Por Pedro do Coutto –

Uma pesquisa do Instituto da Democracia, objeto de reportagem de Bianca Gomes, Marlen Couto e Nikolas Yury, publicada nesta segunda-feira pelo O Globo, revela que o governador de São Paulo, Tarcísio Freitas, o senador Sergio Moro e a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro são os três mais cotados na oposição para enfrentar o presidente Lula da Silva nas urnas de 2026, quando ele buscará a reeleição.

Surpreende a boa aceitação de Michelle Bolsonaro junto ao bolsonarismo, pois ela registra 11% das intenções de votos, enquanto o governador Tarcísio de Freitas alcança 17 pontos e Sergio Moro 12%. Romeu Zema registrou seis pontos. Michelle Bolsonaro surge bem entre os números do Instituto da democracia porque ela não tem a mesma exposição na imprensa do que o governador de São Paulo e o ex-juiz da Lava Jato.

PROJEÇÃO – O seu percentual, assim, quase igual ao de Moro, está bem projetado na corrente bolsonarista que fatalmente está em busca de um candidato ou candidata, já que Bolsonaro foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral. O governador de Minas, Romeu Zema, está fraco, e uma das principais razões de seu enfraquecimento está nas declarações que fez contra as populações do Norte e do Nordeste do Brasil.

A oposição está em busca de um candidato, pelos números talvez uma candidata, pois ao meu ver a candidatura de Tarcísio de Freitas vai depender dos números do Datafolha e do Ipec no ano da própria sucessão presidencial…

Se Lula estiver muito forte, como é o esperado, Tarcísio de Freitas deve preferir disputar a eleição ao governo de São Paulo, aguardando mais quatro anos para o voo rumo ao Planalto. Nesta altura do tempo, tem que se imaginar qual será o candidato do próprio Lula à sua sucessão.

CONFRONTO  – A pesquisa do Instituto da Democracia parece basicamente lógica, pois de acordo com o que o termômetro de hoje apresenta, o bolsonarismo não possui nomes fora do contexto assinalado para escolher. Sob o ângulo de Lula, o seu sonho provavelmente é enfrentar Sérgio Moro nas urnas populares; oportunidade que vai abrir espaço para que destaque fortemente como o juiz da Lava Jato o condenou, mas a sua condenação foi anulada por parcialidade pelo Supremo Tribunal Federal.

Dificilmente Michelle Bolsonaro, que no passar do tempo deve superar Sergio Moro, poderá emocionar os eleitores e eleitoras ao ponto de um embate intenso com o atual presidente da República. Enquanto não há dúvida sobre o candidato do PT e de sua aliança com Geraldo Alckmin, sobretudo em razão da base paulista, não vejo como possível o surgimento de qualquer outro candidato pela legenda do PL comandada por Valdemar Costa Neto. Com a pesquisa do Instituto da Democracia, e com as pesquisas que o Datafolha e o Ipec farão nas próximas semanas, teremos desde agora uma visão bastante nítida do futuro próximo em matéria de eleições.

CASO MAURO CID –  Reportagem de Julia Chaib, Folha de S. Paulo de ontem, destaca que a cúpula do Exército, tendo à frente o general Tomás Paiva, está interpretando o acordo de delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid como uma etapa positiva traduzindo uma oportunidade e viabilizando a possibilidade de o fato transformar-se numa página virada na história atual, abrindo um novo caminho para uma pacificação necessária ao equilíbrio político e ao jogo democrático.

O Exército cumpriu a decisão do ministro Alexandre de Moraes afastando o tenente-coronel Mauro Cid de qualquer cargo ou função na Força, mas mantendo a moradia militar a que tem direito e a sua remuneração, aliás como é natural, pois ele ainda não foi julgado.

A decisão do ministro Alexandre de Moraes foi recebida com naturalidade pelo Exército, uma vez que Mauro Cid responde a vários inquéritos por fatos simultâneos. Os meios militares certamente repudiam tais atitudes, de acordo inclusive com manifestação do general Tomás Paiva, destacando que o Exército não aprova desvios de conduta.

INSEGURANÇA –  Na Folha de S. Paulo, edição de ontem, Rogério Pagnan, Daniel Mariani e Augusto Conconi publicaram reportagem sobre a decisão dos Correios de evitarem a entrega de correspondência em várias zonas da cidade de São Vicente que se demonstram inseguras para a entrada de funcionários em suas ruas.

