Por Isa Colli

A sociedade está doente?

Um episódio que aconteceu aqui na Bélgica, onde moro, mas repercutiu no Brasil, me fez refletir sobre essa pergunta. O caso a que refiro é do homem que empurrou uma mulher que não conhecia nos trilhos do metrô no momento em que o trem se aproximava. Por sorte, o maquinista conseguiu parar a tempo e outros passageiros puderam resgatar a vítima com vida.

Tanto o maquinista como a vítima ficaram em estado de choque e foram levados para o hospital e depois foram liberados. Imagino que superaram o trauma do momento, mas talvez fiquem com marcas psicológicas que só perceberão no futuro.

Já o agressor chegou a fugir após empurrar a mulher, mas acabou sendo preso poucos minutos depois em outra estação de metrô, segundo a polícia de Bruxelas. Ele será processado por tentativa de assassinato. Um dos juízes responsáveis solicitou uma avaliação psiquiátrica para verificar suas condições mentais e psicológicas. A família alega que ele nunca demonstrou instabilidade emocional e diz que não entende o deu nele para fazer algo assim. Disseram que desejam que pague pelo crime.

É certo que deve pagar pelo crime. Agora eu me pergunto que sentimentos movem uma pessoa capaz de jogar outra no trilho de um metrô sem demonstrar nenhum arrependimento? As câmeras mostram o agressor andando calmamente após o ato criminoso que poderia ter sido fatal.

A psicóloga Adriana Cavalcante, que é especialista em saúde mental e luto, além de ser suicidologista, diz que é difícil traçar o perfil desse homem, pois há poucos dados a respeito dele.

“Podemos pensar em uma psicopatia, que se trata de um transtorno em que o sujeito fere, mata ou maltrata outro sujeito, sem sentir nenhuma culpa. O prazer do psicopata está em ver o constrangimento, maltratar, e até mesmo matar o outro, sem que isso lhe traga algum tipo de arrependimento”, diz. Adriana ressalta, no entanto, que para detalhar um perfil psicológico precisaria de mais dados do homem.

Agora eu volto para a pergunta que fiz no início deste texto e que tem me inquietado: a sociedade está doente?

Pesquisei sobre tragédias similares à que ocorreu na Bélgica e percebi que são muitos, muitos, os casos mundo afora. Alguns com desfecho trágico, infelizmente. Percebo que a cada dia mais pessoas estão se tornando agressivas e desumanas. É preciso estar atento ao emocional de cada cidadão e cidadã.

Criminosos devem pagar por seus crimes, é óbvio, mas é sempre importante investigar a fundo caso a caso para evitar julgamentos precipitados.

ISA COLLI – Escritora ítalo-brasileira, de Presidente Kennedy, Espírito Santo, atualmente reside em Bruxelas, na Bélgica. Jornalista, membro do Conselho Consultivo e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Começou a escrever aos 12 anos, sempre preocupada com o futuro do meio ambiente, e como ensinar as crianças a preservá-lo, atenta aos anseios humanos e às suas dúvidas em relação à vida. Seu primeiro livro foi editado em 2011. O romance, ‘Um Amor, um Verão e o Milagre da Vida’. Porém a partir de 2013, consagrou seu tempo à literatura infantil e conta em 2019 com mais de dez títulos editados, que abordam temas como a sustentabilidade e a necessidade de proteção ao meio ambiente, o respeito pelo próximo, a tolerância às diferenças e a valorização do consumo de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos. A autora tem por alicerce a família, em especial, o esposo José Alves Pinto e os filhos Valdeir e Philip. E o sonho de transformar o mundo por meio da escrita, que é o seu principal combustível. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2018 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ. Texto Inicialmente pulicado em O Dia.


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