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DA LITERATURA – por Miranda Sá
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DA LITERATURA – por Miranda Sá

Por Miranda Sá

Teve e tem carradas de razão Émile Zola quando escreveu que “os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa”.

Para quem interessa, Zola apresenta as credenciais de criador e representante mais expressivo da escola literária naturalista, cuja expressão está em sua obra “Germinal”.

O livro traz a visão humanista do socialismo, cujas ideias estavam disseminadas na classe operária da época e o influenciaram a descrever uma greve de mineiros explorados trabalhando de sol a sol e sofrendo a brutalidade dos capatazes.

Foi criticado e perseguido pelos ocupantes do poder político e econômico. Mais tarde, convicto da inocência do capitão Dreyfys, oficial do Exército Francês acusado de traição, mas na verdade sofrendo a perseguição antissemita reinante entre oficiais militares de alta patente.

Em 1898, Zola escreveu uma carta aberta ao presidente da República, Félix Faure, publicada na capa do jornal literário L’Aurore, levando à reabertura do processo que decidiu pela reabilitação do oficial.

Além da participação política que o levou ao exílio, Zola escreveu vários textos da Inglaterra, aonde se exilou,  publicados em jornais literários, na defesa da literatura e dos escritores. Diante desta valorização da literatura, já reconhecida pelas antigas sociedades grega e romana, leva-nos a perguntar: – “O que vem a ser literatura?

A palavra tem origem latina, literatura,ae, de littera, “letra, significando a ação de traçar as letras, ou “arte de escrever”; é gramaticalmente encontrada em brasilês como substantivo feminino, indicando uso estético da linguagem escrita.

Na prática, esta experiência visa a produção de obras de ficção, fatos e anedotário históricos e de experiências vividas ou conhecidas do autor, e esse campo de atividade exige não somente a correção do idioma e o estilo, mas notadamente informações humanísticas e independente coordenação com a ciência, a filosofia e a política.

É aí que mora o perigo. Os ocupantes do poder, em qualquer regime, prezam pela ignorância do povo, e para isto procuram calar qualquer referencial enciclopédico aos letrados, para impedir a sua divulgação.

Como manifestação crítica, utilizando uma linguagem accessível às classes populares, a literatura é perseguida pelos poderosos. Vale chover no molhado falar sobre a Idade Média Católica, quando o Concílio de Trento, em 1564, criou Index Librorum Prohibitorum (índice dos livros proibidos).

Imaginem que esta política anticristã da hierarquia eclesial proibiu livros de Alexandre Dumas, Charles Darwin, Gustave Flaubert, Montesquieu, Renê Descartes e Thomas Hobbes. Falar da “Origem das Espécies” ou do “Espírito das Leis” foi considerado um pecado mortal…

No século passado assistiu-se a repetição desta barbárie no esplendor do totalitarismo fascista, nazista e stalinista, com Hitler assistindo a “Bücherverbrennung” (Queima de Livros), que levou à fogueira obras de Brecht, Erich Maria Remarque, Hemingway, Heine, Ibsen, Freud, Stefan Zweig e Thomas Mann… E não esquecer Alexander Soljenítsin, escritor e dramaturgo russo, perseguido porque denunciou com seu livro Arquipélago Gulag, os campos de concentração mantidos por Stálin.

Não podemos esquecer que é através da Literatura que se desenvolve a linguagem, expandindo o vocabulário e firmando a língua pátria através da escrita. Some-se a isto o conhecimento transformador; é a leitura que leva à reflexão sobre a realidade.

A Literatura é uma das ferramentas intelectuais que mais incentiva a crítica e promove a reflexões sobre as mudanças pessoais, sociais e políticas; envolve todo sentimento de transformação das coisas erradas na Administração Pública, na Justiça e nos Meios de Comunicação e Informação.

Com a Literatura recebemos imaginação e criatividade que trazem novas ideias e enriquecem o nosso pensamento, mesmo assim assistimos no Brasil tentativas de censurar livros com argumentos que não calam Oscar Wilde que disse: – “Não existem livros morais ou imorais. Os livros são bem ou mal escritos”.

… E a iluminada herança de Rui Barbosa nos ensina: “A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade”.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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