O governador Tarcísio de Freitas afirmou que está concluindo um plano para reverter essa situação e ampliar o número de soldados na Polícia Militar. No Rio, a cautela dos Correios é a mesma em relação a vários Ceps.

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Lula diz que Bolsonaro estava envolvido até os dentes na tentativa de golpe

Charge do Laerte (Arquivo do Google)Perguntado por  jornalistas na tarde de segunda-feira em Nova Delhi, na Índia, sobre a delação do tenente-coronel Mauro Cid, o presidente Lula da Silva disse – reportagem de Patrícia Campos Mello, Folha de S. Paulo de ontem – que o ex-presidente Jair Bolsonaro estava envolvido até os dentes na tentativa de golpe de Estado deflagrada no dia 8 de janeiro com a invasão de Brasília.

“Estava altamente comprometido. A cada dia vão aparecer mais coisas e vamos ter mais certeza de que havia a perspectiva de um golpe contra a democracia”, afirmou. Lula destacou também que Bolsonaro só não estava pensando em golpe quando se encontrava preocupado em vender as joias que recebeu como presente. As declarações do presidente da República dão sequência política ao processo instaurado pelo ministro Alexandre de Moraes no Supremo Tribunal Federal.

CONTESTAÇÃO  – Inclusive, revela Julia Chaib, Folha de S. Paulo de ontem, que os advogados encarregados da defesa de Bolsonaro já começaram a estudar a hipótese de contestar a delação de Mauro Cid à Polícia Federal.   Logo, constata-se que a posição do ex-presidente da República é plenamente defensiva e se volta agora para tentar contestar as evidências que forem apresentadas por Mauro Cid.

O propósito básico não é contestar a existência de fatos, mas a legitimidade do depoimento do ex-ajudante de ordens que pode comprometê-lo fortemente, incluindo além da falsificação dos comprovantes de vacinação, venda das joias e projeto de decreto contra a Justiça Eleitoral, também o encontro com o hacker Delgatti no Palácio da Alvorada. O encontro tinha como objetivo achar um caminho falsamente técnico para contestar ou intervir nas urnas eletrônicas.

INVASORES –  A Procuradoria-Geral da República manifestou-se pela condenação dos que invadiram e cometeram depredações em Brasília no dia 8 de janeiro, pela tentativa de desordem e a prática de um golpe de Estado para implantar um regime autoritário no país

A PGR assinala a existência de um conjunto probatório que não deixa dúvidas quanto ao projeto subversivo das manifestações e depredações. As primeiras condenações evidentemente abalarão a posição dos demais acusados pelo vandalismo e pela ideia de atentar contra a Constituição e a democracia.

CENTRÃO –  Numa excelente reportagem no O Globo desta terça-feira, Lauriberto Pompeu revela que apesar de ter aberto espaço para o PP e o Republicanos, o presidente Lula da Silva ainda vai encontrar dificuldades para aprovar a sua agenda econômica no Congresso, sobretudo na Câmara dos Deputados.

O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, está prevendo a necessidade de ainda mais entendimentos, inclusive no que se refere à reforma administrativa e às resistências aos projetos do ministro Fernando Haddad. Apesar da substituição de Ana Moser por André Fufuca no Ministério dos Esportes, o PP, partido de Arthur Lira, ainda deseja mais participação no governo. Não acaba nunca essa atitude. Lula deveria estar preparado para isso.

LOJAS AMERICANAS – Bruno Rosa, O Globo, revela na edição desta terça-feira que desentendimentos e trocas de acusações entre ex-dirigentes e dirigentes das Lojas Americanas estão dificultando um acordo para a recuperação da empresa.  Na Folha de S. Paulo, a reportagem é de Pedro Lovisi e abrange também críticas do atual comando da Americanas à ação ajuizada pelo Bradesco.

É incrível o que acontece. Não tem a menor lógica que bilionários em dólar, como Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira desconhecessem a dívida de R$ 42 bilhões acumulada há vários anos e a falsificação de balanços anuais na escala de R$ 20 bilhões. A impressão que fica é que a confusão pode fazer parte de um jogo exatamente para tumultuar o acordo sobre o qual se sustenta a recuperação judicial.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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