Por Sérgio Vieira

O drama dos refugiados da África na Europa.

Todos os dias assistimos na televisão, aqui na Europa, o drama catastrófico dos refugiados migrantes oriundos dos países africanos, que em condições sub-humanas tentam um lugar seguro para prosseguirem suas vidas.

Costa de países como Itália, Espanha e França, são os destinos mais procurados.

Arriscam-se em botes de borracha com 3 ou 4 vezes a capacidade de lotação e em condições verdadeiramente deploráveis, no limiar entre a vida e a morte.

Este drama agudizou-se desde 2016, quando estima-se que 362.000 refugiados e migrantes arriscaram suas vidas cruzando o Mar Mediterrâneo. Sendo que 181.400 pessoas chegaram na Itália e 173.450 chegaram na Grécia.

Em 2017, mais de 105.000 refugiados entraram na Europa, fugidos da fome, guerras e catástrofes naturais. Coisas que abundam na África subsaariana.

Este movimento em direção ao continente europeu, continua a ter um efeito devastador em muitas vidas.

Fluxo migratório. (Fonte: Folha de SP – 18/07/2017)

O pior nisto tudo, é que por trás destas infelizes vidas, estão os “vendedores” de esperança. Estas pessoas estão sujeitas ao pagamento de quantias significativas para poderem embarcar em direção ao incerto destino.

É comum, infelizmente abrirem os telejornais com notícias da chegada de mais uns não sei quantos botes vindos da travessia do mediterrâneo. Muitos dos quais trazem famílias inteiras. Crianças, idosos, mulheres grávidas, que às vezes dão à luz durante a travessia. E nada raro, trazem mortos a bordo.

Uma vez chegados, são recebidos pelas autoridades locais e realojados temporariamente em centros comunitários (leia-se, guetos) para uma mais que possível ordem de regresso às suas origens.

Vidas que se perdem. Vidas cujo destino é a incerteza de uma existência com um mínimo de dignidade, palavra que a maioria deles desconhecem, porque nunca a tiveram.

O desempenho de Portugal tem sido muito positivo, tendo-se evidenciado no programa de recolocação.

Manifestação em Portugal. (Crédito: Horacio Villalobos/Getty Images – 2019)

O sinal de solidariedade que enviamos aos nossos parceiros europeus permite que nos posicionemos de forma destacada na área da proteção internacional. Aos requerentes e beneficiários de proteção internacional é prestado todo o apoio, desde o processo de decisão ao processo de integração. Destaca-se a abordagem integrada adotada, sobretudo a partir de 2015, quando começou a haver um envolvimento de diferentes entidades de acolhimento.

É importante sublinhar que os beneficiários de proteção internacional são acompanhados durante o processo de integração, visando a sua autonomização. Além disso, através de uma abordagem multidimensional, garante-se o acesso à saúde, educação (inclusive na aprendizagem da língua portuguesa), habitação, segurança social e a outras áreas fundamentais de intervenção, destacando-se uma particular preocupação com a proteção de mulheres e crianças.

De referir ainda o aumento, no último ano, do número de titulares de proteção internacional que adquiriram a nacionalidade portuguesa, garantindo não só o acesso a direitos no país, como também no espaço mais alargado da União Europeia.

Se vemos o fim deste desastre? Não sei.

O Ministro das Relações Exteriores da Hungria, Peter Szijjarto, apelou nesta segunda-feira (12/07/2021) à União Europeia para resolver os problemas com a Turquia sobre a questão dos migrantes e refugiados o mais rápido possível, enquanto o governo procura renovar um pacto de 2016 sobre o assunto. (Crédito: John Thys/AFP via Getty Images – 22/06/2021)

A crise global acentua-se a cada dia. E estes países, cujo destino se modifica a toda a hora, seja pela política corrupta, seja por guerras fratricidas, não tem fim à vista.

Triste, muito triste mesmo, é assistirmos impávidos e serenos a estes fenômenos. Felizmente, vai havendo uma maior conscientização global, e solidariedade a este desastre tão atual.

Funcionários do Acnur registrando refugiados da República Centro-Africana. (Crédito: ACNUR/Aristophane Nagaroune – 2017)

Um bem-haja à assistência oficial da ACNUR (Agência da ONU para Refugiados) que protege como pode estes filhos de um Deus menor.

Uma palavra de esperança a todos os refugiados que por esta Europa afora conseguiram um porto seguro e que às vezes mesmo em subempregos e condições não tão humanas assim, vão refazendo suas vidas com suas famílias muitas vezes mutiladas, vão tentando achar a tal dignidade de que falei.

O grito silencioso do cadáver de Alan Kurdi em uma praia turca fez o mundo despertar para a tragédia humanitária dos refugiados. (Reprodução/IstoÉ – 02/09/2015)

Em geral, é necessário um plano de ação abrangente que, em estreita cooperação com os países de origem e de trânsito e de acordo com o direito internacional, apoie soluções a longo prazo para a questão complexa da migração mista e ajude a resolver suas causas profundas.

“A verdade é que os refugiados não arriscariam suas vidas em uma jornada tão perigosa se pudessem prosperar onde estão”.

SÉRGIO VIEIRA – Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre, representante e correspondente internacional em Portugal. Jornalista, bancário aposentado, radicado em Portugal desde 1986.


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