Por José Carlos de Assis –
Nossos banqueiros são pessoas de sorte. Em nenhuma parte do mundo, como no Brasil, se tem encontrado tantos canalhas em postos dentro e fora do Governo, verdadeiros bandos de vigaristas, oportunistas, ladrões, que fazem a mediação entre a administração pública desonesta e o sistema bancário. É aos banqueiros que grande parte da elite do país, jornalistas, promotores, policiais, formuladores de economia política, está vendida.
Meu desprezo não é tanto em relação ao vigarista comum, ao empreiteiro que superfatura obras, e mesmo ao cara que assalta o caixa do Tesouro por algum expediente desonesto. Meu desprezo é em relação ao formulador de economia e, sobretudo, ao patrocinador do sistema bancário que, com algumas penadas, tira bilhões de reais do povo e os transfere para as elites, na forma sobretudo de juros. Em uma palavra, meu desprezo é para os Paulo Guedes da vida.
Qual é a diferença entre um bandido como Paulo Guedes e seu patrão Bolsonaro e um ladrão comum que ataca o caixa do setor público? É uma diferença brutal. O bandido comum está no fim da linha do dinheiro. Já o ataque de Guedes refere-se a uma rede de relações bancárias e financeiras, que afeta o país inteiro. Nessa múltipla cadeia, tirando um pouquinho daqui e um pouquinho dali, o sistema bancário faz rapidamente bilhões e até trilhões.
É claro que não estou desculpando os bandidos comuns. Devem ser presos e processados. Só não pode acontecer o que aconteceu com a Lava Jato e, principalmente, com Lula: processo viciado e condenação sem prova de um inocente. Mesmo as empreiteiras teriam que ser perdoadas, em nome da tecnologia que geram e de centenas de milhares de empregos que criavam. Tudo isso, exceto a condenação de Lula, é passado. Já lucros de bancos são presente.
Os maiores e mais hipócritas protetores dos bancos é o Banco Central e sua cúpula. Ele trabalha em todas as frentes para assegurar lucro máximo ao sistema privado. Atualmente, está sob proteção direta de Paulo Guedes através de um descendente, o maior privatista brasileiro, Roberto Campos. Os dois são aquela espécie de canalhas que mereceriam ir em cana tão logo essa situação política no Brasil vire? Ou acham que não vai virar nunca?
Alguma forma de mobilização social vai varrer de cena essa canalha que desconhece os pobres. Eu próprio convoquei um grupo para fundar o Movimento Popular pela Justiça Social, centrado na ideia de acompanhar os movimentos anti-fascistas europeus e os movimentos anti-racistas e anti-discriminação nos Estados Unidos e na Inglaterra. Sabemos que, cedo ou tarde, chegarão ao Brasil. Se não formos provocados, podemos seguir uma estratégia Luther King; do contrário, marcharemos com os Malcolm- X!
JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.
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