Por Indianara Siqueira –

A comunidade LGBTIA+ sempre sobreviveu a esses acontecimentos.

Sobrevive primeiro a endemia que é um fator que interfere negativamente na vida de nossa comunidade através da violência lgbtifobica que nos expulsa (ou obriga) da convivência com nossa família, amigues de infância e nos impede acesso a espaços comunitários de lazer, educação, moradia, saúde, religião, trabalho e até a alimentação. Essa endemia nos acomete de doenças físicas e /ou afeta nossa saúde mental enquanto LGBTIA+.

Se nossa comunidade fosse considerada mundialmente e contada através de estáticas ou mapeamentos como IBGE por exemplo, isso poderia ser considerada uma epidemia sobre essa comunidade.

E ainda sobrevivemos a pandemias.

Geralmente as pessoas LGBTIA+ sentem os efeitos dessa pandemia de covid 19 o afastamento de sua comunidade que lhes fortalece em vários momentos difíceis. Mas não sentem o isolamento com distanciamento físico dos espaços comunitários de convivência social pois já vivem uma ” proibição ” velada (ou não) declarada (ou não) desses lugares.

Então a comunidade LGBTIA+ pode resistir mais tempo uma situação que a população cisheteronormativa não está acostumada.

Pra comunidade LGBTIA+ a vida sempre foi sobreviver, se proteger, lutar inclusive pra morrer com dignidade.

Foi assim antes da Revolta de Stonewall em 28 de junho de 1969 e depois. Foi assim na epidemia de HIV/AIDS no final dos anos 1980/ 1990/ 2000. Foi assim desde sempre na violência lgbtifobica endêmica que acomete essa comunidade.

Isso faz com que a comunidade LGBTIA+ também se envolva rapidamente quando como o mundo passa por epidemias e pandemias como as aqui citadas nesse texto se solidarizando e organizando ajuda através de várias frentes de arrecadação.

Talvez pra tentar que aceitem LGBTIA+ através das boas atitudes. Mas com certeza essa comunidade o faz por entender desde sempre o preconceito, a dor da solidão e até a dor física pela qual passam através de agressões.

É uma comunidade que não se encontra, ou melhor dizendo, não encontra suas referências na história da humanidade mas tem certeza de sempre ter existido nessa história onde suas referências foram apagadas, assassinadas, ou cisheterossexualizadas.

Se pesquisarmos hoje usando a tecnologia das redes sociais saberemos desse apagamento todo conhecendo mais aprofundamente a vida pessoal de muitas pessoas importantes na história da humanidade que irão desde mulheres lésbicas, bissexuais, homossexuais, intersexuais, travestis, transexuais e assexuais passando também por outras identidades que sequer são contadas pra poderem existir e ainda hoje passam por um apagamento.
Sempre existimos.

Continuaremos a existir.

Por mais que tentem nos apagar, amordaçar, matar nossas identidades, continuaremos aqui.

Nasceremos em outros corpos, mas ainda seremos resistência.

Pois pra nós LGBTIA+ o mundo sempre foi endêmico, epidêmico e pandêmico pois nunca fizemos parte dele e ainda lutamos pra re(ex)sistir, sobreviver e sorrir.

De que a cisheteronorma tem medo?

De descobrir talvez que a cisgeneridade, a heterossexualidade, a masculinidade, a feminilidade, ser fêmea, macho, homem mulher nada mais são que invenções indenitárias sociais, performances sociais compulsórias o que por conseguinte faz com que LGBTIA+ seja um contraponto criado naturalmente. Sem serem ensinadas, direcionadas. Ou seja LGBTIA+ são o natural.

VIVA E DEIXE VIVER.


INDIANARA SIQUEIRA – TransVestiAgenere, pute, ateie, vegane, presidente do Grupo Transrevolução-RJ, da REBRACA LGBTIA+, coordenadora do PreparaNem, Casa Nem Abrigo LGBTIA+, Rede Brasileira de Prostitutas, Fórum TT RJ, Coletivo Davida e titular da coluna TRIBUNA LGBTQI+ do Jornal Tribuna da imprensa Livre.


SIRO DARLAN – Juiz de Segundo Grau do Tribuna de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ); Mestre em Saúde Pública, Justiça e Direitos Humanos; Pós-graduado em Direito da Comunicação Social na Universidade de Coimbra (FDUC), Portugal; Diretor de Jornalismo e Editor do Jornal Tribuna da imprensa Livre; Membro da Associação Juízes para a Democracia; Conselheiro Benemérito do Clube de Regatas do Flamengo; Conselheiro Efetivo da Associação Brasileira de Imprensa. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.