Por Alcyr Cavalcanti –
A cidade maravilhosa hoje entregue às baratas já foi uma festa.
As noites cariocas do final dos anos setenta e dos anos oitenta eram uma festa só, de domingo a domingo. Mas vieram outros tempos, um crescimento populacional sem a necessária urbanização não veio. Milhões de pessoas vieram para o Paraíso Tropical em busca de dias melhores que nunca chegaram. Tudo começou a piorar, as grandes fortunas mudaram de mão (e de bolso) e muitos passaram a aplicar suas fortunas em outras praças, em especial na Europa, ou em paraísos fiscais. Um a um os governantes se sucederam, mas os graves problemas de urbanização, saneamento e desemprego não foram enfrentados.
A violência cresceu, o “carioca cordial”, receptivo e amigão de todos despareceu. Artistas de Hollywood e da Cineccitá que batiam ponto no verão carioca, e principalmente no alucinante Carnaval. As noitadas que se estendiam até o início das manhãs de domingo a domingo deixaram de existir para sempre.
O jet set se reunia nas boates da época, que funcionavam como clubes privados onde pontuavam no eixo Ipanema/Copacabana o Hippopotamus de Ricardo Amaral e o Régine’s, edição carioca no subsolo do Hotel Méridien da empresária Régine Schoukroun. O homem da noite Serginho Cavalcanti lutava bravamente administrando o New Jirau, na Siqueira Campos onde seu enorme círculo de amigos endinheirados torravam seus dólares. Serginho me confidenciou em uma de suas inúmeras bebedeiras, que cobrava o preço estupidamente alto por uma garrafa de Don Pérignon, bem acima das outras casas noturnas, afinal “precisava se diferenciar da concorrência desleal”.
O dinheiro ainda rolava pelas noites cariocas, grupos de São Paulo desciam de seus jatinhos particulares para curtir as noites sem fim, e o charme carioca se misturava aos convidados para animar a festa. Alain Delon, Robert de Niro, Julio Iglesias, Roman Polanski, Mick Jagger, Rod Stewart eram habituées da Cidade Maravilha.
Mas vamos relembrar através da memória afetiva e do poder das imagens, tempos em festas que não voltarão jamais, eram ilusões em meio a uma dura realidade que começava a surgir. As luzes e o brilho das festas quem sabe um dia (ou uma noite) estarão de volta e o Show das Ilusões vai continuar…
ALCYR CAVALCANTI – Jornalista profissional e repórter fotográfico, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo e em agências de notícias internacionais. Bacharel em Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ) e mestre em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Professor universitário, ex-presidente da ARFOC, ex-secretário da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre.
MAZOLA
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