Por Luiz Carlos Prestes Filho –
O historiador e guia ambiental, Luiz José Cunha Lima, reside no meio da natureza, na cidade de Alto Paraíso, localizada na Chapada dos Veadeiros. Seu isolamento dos centros urbanos é grande. Mas isso não permitiu a ele ser desatencioso para com os cuidados exigidos durante a pandemia Covid 19: “Faço parte desta nossa sociedade que não tem uniformidade. Me cuido, cuido de minha família. Mas muitas vezes me vejo como uma exceção. Um número significativo dos moradores aqui são negacionistas. Por tanto, existe uma distância entre como deveríamos nos comportar, para não acontecer a infecção, e a realidade. Eu uso mascara quando vou a rua, mas é tanta gente que não usa que entendo porque aconteceram tantas vitimas no país. Para mim o distanciamento das trilhas no meio da natureza tem sido obrigatório. Tenho ficado a maior parte do tempo dentro de casa. Mas de fato é um privilégio poder estar aqui. Nos raros momentos que saio posso abraçar estes horizontes magníficos do norte de Goiás.”
Faz quatro meses que as atividades turísticas estão paralisadas. Os hotéis fazenda e as pousadas não recebem visitantes. O Vale da Lua, que sempre foi um lugar misterioso,
ficou mais ainda enigmático: “Nunca imaginei que seria possível as nossas cachoeiras e
rios ficarem vazios, como que voltassem aos tempos quando não eram explorados pelos turistas. Claro que esta interrupção criou uma dificuldade para os micro e pequenos empresários locais que viviam do receptivo. Também, para os artesãos, donos de restaurantes e produtores culturais.”
No livro autobiográfico que está escrevendo, Luiz José, pretende analisar os 37 anos vividos na Chapada dos Veadeiros, sempre dedicados a estudar a identidade cultural local, aspectos antropológicos, ambientais e sociais. Para ele o momento exige profunda reflexão: “O atual governo federal tem promovido uma politica de desmonte das instituições em áreas estratégicas para a nossa região. O que termina influenciando o monitoramento das queimadas, a proteção das nascentes dos rios e o manejo responsável da terra. Penso que erramos ao longo de muitos anos, ao não promover projetos estruturantes e definitivos no campo da Educação Ambiental. A ECO-92 aconteceu faz 28 anos! Não conseguimos que o Brasil de hoje valorizasse o meio ambiente. Vivemos em Alto Paraíso, do nosso jeito, a tragédia que se desenha na Amazônia. A cada dia entendo que não posso ficar omisso, tenho que saber buscar caminhos para participar desta luta ambiental. Tudo isso estará no meu livro.”
No seu entendimento a pandeia vai terminar mobilizando muitas cabeças pensantes de sua cidade, tanto da direita como da esquerda. Vai demonstrar que todos devem, democraticamente, dialogar para buscar soluções coletivas e emergenciais: “De uma
hora para outra, nossa cidade que tem 8 mil habitantes, saiu de zero contaminados para 72 casos. Entre estes, dezenas de pessoas conhecidas. Mas quando esta entrevista for publicada, com certeza a crise pode ter tomado uma proporção maior. A nossa infraestrutura hospitalar é frágil, temos carência de médicos e de medicamentos. O que existe de concreto no momento é a promessa do governador de Goiás e do prefeito municipal em realizar testes para mil habitantes. Será que isso vai diminuir a velocidade do contágio? As famílias continuam se visitando, o isolamento social é feito por poucos. O que me dá esperança é de que a maioria da população goza de boa saúde. Não temos muitos casos de tuberculose, dengue ou aids.”
Luiz José acredita que a pós-pandemia, com certeza, vai criar um novo normal: “Na Chapada dos Veadeiros veremos acontecer o que já chamamos de Turismo Álcool Gel. Assim como aceitamos a obrigatoriedade da vacinação de febre amarela, vamos aceitar os testes dos grupos de visitantes. Inclusive, os funcionários dos estabelecimentos voltados para o turismo, deverão sempre estar em dia com suas obrigações no campo de saúde pública. Por outro lado, pressinto que em Alto Paraíso vamos ter uma invasão de visitantes que desejarão se fixar aqui. Ao buscar uma ligação mais íntima com a terra, vão comprar lotes para construir casas. Nossas autoridades devem se preparar para essa onda imobiliária.”
LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).
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