Por Ricardo Cravo Albin –

“A cidade alagoana de Penedo é uma das joias mais bem preservadas deste país insensato” – cronista Eneida de Moraes a Pascoal Carlos Magno, 1960.

Acabo de viajar a uma das cidades de pequeno porte mais adoráveis do país, Penedo, antiga joia plantada por Mauricio de Nassau às margens da quase foz do rio São Francisco, fronteira natural dos estados de Alagoas e Sergipe. Minha família materna por lá habitou desde o Sec. XIX. Lá meus pais se conheceram e os dois filhos foram gerados. Ali aprendi também muitas das lições verdadeiras sobre assunto de meu interesse pela vida afora: a preservação dos bens culturais e urbanísticos que as cidades brasileiras no seu geral dissiparam muito mais que conservaram. Quase todas sem exceções, das grandes às pequenas e mesmo as de médio porte. E por quê? Hoje quase todos concordam com isso, ao menos os que pensam o Brasil com o rigor da honestidade intelectual.

Todos sabem que houve compreensão caolha do que se entendeu como “progresso atrabiliário e performático” plantado sem rigores metodológicos, com pés de barro inconsequentes sempre por aproximações ilógicas de modismos temporais ou mesmo por governantes demagógicos e megalomaníacos.

Penedo, por exemplo, foi salvo na sua integridade urbanística, que hoje é justamente seu maior encanto, graças a importância de sua preservação, porque se manteria afastado das famigeradas elucubrações do chamado “progresso de uma época apocalíptica”. Era a época das rodovias, das novidades a torto e a direita. E lembro-me bem de imaginadas pontes monumentais a atravessar o rio São Francisco com carros a 200km/h, ou aerobarcos à velocidades alucinantes. Até mesmo eram sonhados modismos de eventos gigantescos, quase sempre cafonas e responsáveis por barulhos ensurdecedores provocados por multidões ensandecidas. Minha cidade Penedo ficaria infensa a tais delírios.

Conhecendo Penedo, Alagoas.

Penedo, acabo de senti-la e ama-la mais uma vez, de fato foi preservada no seu melhor: no admirável perfil que configura harmonicamente o casario colonial e imperial com o “art. deco” e mesmo o “art nouveau” do final do Sec.XIX e inicio do Sec.XX. Mais uma vez não senti os buracos provocados pelo sumiço indesejado “daquele casarão residencial” ou “daquela casinha tão deliciosamente graciosa”. Guardei na memória tudo àquilo a que meu olhar sempre esteve acostumado por décadas. E, orgulhoso, cabe-me declarar: Penedo se preserva. O que não é só um alento como uma benção para o estado de Alagoas. E por certo para todo país que se quer íntegro. E que foi sempre vítima de maus tratos urbanísticos e de modismos do chamado falso progresso. E Penedo se preservou também porque a cidade embora pequena e nem tão cobiçada assim eleitoralmente, manteve um órgão que está atentíssimo às suas idas e vindas, a sua integridade, e que é a Casa de Penedo. Acabo de visitá-la. E pude comprovar sua presença discreta, mas vigilante e atentíssima. Como quase sempre acontece, atrás de uma grande ideia estará sempre um benfeitor, um iluminado, a irradiar luz, sabedoria, conhecimentos e reconhecimentos.

Esse benfeitor de Penedo tem nome e sobrenome: Francisco Salles. Embora médico afamado e morando em Brasília, dedicou-se com unção a fazer a Casa de Penedo, que hoje ostenta dois museus na principal rua pública da cidade. Chico Salles, orgulho-me em declarar aqui, foi meu melhor amigo de infância e colega inicial de primeiras letras do colégio Diocesano, do qual saí aos doze anos para adentrar o internato do Colégio Pedro II de São Cristóvão no Rio. Salles, infelizmente morreu a poucos anos, legando a todos nós penedenses um grande vácuo mas eterna admiração por sua obra imorredoura em beneficio da cidade.

A casa de Penedo estará sempre incrustada no coração – e nas atenções – dos que amam esta cidade, tão decantada em prosa e verso por intelectuais deste país e dos mais variados povos do mundo.

Agora mesmo, assisti às filmagens da cineasta Celso Brandão, que acaba de assentar suas lentes de documentarista premiado, sobre a portentosa beleza da cidade que se mantém graças aos céus, ainda preservada. E sempre inigualável.

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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