Por José Macedo

O atual governo brasileiro ressuscita, em parte, teses, historicamente, superadas, do integralismo.

Para obter o beneplácito de seus seguidores, o Bolsonaro, de extrema direita, faz seguidas e amplas concessões a militares e a pastores neopentecostais. Então, por conveniência, troca o catolicismo, defendido pelo integralismo por essas igrejas, denominadas de evangélicas, cujos membros, de baixa capacidade crítica, são fáceis de manobra e obediência a suas palavras de ordem. Além da questão religiosa, função dessa parceria com os donos dessas “igrejas”, o Bolsonaro inclui em sua agenda e ação política, traços fortes de influência nazifascista, como o ódio a seus adversários, o racismo, a misoginia e o radical anticomunismo, este presente no nazismo e no integralismo.

Neste texto, enfatizo a visão moralista da doutrina integralista, em seus pontos centrais doutrinários, exemplo, o lema: “Deus, Pátria, Família”. O catolicismo, a importância da religião no Estado integralista e a radical postura anticomunista, estiveram presentes, nas décadas de “30”, “40”, “50” e “60”, do século passado, desaparecendo com o falecimento de Plínio Salgado, em 1975. Assim, Deus e a chamada família tradicional eram os pilares do integralismo e hoje, o deus de Bolsonaro, que se mistura com a “banalidade do mal, o ódio e desprezo à vida do outro e, nessa contradição desavergonhada, repete seu “Deus acima de todos”, engana os ingênuos pentecostais.

A tosca imitação de Bolsonaro, misto de integralismo e do nazifascismo revela seu nefasto caráter de impostor e de contumaz mentiroso.

Cresci, interessando-me pela leitura, ouvindo falar de política, da Guerra de Canudos, Lampião, lendo folhetins de cordel e Monteiro Lobato. Aos 09 anos, meu pai levou-me à Canudos. Minha pergunta, naquela visita, foi: Que fizeram aqueles sertanejos para serem, brutalmente, mortos e dizimados? Não me recordo da explicação de meu pai.

Hoje, as crianças perguntam: por que tantas pessoas morreram nessa pandemia e por que o povo ainda não está vacinado? De quem é a omissão?

Apesar da proximidade de minha família com o integralismo, nunca me interessei por essa doutrina; ao contrário, fazia e faço objetivas críticas.

As consequentes dificuldades e repressão, no curso dos 21 anos da ditadura (1964-1985) ao movimento estudantil, incentivaram-me à leitura, a realidade brasileira, filosofia, socialismo e história.

Na época, o Brizola era considerado pelos militares o maior inimigo do Brasil e rotulado de comunista. Fui seu seguidor, contrariando meu pai, antigetulista.

O Socialismo, mesmo o mais brando, ainda, é palavrão, dado o nível de ignorância, analfabetismo funcional e despolitização de nosso povo.

Falar de comunismo é o suficiente para xingamentos e ameaças, até hoje, uma assombração. A luta está sendo difícil, quando, quase 58 milhões de brasileiros elegeram o Bolsonaro, um indivíduo de índole fascista, tosco, autoritário, mentiroso e destruidor.

Nossas relações internacionais, nossa diplomacia, antes, respeitada, está sendo objeto de achincalho, execração e escárnio. Seu discurso na Assembleia Geral da ONU assustou o mundo pelas mentiras, de início ao fim. Todos perguntavam: “que país é esse? Quem é o destinatário desse discurso fantasioso”. Em meio às repetidas mentiras, disse: “meu governo não tem corrupção, o Brasil estava à beira do comunismo, eu o salvei”.

ONU. (Divulgação)

O dia 21 de setembro de 2021, na ONU, Bolsonaro auto definiu-se, mais uma vez, pequeno e estúpido, um governante despreparado para o momento difícil da humanidade e, particularmente, para nosso país, com 15 milhões de desempregados, 40 milhões na informalidade, 20 milhões, abaixo da linha da pobreza, 600 mil mortes pelo vírus da Pandemia. O Bolsonaro nega e fala de um país, imaginário, oposto ao nosso.

Para o presidente e para seus seguidores o que importa é a interpretação dos fatos, a versão, que é dada. A verdade torna-se subordinada à versão que lhe é dada, repito, e é corolário dos interesses pessoais dos detentores do poder, dos familiares e apadrinhados.

Diante dessa catástrofe de perda de consciência política coletiva, em pouco tempo, tornamo-nos párias, governados por um indivíduo esquisito e bizarro. Diante desses fatos, é iminente um basta, é iminente a recuperação de nossa autoestima e de nosso dever cívico de resistência. Sigo o ensinamento de Santo Tomás de Aquino: “justifica-se a resistência e até a força, para vencer a tirania e o extermínio da vida, promovida por governantes desumanos”.

Hoje, justifica-se essa resistência, como legítima defesa pessoal e de terceiros.

Quando, a mentira passa a ser a regra, a indignação, nesse vale de lágrimas, é substituída pela passividade, pela indiferença e pela omissão, passamos a ser cúmplices dos crimes sociais, ora conhecidos. Basta!

Nesse tempo da pós-verdade e das notícias falsas, a história cobrará de todos, por essa omissão, cumplicidade e passividade.

Em meus repetidos comentários e também, objeto deste texto, lembro-me da fábula, “A verdade e a mentira”, de origem da doutrina judaica. Assim, nossa resistência, nesse tempo de pós-verdade, de notícias falsas e de desgoverno, não nos resta outra alternativa, senão:

“A verdade nua e crua”.

JOSÉ MACEDO – Advogado, economista, jornalista e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.