Por Ricardo Cravo Albin –
“Defender a liberdade da imprensa e a integridade de seus profissionais é o mais claro exercício para se defender a democracia.” – Merval Pereira.
Deste espaço, volta e meia abordo a quantas andam a liberdade para se fazer jornalismo livre no Brasil, tanto quanto a integridade dos profissionais que o produzem. E o essencial sempre me preocupou, a livre veiculação da expressão. Ou seja, censura às ideias, jamais.
Essa observação, um tanto fora dos assuntos urgentes que comento a cada semana, pode parecer que não é prioritária, mas é, sim. Embora hoje comece a semana do Carnaval…
E por uma razão que consternou a todos nós que escrevemos por décadas para o público. Isso acabou de ocorrer no momento em que a ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), e outras organizações nacionais e internacionais, acabaram de entregar ao governo relatório com preocupações sombrias sobre a liberdade de imprensa no Brasil. Esse estudo alerta para “a grave situação de insegurança vivida pela cobertura jornalística no país, muito em especial agudizada pelos atos golpistas do dia 8 de janeiro”.
As organizações em defesa da imprensa apuraram 45 episódios de agressões físicas, confisco ou furto de material de trabalho (câmeras fotográficas e filmes em especial) com o objetivo de impedir a divulgação dos fatos criminosos perpetrados pelos vândalos apoiadores de Bolsonaro. Isso tudo relaciona eventos dos dias entre 8 a 11 de janeiro, depois da invasão das sedes dos Três Poderes. A ABRAJI vai além, considerando um período ainda mais alongado, ou seja, desde o segundo turno das eleições em 30 de outubro. Houve, contabilizados pelos jornalistas, mais de cem (100) casos de cerceamento de trabalho da imprensa, atentem para a gravidade, na cobertura 1- dos bloqueios das estradas e, 2- nos acampamentos diante dos quartéis do exército em várias capitais. Foram inúmeros os pedidos ao Ministério da Justiça e ao SECOM impetrados por nossas associações de imprensa. O primeiro dos quais a integridade física de jornalistas e de seus veículos, sempre. Muito especialmente quando em cobertura específica de atos antidemocráticos e de quebra-quebra por turbas radicais.
Logo se seguem pedidos humanitários de comportamento, como espaços apropriados para jornalistas testemunharem do que teriam sido vítimas, além de investigações rápidas e acreditadas. Tanto quanto a exigência de punibilidade para culpados de agressões e/ou confiscos, destruição e roubos de material jornalístico. Sugerem ainda os profissionais a criação de um “Observatório da Violência contra os Jornalistas”. Nossas entidades ainda solicitam ao governo federal que se abstenham de atos ou discursos contra jornalistas ou veículos de imprensa, quaisquer que sejam suas opiniões a favor ou contra governos eventuais no poder.
Aliás, devo observar aqui que iguais reclamos a todos os países do mundo são apregoados dia a dia pelo Pen Clube Internacional, do qual o Brasil faz parte com destacada atuação em defesa da liberdade de expressão e contra a censura do pensamento ou seu cerceamento possível.
A imprensa do país, a grande ou a pequena, a escrita ou televisionada, confia em que o governo do Presidente Lula seja o principal guardião da liberdade de expressão e da integridade dos jornalistas. O que vale dizer, da Democracia em si mesma, como ficou claríssimo há pouco na declaração conjunta dos Presidentes Biden e Lula em Washington em favor da luta pela democracia.
Proteger-se a imprensa livre e assegurar-se a integridade física de seus profissionais é a maneira mais direta de se manter a democracia, como ordena a Constituição.
P.S.1– Já tardiamente, nunca será demais verter uma lágrima pelo desaparecimento de Zé Luiz Magalhães Lins. Pude presenciar pessoalmente na Embrafilme seu devotado engajamento pelo desenvolvimento e ajuda ao filme brasileiro. Ele apoiou com paixão o fazer-se cinema por essas bandas. O que o transformaria em raro banqueiro que via muito além de seus lucros comerciais. Ele investiu no Brasil e em sua consolidação cultural. Meu abraço sentido à família, em especial José e Vivi Nabuco.
P.S.2– Ótima notícia me traz a velha amiga Cacá Monteiro. Ela e Mário vão ajudar a reconstruir o amado Canecão. Agora a ser erguido pela empresa Bonus Track Entretenimento e Klefer, que ganhou o leilão para viabiliza-lo, com a segurança dos nomes dos empresários Luiz Oscar Niemeyer e Luiz Guilherme Niemeyer.
P.S.3– Retorna às livrarias, finalmente uma autora que fascinou gerações de artistas e intelectuais, além de desafiar convenções e apregoar a mulher moderna além de seu tempo: Adalgisa Nery. Já está nas bancas (pela J.O) “Do fim ao princípio – Poesias Completas”. A inesquecível Adalgisa foi minha amiga e em 1967 fez comigo o seu depoimento para a posteridade do Museu da Imagem e do Som. Entrevistada, nada mais nada menos que por Carlos Drummond de Andrade, seu admirador e amigo de velha data.
P.S.4– Ao encerrar esta coluna, soube da morte do publicitário Mauro Salles, velho amigo que nos ajudou a criar o CONAR (Conselho Nacional da Auto Regulação Publicitária) como ferramenta a mais na luta contra a censura. Mauro, doce figura, foi coordenador da campanha de Tancredo à presidência e Presidente da ABP (Associação Brasileira de Propaganda).
Saudades.
RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.
Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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