Por José Carlos de Assis

A estrutura sindical celetista brasileira foi implodida. O que resta dela são escombros do tempo em que a representação política dos trabalhadores se apresentava orgulhosamente na forma de mais de dez centrais, cada um com recortes misturados das categorias profissionais. Quem liquidou com a estrutura sindical, como se sabe, foi Jair Bolsonaro, ao extinguir o imposto sindical. Isso privou os sindicatos, federações e centrais trabalhistas de recursos tirados compulsoriamente do bolso dos trabalhadores para se manterem.

Devo dizer que não estou emitindo opinião sobre a justeza da extinção do imposto sindical. Estou me referindo a um fato. Curiosamente a CUT, ainda hoje a maior central do Brasil, propôs essa extinção há muito tempo em suas plataformas políticas. Depois recuou assustada, já que proliferaram as centrais e ela já não era uma entidade monopolista com capacidade de sobreviver por conta própria. Agora, Inês é morta. Todas as centrais, federações e muitos sindicatos caminharão com choro e ranger de dentes para a cova.

A estrutura sindical dos trabalhadores se refletia na estrutura patronal, financiada também ela por trabalhadores. Agora, estão igualmente condenadas ao desaparecimento. Agora o Sr. Paulo Skaf, empresário sem empresa que comanda a Fiesp na base da compra de votos de sindicatos de empresas insignificantes, e de forma idêntica Eduardo Eugênio, da Firjan, vão ter que tirar dinheiro do bolso, inclusive o que foi acumulado de forma suspeita, para pagar o super-almoço com que vão saudar Bolsonaro na próxima semana.

A Fiesp é o que os promotores da Lava Jato e o juiz Moro chamariam de organização criminosa. Tive uns lances de sua atividade desde a Constituinte, quando assessores dela corriam pelos corredores do Congresso Nacional carregando pastas de dinheiro para comprar votos. Acho que foi nessa ocasião que José Serra e outros parlamentares identificados com a esquerda ou com os progressistas se converteram à dominância do capital financeiro, usando sua suposta proficiência econômica para atrair os menos seguros em questões técnicas.

Por sinal, Serra foi também o homem do pré-sal, que está sendo dado de presente a multinacionais norte-americanas. Também é suporte do projeto de securitização de dívidas públicas, que está sendo empurrado goela abaixo do Congresso Nacional para sancionar práticas espúrias já existentes em várias prefeituras e estados brasileiros. É fato que quase ninguém observa essas coisas, exceto o grupo de Maria Lúcia Fatorelli e Paulo Lindesay. Como são operações complexas, que não tem como explicar aqui, só resta a denúncia genérica.

Mas voltemos aos sindicatos. Foi o fato de a estrutura sindical ser paternalista que a enfraqueceu. Na época de Getúlio, quando foi criada, tinha sentido, pois o trabalhador precisava ser protegido, e o empresário, ainda muito fraco, também. Isso não faz sentido hoje. Uma estrutura sindical na qual uma central cuida do contrato coletivo de uma padaria é uma falsificação do próprio princípio sindical. Contudo, sem o sindicato não há financiamento da federação; e sem federação, não há financiamento de central sindical no pico da pirâmide.

Os trabalhadores e os empresários terão de reestruturar-se para manter relações recíprocas justas. Não vejo outra forma para isso exceto o sindicato de empresa. Se for uma empresa forte, haverá um sindicato de base forte para confrontá-la. Se for uma empresa fraca, o sindicato respectivo também será fraco. Claro, os trabalhadores, voluntariamente, poderão

fazer organizações de representação no plano político, seja em partidos formais, seja como grandes clubes de promoção de seus interesses coletivos e de seus valores.

As estruturas atuais tem vícios de parte a parte. Sindicatos, federações e centrais sindicais tornaram-se muitas vezes cabides de emprego e de nepotismo, e centros do peleguismo. O lado patronal, do ponto de vista moral, é pior: ele pega o dinheiro do imposto sindical, junta com o do Sesi e do Senai, bate tudo no liquidificador e daí sai uma pasta de financiamento e patifaria financeira centrada no interesse próprio e no interesse da corriola que garante o voto a Skaf, na Fiesp, e a Eduardo Eugênio.

O fato é que os presidentes da Fiesp e da Firjan, usando recursos públicos apropriados pelas federações e redistribuídos eleitoralmente, sempre foram grandes contribuintes de campanhas presidenciais. No impeachment, montaram uma caixa de R$ 500 milhões para comprar deputados, sendo R$ 300 milhões para a Fiesp, R$ 100 milhões para Firjan e R$ 50 milhões para Paraná e do Rio Grande do Sul. Se o impeachment foi essencial para a derrubada de Dilma, e a derrubada de Dilma foi uma ponte para a ascensão de Bolsonaro, ele deveria ser grato e não permitir que Paulo Guedes anuncie toda a hora a intenção de liquidar com a Fiesp, a Firjan e as outras federações.