Por Miranda Sá

“Pilatos fez o que fez, e ainda entrou na oração” (Falcão)

No tempo em que a mídia semi-monopolista se agita citando ex-bbbs, bbbs e futuros bbbs, é tempo de se falar sobre a fama. Para os donos e controladores das tevês patrocinadoras do show dá muito dinheiro e, além do prêmio para os protagonistas proporciona “fama”. Muitos viram celebridades.

A Celebridade é prima-irmã da Fama. É repetida como elogio por centenas de vezes pela meia dúzia de três ou quatro cronistas esportivos, políticos e sociais que ocupam espaço na mídia; mas sofreu o inteligente comentário de Paul Laffitte dizendo que esta presença na imprensa dura até surgir outro qualificativo para seus eleitos.

Quando é autêntico, não precisa dos camelôs do fuxico. Lembro que Einstein, conquistou o galardão de maior cientista do século sem precisar da mídia e ganhou dois prêmios Nobel apenas pelo seu trabalho.

Albert Einstein, físico teórico alemão que desenvolveu a teoria da relatividade geral, um dos pilares da física moderna ao lado da mecânica quântica. (Fonte: Wikipédia)

Personalidades como o cantor Carlos Gardel e o ator Rodolfo Valentino falecidos ainda jovens, deixaram milhares de viúvas saudosas, exclusivamente com a sua arte.

Quando a Celebridade é circunstância da publicidade de quem adquiriu popularidade e prestígio, dura pouco; a Fama vai além, não vigora pelas 10 mil repetições robotizadas; vence pelo espontaneísmo e duplicidade, primeiro, por ser original e depois por ser negativa ou positiva.

Gosto muito de citar um exemplo de fama publicado pelos jornais nos meados do século passado, reportando o caso ocorrido quando a rainha da Inglaterra (ainda no poder) visitou a Suécia. Entre os membros da Comissão de Recepção estava a deputada social democrata Ulla Lindstrom, que se recusou curvar-se diante da visitante como reverência protocolar.

Entrevistada pela imprensa, a Parlamentar declarou: -“Não sou uma lagarta obsequiosa; sinto-me orgulhosa em receber a rainha, mas não vejo um motivo para trata-la como outra coisa senão como uma mulher que exerce o seu ofício, como eu exerço o meu”.

Na semana seguinte uma pesquisa de opinião pública questionando sobre a atitude de Ulla registrou a aprovação de 85% dos suecos que assim tornou-se famosa. A rainha Elizabeth, famosa desde que assumiu o seu reinado até hoje, ouviu um relatório sobre o caso e, mostrando-se realmente soberana, comentou: – “É melhor a sinceridade do que a hipocrisia”.

O verbete Fama, dicionarizado é um substantivo feminino de etimologia latina (fáma, ae) “o que se diz de alguém, reputação boa ou má”. Vem do verbo phánai, “alardear pela palavra”, relacionando-se com uma deusa romana que vivia num palácio de bronze com inúmeros orifícios, que via tudo o que se passava entre as pessoas.

Temos em português o mesmo conceito do Latim, importância, notoriedade, renome, reconhecimento, reputação…. E no brasilês do professor José Carlos Bortoloti registra brilho, cartaz, glória, ibope….

Na sua sábia visão, Einstein nos deixou um pensamento brilhante de como somos vistos pelos outros. Disse: – “Se a Teoria da Relatividade se mostrar correta, os alemães me chamarão de alemão, os suíços dirão que sou suíço e a França me rotulará de grande cientista; se estiver errada, os franceses dirão que sou suíço, os suíços me chamarão de alemão e os alemães me acusarão de judeu. ”

Reconhecemos que a publicidade muito contribui para granjear fama a custo da criatividade de propagandistas profissionais, conquista-se o qualificativo genérico da Fama, “Popularidade”. É como fazem os políticos brasileiros com o dinheiro dos “fundos” partidários e eleitorais instituídos por eles próprios e pagos pelo contribuinte.

O presidente do Brasil, Getúlio Vargas, e dos EUA, Franklin Roosevelt, a bordo do USS Humboldt, durante a Conferência do Rio Potenji, com Harry Hopkins, conselheiro de Roosevelt (à esquerda) e Jefferson Caffery, embaixador dos EUA no Brasil (à direita) – Wikipédia

Este prestígio comprado, porém, tem pouca duração.  A História registra poucos homens públicos brasileiros que conquistaram a Fama.

Que me lembre, além dos imperadores e da princesa Izabel na Monarquia, a memória histórica da República só nos trouxe Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br


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