Por Pedro do Coutto –

O ex-deputado Roberto Jefferson, neste domingo, explodiu todos os limites possíveis, tanto da política quanto da segurança, ao receber a tiros e lançar bombas de gás lacrimogêneo – vejam só – contra policiais federais que cumpriam determinação do ministro Alexandre de Moraes e foram até a sua residência para realizar a transferência da prisão domiciliar para a carceragem comum. Jefferson feriu uma policial e um delegado que se encontravam na equipe que se deslocou até Levy Gasparian no interior do Rio.

A transferência determinada teve como causa um vídeo postado pelo próprio Roberto Jefferson na rede da internet, ofendendo profundamente e desacatando a ministra Cármen Lúcia do Supremo Tribunal Federal e do STJ. Roberto Jefferson, como os fatos constatam, tinha em seu poder granadas, uso exclusivo do Exército, e fuzis. Portanto, equipamento pesado de destruição.

Charge do Latuff. (Brasil 247)

PERPLEXIDADE – No primeiro momento, o país ficou perplexo com as afirmações do presidente Jair Bolsonaro de que pediu ao ministro Anderson Torres da Justiça para viajar até o Rio de Janeiro, objetivando resolver o problema. Foi um erro colossal. Não havia problema de levar a uma intermediação do titular da Justiça. Havia, sim, o descumprimento de uma ação judicial. Sentindo o erro, o presidente da República voltou atrás e atacou o próprio Jefferson, se solidarizando com a ministra Cármen Lúcia e com os policiais feridos.

Seis horas depois, Roberto Jefferson resolveu entregar-se à PF ao tomar conhecimento de que a participação do ministro da Justiça havia sido suspensa. O ex-deputado criou um problema imenso para o governo, inclusive porque no momento em que resolveu entregar-se estava na sua residência o enigmático padre Kelmon da Igreja peruana e que participou do debate da Band no dia 16.

Kelmon era candidato a vice de Jefferson pelo PTB e terminou substituindo-o na cabeça da chapa após a Justiça Eleitoral ter negado o registro ao ex-presidente do PTB. Ao longo do debate na Band, Kelmon revelou-se um franco aliado de Bolsonaro, estabelecendo uma vinculação que se tornou evidente. O problema criado por Jefferson tem implicações também na Segurança Pública, uma vez que ele portava armas de uso exclusivo das Forças Armadas.

Charge do Aroeira. (Brasil 247)

DISTÂNCIA – No O Globo, reportagem de Aguirre Talento, Paula Ferreira, Jan Niklas e Paola Serra focaliza amplamente o episódio. Matéria também no O Globo desta segunda-feira, de João Sorima Neto e Bruno Góes focaliza a iniciativa de Bolsonaro para se manter distante do ex-aliado, que se tornou incômodo na sua campanha.

De acordo com Amanda Pupo e Adriana Ferraz, o Estado de S. Paulo, no vídeo em que gravou, Bolsonaro chamou Jefferson de bandido. Na Folha de S. Paulo, a reportagem é de Camila Mattoso, Fábio Serapião, Idiana Tomazelli, Marcelo Rocha, Paulo Saldaña, Yuri Eiras. O efeito eleitoral da explosão produzida por Jefferson deverá ser medida pelos próximos levantamentos do Ipec e do Datafolha.

PEDRO DO COUTTO é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


PATROCÍNIO


Tribuna recomenda!