Por José Carlos de Assis

Não houve nada mais repulsivo no mundo, em época de pandemia, que a decisão de Donald Trump de confiscar equipamentos de combate ao coronavírus, inclusive 600 respiradores destinados ao Brasil, para atender interesses do “eleitorado” norte-americano. Isso não tem precedentes na história do mundo. É um crime de lesa-humanidade, na medida em que escolhe pessoas para viver e para morrer. Espantosa, além disso, é a forma como a grande mídia, inclusive a brasileira, serviçal aos EUA, aceita como natural esse confisco.

O recurso a uma lei de guerra do país para justificar o ato bárbaro mostra até que ponto o governo norte-americano é indiferente à humanidade, e exerce de forma implacável seu poder econômico e militar. Só um idiota como Bolsonaro poderia esperar dele alguma condescendência em favor do Brasil. Os Estados Unidos, já se disse, não tem amigos; tem interesses. E não há maior prova disso do que esse confisco que mostrou a todos os povos do mundo onde começa e onde termina a ambição americana. Na verdade, ela não tem limites.

O cinismo e a desumanidade de Trump vão ao ponto de adotar medidas restritivas contra a Rússia e a Venezuela no meio de uma pandemia. Entretanto, não será impossível que a sociedade norte-americana acerte as contas com ele ainda este ano. Se o povo dos Estados Unidos não for tão bárbaro e insensível quanto ele, deverá, nas eleições, mandar que ele se recolha a alguns de seus cassinos em Las Vegas. Disse uma vez que a única força que pode se defrontar com o poder norte-americano é a sociedade americana. Ela vem aí, para votar!


JOSÉ CARLOS DE ASSIS – Jornalista, economista, escritor, professor de Economia Política e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 25 livros sobre Economia Política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.