Por Lincoln Penna

Ao dizer que o presidente Lula era um analfabeto e jumento para defini-lo, Jair Bolsonaro não surpreendeu ninguém, pois este foi e tem sido sua atitude em matéria de divergências políticas que o afastam de objetivos que persegue faz algum tempo.

Essa manifestação de Bolsonaro ocorreu por ocasião do ingresso de um parlamentar no partido que se encontra filiado, o PL, e no qual desfruta de carta branca do presidente desta legenda. Esta fala é uma demonstração clara de duas atitudes: o desespero por ter sido escanteado das disputas políticas pelo menos para os próximos pleitos municipais e federais; e, por outro lado, é reveladora do caráter assumido sem rodeios de que se vale como recurso intimidatório típico, por sinal, do fascismo como prática política.

O que deve acautelar a todos os democratas é precisamente o respaldo que tais aparentes rompantes dirigidos aos seus opositores possui numa sociedade em que há receptividade só explicável em razão de ela própria, sociedade, ter inoculado o vírus da intolerância.

O grave nas declarações do ex-presidente é o fato de ter sido até então o político que não só reitera os conteúdos antidemocráticos como desde o término dos regimes fascistas tem sido o que mais verbaliza discursos agressivos e, não obstante, contar com amplo apoio de seus correligionarios.

Bolsonaro não é uma liderança que tenha a faculdade de construir um projeto lastreado em fundadas concepções doutrinárias. É mais a representação de um fascismo societal, como definiu o sociólogo Boaventura de Souza Santos. Encarna, portanto, uma poderosa corrente de opinião avessa a mudanças que nos levem a ampliar direitos e deveres de modo a alcançarmos a democracia ampliada, pois fora esta a democracia formal e restrita tende a favorecer os seus algozes, que se apropriam de seu conceito para desqualificá-la.

Bolsonaro não é apenas truculento. É a expressão de uma ideologia que tem grassado e se irradiado no corpo de sociedades de profundas desigualdades sociais nas quais os básicos valores civilizatórios são não somente desprezados como espezinhados. É ao mesmo tempo um sintoma do empobrecimento das práticas políticas em grande parte fruto de um objetivo claro de quem não tolera a diversidade de ideias e busca reforçar as tradições mais regressistas com vistas a impedir as mudanças estruturais que atendam a velhas e novas demandas da humanidade.

Criança com farda da Polícia Militar de MG e arma de brinquedo cumprimenta o então presidente Bolsonaro. (Reprodução)

Conviver com essa realidade que brutaliza o embate político impõe às forças sociais democráticas uma tarefa indispensável, a de unificar as diversas tendências antifascistas no mutirão em defesa da vida, de sua pluralidade e diversidade, fundamentais para a superação dos desafios que não são poucos.

Falas como essas proferidas com o intuito de irradiar o ódio são indignas, sobretudo quando pronunciadas por quem exerce um papel de liderança junto a uma parcela numerosa da população brasileira.

Não é a quem assim se comporta, no caso o ex-presidente, que devemos exigir respeito às diferenças de opinião, mas ao conjunto da sociedade que precisa repudiar as grosserias dos que substituem os argumentos pela violência como instrumento de contestação política.


AGENDA

LINCOLN DE ABREU PENNA – Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP); Conferencista Honorário do Real Gabinete Português de Leitura; Professor Aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Presidente do Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECON);  Vice-presidente do IBEP (Instituto Brasileiro de Estudos Políticos); Colunista e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre.

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