Por Pedro do Coutto –
Os fatos que se desenrolaram na última semana indicam que o governo Lula da Silva não enfrentará oposição no Congresso. Essa tendência ficou clara com o posicionamento revelado pelo governador de São Paulo eleito, Tarcísio de Freitas, que – reportagem de Bianca Gomes, Gustavo Schmitt, O Globo deste domingo – ao afirmar que decidiu distanciar-se do bolsonarismo radical e blindar o seu secretariado contra influência de tal setor.
Sem dúvida alguma, constitui um aceno para se estabelecer uma relação de cordialidade e cooperação administrativa entre o governo de São Paulo e o Palácio do Planalto, em Brasília. Na realidade, é fundamental essa aproximação entre o maior polo de produção industrial brasileira e o governo que se instala em 1º de janeiro de 2023.
APROXIMAÇÃO – Mas não foi só esse fato que indica a inexistência de oposição radical ao governo de Lula da Silva. A própria entrevista de Valdemar da Costa Neto sobre o posicionamento do PL deixou clara a existência de uma aproximação progressiva entre o partido de Jair Bolsonaro e o governo de Lula.
Além desse aspecto, há casos de aproximações mais claras de convergência, sobretudo tendendo até a ganhar mais intensidade depois da nota conjunta de sexta-feira das Forças Armadas defendendo a liberdade de manifestação e indiretamente criticando decisões do ministro Alexandre de Moraes para coibi-las.
Os comandos militares mudarão a partir de janeiro, mas de qualquer forma a nota criou preocupação nas forças vitoriosas de outubro. Somados esses fatores, verifica-se que a não oposição ao governo Lula tacitamente constitui uma medida preventiva contra o ressurgimento de qualquer vontade política que colida com o regime democrático do país.
BID NÃO ADIA ELEIÇÃO – O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) informou que ignora a pressão ensaiada pelo ex-ministro Guido Mantega e não adiará a eleição do novo presidente do BID marcada para o dia 20, e inclusive mantém a indicação de Ilan Goldfajn para a presidência do banco.
Ilan Goldfajn, por seu turno, disse que não retira sua candidatura e assim vai disputar uma eleição com poucos rivais de países latino-americanos. Reportagem de Manuel Ventura, Janaína Figueiredo e Vítor da Costa, O Globo deste domingo, focaliza amplamente o assunto. Da mesma forma, publica ampla matéria na Folha de S. Paulo, Ricardo Della Coletta.
SEM MANIFESTAÇÃO – O presidente eleito, Lula da Silva, não se manifestou, da mesma forma que o vice-presidente, Geraldo Alckmin, que coordena os grupos de transição dos quais faz parte o ex-ministro Guido Mantega.
Em artigo publicado no O Globo, Miriam Leitão focaliza o assunto e assinala que Mantega e quem lhe delegou tal tarefa sinuosa e absurda, digo, revelou desconhecer que o nome de Ilan Goldfajn tem o apoio de integrantes do grupo econômico que faz parte do processo de transição. Mas, o episódio não abala a formação do novo governo e nem a sua trajetória num mar de calmaria política.
MERCADO DE TRABALHO – Numa bela reportagem publicada neste domingo na Folha de S. Paulo, incluindo entrevista com a ex-secretária de Desenvolvimento Social de São Paulo Laura Muller Machado, Idiana Tomazelli destaca a importância essencial da inclusão de trabalhadores, especialmente os de renda menor, no mercado de trabalho.
É fundamental, digo, para que essa inclusão social com carteira assinada pelo menos evite o crescimento das famílias em estado de extrema pobreza e também de pobreza no programa Bolsa Família. Além desse aspecto fundamental, é preciso considerar a existência dos sem emprego, que não estão desempregados porque não foram demitidos, mas atingiram a idade de trabalhar, mas não conseguiram vaga no mercado.
REDUÇÃO DE RENDA – Trata-se, é pena que os economistas não focalizem esse ponto, de uma forma de redução de renda que deve ser combatida da mesma maneira que a recomposição das centenas de milhares de vagas abertas nos últimos anos pelas demissões. Vale destacar ainda que a não inclusão no mercado regular de mercado influi forte e negativamente nas receitas do INSS e do FGTS.
Claro, não só pelo não recolhimento das alíquotas estabelecidas na lei, mas também porque os recursos do INSS e do FGTS diminuem à proporção que não recebem contribuições de novos trabalhadores e na medida em que têm que desembolsar recursos em função de aposentadorias que se verificam através do tempo.
NOTA DOS MILITARES – Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, Bruno Bogossian focaliza a nota de sexta-feira de comandos militares defendendo a liberdade de expressão que paralisou rodovias e reuniu grupos de bolsonaristas em portas de quartéis reivindicando uma absurda intervenção militar contra o resultado das urnas, manifestação que por si só recebe o repúdio da população brasileira e desperta reações contrárias no cenário internacional.
A nota, no fundo, faz restrições ao ministro Alexandre de Moraes na medida em que se refere, embora brandamente, à limitação impostas por autoridades a tais manifestações subversivas, como fica evidente nos propósitos de ruptura com a democracia e as instituições nacionais.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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