Por Pedro do Coutto –
O presidente Lula da Silva, como estava previsto, terminou não se encontrando com Zelensky em Hiroshima, alegando que o presidente da Ucrânia foi quem não apareceu no encontro marcado para domingo, como forma de justificar o vazio que criou no panorama internacional. Reportagem de Leda Balbino e Dimitrius Dantas, O Globo desta segunda-feira, focaliza amplamente o assunto.
Lula perdeu a oportunidade de ampliar a repercussão mundial de sua presença no noticiário e também fechou um caminho para fazer parte de um clube da paz para colocar fim ao conflito que exterminou milhares de vidas humanas e destruiu cidades, vilas e bairros, incluindo hospitais e escolas ucranianos.
IMPACTO – O ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente brasileiro, terá pela frente uma extensa tarefa na tentativa de pelo menos reduzir o impacto negativo para o Brasil no cenário internacional e para o próprio Lula na política nacional. Celso Amorim, inclusive, já se encontrou com Zelensky em Kiev numa tentativa clara de evitar um distanciamento maior entre os dois países.
O presidente Lula da Silva provavelmente preocupa-se em não assumir uma posição contrária à da China, a seu ver, aliada da Rússia. Porém, não percebeu que a aliança da China com a Rússia vai até certo ponto, uma vez que Pequim já afastou a ideia de um conflito com os Estados Unidos e também o governo do país já se apresentou para integrar um grupo mediador do conflito desencadeado na Ucrânia pela Rússia.
Lula, penso, teme uma redução da parceria econômica e comercial entre o Brasil e a China. Mas a sensibilidade da questão seria facilmente contornável pelo Itamaraty, não atingindo a dimensão que Lula supõe que o preocupa demasiadamente, ao ponto de dizer que o Ocidente, leia-se Estados Unidos e a União Europeia, querem a guerra com base no fornecimento de armamentos ao governo Zelensky. Esquece novamente que a guerra resultou de uma invasão selvagem e violadora dos direitos internacionais e dos direitos humanos por parte da Rússia de Putin contra a Ucrânia de Zelensky.
EM CAMPO – O reflexo dessas declarações infelizes pode se fazer sentir no relacionamento de Brasília com Washington, Londres, Paris e Berlim. Lula ficou muito mal no episódio e o Brasil também, em consequência. Celso Amorim vai entrar em campo novamente tentando apagar o episódio, pelo menos parcialmente, em sua faixa mais sensível, inclusive no caso mais político do que econômico, o que envolve a democracia e a liberdade.
A Rússia violou o direito internacional e com isso atacou os direitos humanos, causando a morte de milhares de seres humanos. Bastava esse aspecto para que a Rússia fosse condenada universalmente, aliás, como está, sendo excluída de conferências internacionais, das olimpíadas, da Copa do Mundo e de várias outras competições esportivas numa série de países.
Lula colidiu frontalmente com a opinião pública brasileira e com o contexto democrático internacional. A sua atitude só acarretou prejuízos, inclusive a si próprio, na luta que trava com a extrema direita bolsonarista. Não condenando a Rússia e não se encontrando com Zelensky, Lula assumiu um posicionamento sombrio e enigmático.
CANDIDATURA – A decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro em vetar a candidatura do senador Flávio Bolsonaro, seu filho, a prefeito do Rio é destacada na edição de ontem de O Globo, reportagem de Marcelo Remigio, acentuando que a atitude causou perplexidade.
O ex-presidente da República teme uma possível derrota de seu filho para o prefeito Eduardo Paes, admitindo que Paes deve receber o apoio do presidente Lula. Seria assim uma derrota que ele interpreta também como sua. Mas esquece que o senador Flávio Bolsonaro possui mandato até janeiro de 2025 e, por isso, mesmo derrotado, permaneceria senador.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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