Por Herédia Alves –
Quase 10 anos após o fechamento do lixão de Jardim Gramacho, que funcionou por quase 35 anos sendo fonte de sustendo de milhares de pessoas, os diversos projetos de recuperação ambiental e urbanística prometidos nunca saíram do papel e a comunidade local continua no mais completo abandono.
O Aterro sanitário de Jardim Gramacho chegou a acumular quase 100 toneladas de lixo, contava com mais de 1.500 catadores que retiravam do lixão o sustento de suas famílias, além de separarem toneladas de materiais recicláveis. O poder público ao encerrar as atividades no espaço prometeu ofertar novas fontes de renda e apoio aos catadores através de cursos profissionalizantes e revitalização do espaço que nunca saíram do papel.
O bairro de Jardim Gramacho localiza-se em Duque de Caxias, município que conta com o segundo maior PIB do Estado do Rio de Janeiro, entretanto o descaso com a região é gritante, seja na esfera Municipal, Estadual ou Federal, segundo moradores do bairro grande parte dos políticos só vai a região em períodos de eleitorais.
Retrato de um abismo social, no espaço parte da população ainda vive sem água encanada, rede de esgoto ou eletricidade, assim como grande parte das construções são improvisadas com pedaços de madeira e chapas de ferro, que nos coloca diante de uma realidade binimaginável aos olhos de quem vive na Zona Sul da cidade por exemplo.
Diante de tanta pobreza pouco se fala em medidas de combate ao COVID-19, tendo em vista que muitas dessas residências não contam com banheiro e a higiene pessoal é extremamente precária, muitos não possuem dinheiro para comprar álcool ou máscaras e concentram seus esforços em finalizar o dia com uma refeição no estômago.
A localidade que já foi enredo de novelas e documentários, atrai algumas Organizações da Sociedade Civil com planos e promessas de ajudar a região, mas muitos deles chegam, tiram fotos, fazem marketing e depois deixam o local.
Agem como se estivessem visitando um Jardim Zoológico relata Adenilson Barbosa morador do Jardim Gramacho a mais de trinta anos e Coordenador do Centro de Melhoramento Reflorescer que atua na comunidade a mais de 15 anos buscando fortalecer as demandas locais de forma voluntária.
Através do trabalho desenvolvido no Centro de Melhoramento Reflorescer, Adenilson, busca apoio para atender a população local nas mais diversas demandas, buscando doações de cestas básicas, cadeiras de rodas, fazendo agendamentos de retirada de documentos ou viabilizando projetos de educação e esportes para os moradores.
Segundo o coordenador do projeto Reflorescer, grande parte dos moradores não possuem registro civil, certidão de nascimento ou CPF e a falta desses documentos básicos, agrava a situação de quem pretende voltar ao mercado de trabalho ou buscar algum tipo de capacitação. Pensando nesse cenário ele busca apoio para implementar um espaço digital que vise a inclusão digital dessas pessoas, o que viabilizaria um projeto de inserção ao mercado de trabalho com criação e envio de currículos, além de um balcão de empregos.
Muitas famílias e crianças catam lixo para se alimentar e vivem em meio aos roedores, baratas e escorpiões que infestam a região. Grande parte dessas crianças estão fora da escola, principalmente após o início da pandemia, o que agravou o quadro de miséria e fome, já que centenas desses estudantes se alimentavam na escola. Aos poucos as aulas estão sendo retomadas, mas a “tal da aula on line” é uma realidade que não existe no Jardim Gramacho, relata Adenilson.
Dinny que também é morador do bairro, reclama da falta de apoio e projetos para os catadores que ainda vivem no espaço. Após o pagamento de uma indenização vergonhosa, fomos abandonados relata ele, que vê no fortalecimento dos projetos de reciclagem a mudança para o espaço.
O Brasil recicla apenas 3% de todo o resíduo sólido que produz, além de ser o quarto maior gerador de lixo plástico. Para Dinny, a criação de um espaço de desenvolvimento sustentável, onde se viabilize e fortaleça uma cooperativa que atue com a Reciclagem através da Logística Reversa de resíduos sólidos, fortaleceria a inclusão econômica e social dos cooperados, que atualmente sofrem com a fome e a miséria que assolam milhares seus lares.
Estamos vivenciando Enquanto a Comunidade do Jardim Gramacho for moeda de troca de votos e a miséria daquele local explorada em novelas, filmes e documentários sem um mínimo de preocupação com a dignidade daquelas pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, aquela local será um prato cheio para promessas políticas e fotos de quem jura que está ali para ajudar e faz das mazelas e misérias humanas pauta para suas redes sociais.
HERÉDIA ALVES é a titular desta coluna, advogada Criminalista e do Terceiro Setor, especialista em Direito Público, diretora de Projetos do Instituto Anjos da Liberdade, presidente Estadual do Instituto Nacional de Combate a Violência Familiar, advogada da Associação de Moradores da Vila Mimosa e membro da Comissão de Direitos Humanos OAB/ RJ.
MAZOLA
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