Por Amirah Sharif

Direito dos Animais.

As mascotes olímpicas são personagens, normalmente animais nativos, que representam a herança do lugar onde as Olimpíadas estão acontecendo.

O “salsichinha” Waldi

Mascote das Olimpíadas de Munique

A primeira mascote da história dos Jogos Olímpicos foi o dachshund (também conhecido como salsichinha) Waldi, criado pelo designer alemão Otl Aicher e modelado em um cachorro de verdade de nome Cherie von Birkenhof para as Olimpíadas de Munique, em 1972. Esta raça de cão popular na Alemanha foi escolhida por caracterizar resistência, tenacidade e agilidade, atributos importantes dos atletas. O cabelo e a cauda de Waldi eram azuis e seu corpo possuía cores da maioria das outras cores olímpicas.

Covardia

No entanto, nas Olímpiadas de Tóquio, tivemos o desprazer de saber que a treinadora alemã Kim Raisner acertou com um soco o cavalo Saint Boy, montado por outra alemã, Annika Schleu. A covarde treinadora primeiramente incentivou a amazona a chicotear o animal, que continuou se recusando a saltar. Posteriormente, quando o cavalo se aproximou da cerca ao redor da pista, Kim Raisner o atingiu com o punho.

A treinadora covarde que socou o cavalo

O esporte pentatlo moderno, para quem não sabe, é composto por provas de natação, esgrima, corrida, tiro e hipismo. Um elemento-chave é montar um cavalo desconhecido, com os atletas tendo 20 minutos para se relacionar com o animal, escolhido por sorteio, antes de competir.

A atleta alemã que chicoteou o cavalo

Final da competição: Saint Boy covardemente agredido, a britânica Kate French ergue a medalha de ouro, Anikka Schleu chora, Kim Raisner é expulsa dos Jogos Olímpicos de Tóquio pela União Internacional do Pentatlo Moderno (UIPM).

A atleta que ganhou a medalha de ouro

Dá para entender? Não, não dá! O cavalo não entende o porquê sai de seu habitat para ter de saltar obstáculos, parar, correr, fazer tudo “que seu mestre mandar”. A treinadora socou o animal. Adiantou? Não, e ainda ganhou uma expulsão. Que feio! Que triste! E mais triste é envergonhar seu país. Assim como apreciamos o designer alemão pela criação perfeita de uma mascote para as Olimpíadas de Munique, repudiamos a agressão da treinadora alemã ao cavalo Saint Boy. É preciso ter cuidado, porque lá, nas Olimpíadas, atletas, treinadores, enfim, todos representam seu país. A responsabilidade é maior. “A voz de um é a voz de todos’… A atitude negativa de um respinga no outro.

Pais de pets

No domingo passado, foi comemorado o dia dos pais. E hoje iria tratar exclusivamente sobre o tema pai de pets, porque havia lido certas considerações de especialistas que julguei interessante repassar, mas precisei chamar a atenção, primeiramente, sobre o ocorrido em Tóquio, pois foi um fato que causou indignação a todos os protetores de animais.

Neuropsicóloga e mestre em psicologia do desenvolvimento humano pela USP, Deborah Moss explica que esse contato entre humanos e pets remete a um amor que existe entre pais e filhos. Ressaltou que “os sentimentos humanos são projetados nesse animal e muitos que, por essência, são mais cuidadores ou protetores podem “transformá-lo” num filho de faz de conta, como na infância. Nesse sentido, não há problema, só é preciso tomar cuidado com o esperar algo de volta, as carências excessivas e a ideia concreta de que é um filho real”.

Como observadora do mundo, posso dizer que os pais de pets que conheço tratam de fato seus cachorros e gatos como filhos.

São homens que não tiveram filhos ou que tiveram, mas não moram com eles, são viúvos, solteirões, carentes, às vezes doentes, mas que não esperam algo de volta. Eles têm algo de volta: atenção e amor. Nesse aspecto, discordo da especialista, porque, na verdade, eles esperam algo de volta de seus filhos humanos. O que ouço é que os filhos estão longe, que não os procuram, que não ligam para eles. E o que vejo é o amor e companheirismo do pet a ponto de não sofrerem tanto com a ausência dos filhos humanos.

Numa de minhas andanças pelo mundo, conheci um senhor italiano, que passeava com seu cãozinho chamado Giuseppe. Contou-me que quando era jovem, disse à sua namorada que quando se casassem e tivessem seu primogênito, o nome seria Giuseppe.

Concluí que, como ele não teve filhos humanos, o “salsicha” Giuseppe seria o primogênito.

Cãozinho da raça de Giuseppe

Foi aí que fiquei impactada com a resposta:

– “Casei-me com aquela moça e tivemos um garoto. Ele se chama Giuseppe. É filho do mundo com a vida. Hoje é domingo, dia dos pais, e ele me ligou para dizer que gostaria de almoçar comigo, porque, em outros anos, estava sempre viajando, cuidando dos negócios. E eu disse que não poderia almoçar com ele, porque teria de passear com Giuseppe. O peludo Giuseppe me fazia sentir um pai jovem, esbanjando saúde e felicidade. Um pai que faz exercícios, conhece pessoas, interage, participa de redes sociais, enfim um pai com vida. O humano Giuseppe me faz sentir um velho inútil e solitário. Portanto, agradeci o almoço. Desejei-lhe boa sorte nos futuros negócios e desliguei rapidamente, porque havia marcado um encontro com um casal que quer que Giuseppe se case com a filha “salsicha” deles. E eu preciso conhecer minha futura nora, porque Giuseppe merece se casar com uma boa moça”.

Ri muito com a resposta, mas não esperei para conhecer a ”noiva” de Giuseppe. Preferi ir andando e conversando com minhas lágrimas pelo caminho. Vivendo e aprendendo…

AMIRAH SHARIF é jornalista, advogada, protetora dos animais e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. asharif@bol.com.br


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