à pintura, sua grande paixão, a partir dos 36 anos, após um problema cardíaco.
Pintor autodidata, ele teve como grandes influências de Lasar Segal e outros mestres como o norueguês Edvard Munch e do anglo-irlandês Francis Bacon. A relação com sua arte é totalmente orgânica, garante.
“A pintura se manifesta de uma maneira quase que espontânea, quase que só trabalhando o hemisfério direito do cérebro, não o esquerdo. Então ela vai sair como? Como um vômito. De tudo isso que eu passei, de tudo isso que eu vi. E ela vai buscar, com a experiência, uma forma estética que possa convencer. Mas o primeiro movimento, o primeiro ato, ele é fruto de uma pulsão. Não existe nenhum tipo de racionalismo, racionalidade na primeira imagem que depois vai ser desenvolvida”, explica.
Perplexidade do mundo contemporâneo
Com obras expostas em lugares tão distintos como Paris, Dubai, Japão, Los Angeles, Suécia e Estados Unidos, Veronese acumula críticas elogiosas ao seu trabalho tanto da imprensa como da crítica especializada. Em 2011, lembra, o jornal The New York Times escreveu sobre suas obras: “Veronese não pinta rostos, pinta sentimentos”.
No seu trabalho, Veronese expressa sua perplexidade diante das tragédias do mundo contemporâneo, e explica por que prefere não dar nomes às suas obras, apesar das exigências do mercado e dos expositores. “Eu não consigo explicar, porque realmente a pintura, a escolha do que vai sair, ela é sem nenhuma preparação, sem nenhuma racionalidade. Ela é fruto de uma pulsão. Então se eu dou o nome, eu te direciono para uma coisa que nem eu sabia que existia, aquela imagem. Ela vem de uma pulsão inicial”.
Antonio Veronese decidiu se estabelecer na França, onde seu trabalho já foi catalogado como “expressionismo orgânico”. Mas curiosamente, conta, é o local onde menos vende suas obras.
“A classe média francesa é extremamente sofisticada, mas não sobra dinheiro. Os impostos são altos, então para ela é difícil comprar. As observações e os comentários dos franceses me orientam para a continuidade da exposição. Eles dizem, fazem comentários. Eu vejo o quadro que chama mais atenção, então essa sofisticação é francesa, é uma coisa extraordinária”, afirma Veronese.
Críticas ao Brasil
Essa acolhida o convenceu a fincar residência e seu ateliê na capital francesa, em 2004, deixando para trás seu país natal, alvo de algumas críticas. “Eu acho que a classe “A”, que teria sofisticação para comprar pintura no Brasil, está mais interessada em comprar bolsas de grife, de coisas assim”, lamenta.
No entanto, Veronese faz questão de destacar suas várias exposições no país, entre elas no Museu Nacional de Belas Artes, no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro e também no Museu da cidade de São Paulo. Além disso, tem um painel no Congresso Nacional e na Universidade Católica no Rio de Janeiro, chamado Just Kids, que é o símbolo do 10° aniversário do Unicef.
“Eu reclamo um pouco do Brasil, mas de uma certa insensibilidade das elites do que de uma colhida das instituições. Esse apoio que sinto aqui na França, das pessoas de classe média, do cinema, músicos que estão nas minhas exposições, é uma coisa que acalenta o coração da gente”, conclui.
Fonte: Radio France International (RFI)
ANTONIO VERONESE – Pintor brasileiro autodidata com uma obra considerável, realizou centenas de exposições individuais, tem obras expostas em numerosos museus, coleções públicas e privadas nos Estados Unidos, Suíça, França, Japão, Chile e Brasil. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Paris, França; Radicado na França desde 2004, antes de deixar o Brasil deu aulas de arte para menores infratores nos Institutos João Luiz Alves, Padre Severino e Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e no Caje de Brasília. Utilizou a pintura como forma de reabilitação psico-pedagógica dos adolescentes entre 12 e 18 anos com a bandeira” estética é remédio!”. Alguns dos trabalhos produzidos pelos jovens foram expostos em Genebra (Suíça), no Salão Negro do Congresso Nacional, em Brasília, e na Universidade de San Francisco, nos Estados Unidos. Em 1998, representando o Brasil no Encontro de Esposas de Chefes de Estado, cobrou da então primeira-dama, Ruth Cardoso, medidas para tirar das ruas crianças abandonadas, tendo recebido o apoio de Hilary Clinton. Pela denúncia da violência contra menores no Rio de Janeiro, que faz através de sua pintura e de engajamento constante deste 1986, Veronese foi convidado à Comissão de Direitos Humanos da ONU – em Genebra, para proferir palestra, lá causou grande indignação ao apresentar fotografias de 160 crianças, marcadas por cicatrizes massivas decorrentes da violência urbana, doméstica e policial.
Antonio Veronese, Italian-Brazilian painter, lives in France since 2004. He is the author of «Save the Children», symbol of th e 50th anniversary of the United Nations, and «Just Kids» symbol of UNICEF. As well of «La Marche», exhibited in the Parliament of Brazil since 1995, and «Famine», exhibited since 1994 at the Food Agriculture Organization for United Nations (FAO) in Rome.
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