Por Jeferson Miola

O Itamaraty substituiu ocupantes de postos diplomáticos estratégicos e de relevância diferenciada para a política externa brasileira. Muitos desses postos eram ocupados por bolsonaristas engajados.

Na primeira semana do governo Lula foram oficializadas as remoções do embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, e da cônsul-geral em Nova York, Maria Nazareth Azevêdo. Nesta leva também foi demitido Menandro Garcia de Feitas, general da reserva do Exército indicado por Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Tel Aviv.

Também foram anunciadas mudanças nas embaixadas em Londres e Paris, assim como na missão brasileira na ONU.

O Itamaraty, no entanto, ainda mantém o embaixador Otávio Brandelli como representante do Brasil na OEA – Organização dos Estados Americanos em Washington. Brandelli foi vice-ministro do lunático Ernesto Araújo na gestão que desmoralizou a política externa brasileira e isolou o país.

Tendo sido um dos expoentes daquela política, Brandelli não só simboliza a antítese das diretrizes integracionistas do governo Lula para a região, como encarna a imagem do projeto executado, de desmonte dos organismos de integração e cooperação regional [MERCOSUL, UNASUL, CELAC], de conflitos com países vizinhos e de interferências indevidas, como o apoio ao golpe da extrema-direita boliviana que derrubou Evo Morales.

Foi durante a gestão Araújo/Brandelli que o Brasil suspendeu a participação na CELAC – Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, em janeiro de 2020.

Logo no início da gestão bolsonarista o Itamaraty participou ativamente, ao lado dos EUA e do secretário-geral da OEA Luís Almagro, da iniciativa tresloucada de Donald Trump para invadir a Venezuela, derrubar o governo constitucional e empossar o autoproclamado presidente Juan Guaidó. Um ato, em suma, de guerra.

Na ocasião, o embaixador Rubens Ricúpero denunciou que aquela postura representava “uma mudança de mais de 200 anos de tradição de comedimento, senso de medidas e de proporção” do Itamaraty. Uma postura que “desmoraliza o Brasil não perante a Venezuela, mas perante o mundo. Eu nunca vi nada parecido”, declarou.

À continuação, e ao arrepio do direito internacional, o Itamaraty reconheceu Maria Teresa Belandria como embaixadora do falso-governo de Juan Guaidó, que sequer foi reconhecido pela ONU.

No ano seguinte, em abril de 2020, a gestão Araújo/Brandelli decidiu declarar como persona non grata os funcionários da embaixada da Venezuela em Brasília. Em clara violação do direito internacional, exigiram a saída dos diplomatas venezuelanos do país em 48 horas e acionaram a PM/DF para desocupar à força a embaixada da Venezuela.

O presidente Lula promete retirar o Brasil da condição de pária internacional com a execução de uma política externa oposta à política desastrosa e conflitiva do governo anterior. O relançamento do Brasil no mundo tem como centro estratégico a integração latino-americana.

O governo brasileiro faz um esforço extraordinário de reconstrução do Itamaraty e retomada do protagonismo virtuoso do país na geopolítica mundial. Diplomatas que foram orgânicos ao governo fascista-militar e funcionais à desastrosa política externa bolsonarista são incompatíveis com este esforço; quando não antagônicos a ele.

É contraproducente, por isso, diplomatas com tal perfil receberem missões estratégicas, como a representação na OEA – cujo secretário-geral, aliás, é um agente desestabilizador da região que atuou em parceria com os agentes do governo anterior no processo de desmonte da integração regional e de desestabilização de países.

JEFERSON MIOLA – Jornalista e colunista desta Tribuna da Imprensa Livre. Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial.

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