Por Eliara Santana 

Chegaremos a 2022 num cenário de país arrasado, com o tecido social já muito esgarçado, as pessoas sem perspectiva de renda, morando nas ruas, a fome voltando, e tudo isso num contexto de desemprego galopante, economia sem reação e inflação sem controle.

Entre 44 países mais ricos do mundo, o Brasil de Jair Bolsonaro tem a quarta pior taxa de desemprego. Dito de outra forma, para ficar mais claro, o desemprego no Brasil é o quarto maior numa lista de 44 principais economias do mundo. Os dados fazem parte de um estudo divulgado pela  agência de classificação de risco Austin Rating. Segundo o levantamento, o desemprego no Brasil de Bolsonaro supera a média do desemprego mundial em mais de duas vezes. Ou seja, o desemprego no Brasil é mais do que o dobro  da média mundial. Levando-se em conta as 20 maiores economias do mundo, o número de pessoas  sem trabalho no Brasil é a mais alta. De acordo com o IBGE, há quase 14 milhões de pessoas desempregadas no Brasil, ou 13,7% de desemprego. Em 2014, governo Dilma Rousseff, essa taxa era de 4,8%, uma situação de quase pleno emprego.

Confiram a taxa de desemprego divulgada pela Austin Rating (e lembrem-se: todos os países enfrentaram a pandemia):

Costa Rica: 15,2%

Espanha: 14,6%

Grécia: 13,8%

Brasil: 13,2%

Colômbia: 12,7%

Turquia: 12,1%

Itália: 9,3%

Suécia: 8,8%

Índia: 8,3%

Chile: 8,2%

França: 8%

Zona do euro: 7,5%

Finlândia: 7,2%

Lituânia: 7,2%

Canadá: 7,1%

Letônia: 7,1%

Eslováquia: 6,5%

Irlanda: 6,5%

Bélgica: 6,4%

Portugal: 6,3%

Indonésia: 6,3%

Estônia: 6,0%

Áustria: 5,9%

Luxemburgo: 5,5%

Islândia: 5,4%

Estados Unidos: 5,2%

China: 5,1%

Israel: 5,0%

Austrália: 4,5%

Dinamarca: 4,5%

Reino Unido: 4,5%

Rússia: 4,4%

Hungria: 4,1%

México: 4,1%

Noruega: 4,0%

Eslovênia: 3,9%

Alemanha: 3,4%

Polônia: 3,4%

Holanda: 3,2%

Coreia do Sul: 2,8%

Japão: 2,8%

República Tcheca: 2,8%

Suíça: 2,7% Singapura: 2,6%

PIB vai desacelerar, alerta o Deus Mercado

Outro levantamento, feito a partir de um compilamento do jornal O Estado de S. Paulo de dados do Fundo Monetário Internacional e de consultorias e bancos, mostra que o Brasil terá o pior desempenho entre 12 grandes países emergentes. As consultorias e os bancos que fizeram também o levantamento – Bradesco, Goldman Sachs, Capital Economics, Fitch e Nomura – têm previsões bastante pessimistas sobre o desempenho da economia brasileira. Eles projetam um crescimento do PIB entre 0,8% e 1,9%. O FMI faz uma projeção de 1,5%, sendo que a média mundial prevista é de  5,1% entre os emergentes. O relatório Focus, do Banco Central, prevê crescimento de 0,93%. O banco Itaú – realista ou pessimista? – prevê retração de 0,5%, ou seja, o PIB vai encolher.

Trocando em miúdos: chegaremos a 2022 num cenário de país arrasado, com o tecido social já muito esgarçado, as pessoas sem perspectiva de renda, morando nas ruas, a fome voltando, e tudo isso num contexto de desemprego galopante, economia sem reação e inflação sem controle. A pergunta que nunca vai calar: o golpe foi dado para isso?

O medo que o deus mercado já deixa transparecer não é um bom indicativo, é um sinal de que a coisa está muito ruim mesmo. Porque ocultaram – a mídia corporativa incluída – a situação até onde foi possível para blindar o desastroso e incompetente Paulo Guedes e fingir que as coisas estavam sob controle e que, após o golpe patrocinado pelo mercado financeiro, tudo ia se reerguer. Mas nada está sob controle, e o país afunda a cada dia. O cenário exposto mostra apenas a deterioração gigantesca da situação econômica; os números do esgarçamento da condição social não estão mostrados.

A situação econômica é gravíssima e deteriora ainda mais a já dolorosa situação social. Além da fome que volta ao Brasil e da realidade dos brasileiros que comem pé de galinha, vemos políticas de inclusão que foram exitosas nos governos petistas serem esculhambadas e detonadas. Como o Enem, por exemplo, que foi realizado neste domingo (21/11). Em outros tempos, quando ainda se comia picanha no Brasil, o Exame chegou a ter quase 9 milhões de inscritos. Jovens que estavam dando vazão ao sonho, ao desejo de ingressarem no ensino superior para terem uma carreira, uma profissão, uma vida diferente, novas perspectivas. Hoje, a edição 2021 do Exame teve pouco mais de 3 milhões de inscritos. Porque os jovens, no governo Bolsonaro, não podem mais sonhar, eles têm de trabalhar, muitas vezes em subempregos, para ajudarem nas despesas da casa. Ou mesmo para assumirem as despesas da casa, pois os pais podem estar desempregados. Nem vou comentar aqui que o compromisso dos governos petistas era destinar parte do lucro do pré-sal para a educação. Mas a Lava Jato, do ex-juiz golpista Sergio Moro, cuidou de destruir a Petrobras.

Além dos números que aparecem com força agora, há ainda o desmonte deliberado que este governo genocida e corrupto está fazendo em amplos setores, das conquistas sociais ao meio ambiente, e que ainda não está muito bem dimensionado.

Todo esse cenário precisa ser escancarado e precisa estar claríssimo para 2022, para que as pessoas não caiam em cantos de falsos e hipócritas heróis. Aqueles que, na verdade, são responsáveis diretos por essa tragédia nacional.

Eliara Santana é uma jornalista brasileira e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), com especialização em Análise do Discurso. Ela atualmente desenvolve pesquisa sobre a desinfodemia no Brasil em interlocução com diferentes grupos de pesquisa.

Publicado inicialmente no Jornal GGN. Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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