Por Miranda Sá –
“Quando se sugerem muitos remédios para um só mal, quer dizer que não se pode curá-lo” (Tchecov)
Chegamos à Internet, e com ela a libertária comunicação das redes sociais, sem que muita gente saiba que esta ferramenta é tataratatara neta do sistema mecânico com tipos móveis de madeira para impressão gráfica em bloco, criado em 1450 pelo ourives alemão Johannes Gutemberg.
Gutemberg se inspirou em antigos métodos de impressão dos carimbos de ideogramas usados desde o século 8 na China e no Japão, e os aperfeiçoou.
Com a facilidade de multiplicar livros, o Ocidente viveu uma autêntica e espontânea revolução cultural; popularizaram-se as obras clássicas e surgiram os primeiros jornais exercendo um imprescindível e indispensável papel para o alvorecer da Renascença, o surgimento da Reforma Religiosa e o desenvolvimento científico.
Com a primeira Bíblia impressa por Gutemberg no século 15, tivemos a primeira reação à caça às bruxas. Com os evangelhos à mão, o cientista João Batista van Helmon, descobridor do suco gástrico, levou ao tribunal a defesa de uma mulher acusada de feiticeira e associação com o diabo, baseado nas escrituras divulgadas.
Van Helmon, mostrando aos juízes o que estava escrito, alegou que o homem é feito à imagem de Deus, por isso o diabo é dispensável na prática do bem ou do mal. Afirmou que “o ser humano tem em si uma energia, que apenas com a força de vontade e de imaginação pode exercer influência sobre qualquer ocorrência, mesmo à distância”.
Diante desta argumentação é de se perguntar como recorrer à força mental para enfrentar as inumeráveis hostes invisíveis dos vírus, principalmente dos agentes infecciosos como este desgraçado novo coronavírus que se alastra numa pandemia planetária.
O verbete Vírus é um substantivo masculino de etimologia latina “vírus,i” – sumo, veneno e toxina. São organismos microscópicos existentes na Natureza capazes de infectar seres vivos; mas nem todos penetram no organismo humano, podem contagiar animais e plantas sendo ineficazes aos seres humanos.
Também dicionarizados temos os seus derivados “viral”, “vírico” e “virótico” significando a ação do vírus, cuja maioria é causadora de várias doenças, se reproduzindo com incrível celeridade no interior das células hospedeiras espalhando a infecção como endemia, epidemia, pandemia e surto.
Segundo um estudo saído recentemente – que infelizmente não gravei, não me lembro a origem, nem o nome do cientista entrevistado, diz que 100 gramas de determinados vírus doentios poderiam exterminar toda a população da Terra.
Além do mais, segundo estudos divulgados pela revista Science, os vírus representam a maior diversidade biológica do planeta, sendo mais diversos que bactérias, plantas, fungos e animais juntos. Só nos oceanos há cerca de 200 mil tipos diferentes deles…
Esta apavorante perspectiva do apocalipse provocado por partículas virais, nos leva a ver como está faltando aos povos uma governança capaz de enfrentar o flagelo que se abateu pelo mundo afora com a pandemia do novo coronavírus, infectando e matando milhões de pessoas.
Atravessando a pandemia, lembro da minha mãe, espírita kardecista, que falava de “doenças providenciais” para despertar o espírito para o bem… Se viva fosse, diria que foi necessário este vírus para causar um terremoto em nosso orgulho e nos lembrar que “a vida é um espetáculo único, irrepetível e imperdível”, no dizer do culto psiquiatra Augusto Cury.
Refletimos, porém, que há outro vírus tão venenoso que age no cenário político pela revisão dos valores éticos e humanitários, o chamado “negacionismo”. É adotado por personalidades psicopáticas que não se envergonham de considerar a covid-19 uma’gripezinha’ e um ‘resfriadinho’, exibindo-se sem máscara e promovendo aglomerações, como faz o presidente Jair Bolsonaro em suas manifestações oligofrênicas.
Ultrapassando 100 mil óbitos em consequência do novo coronavírus, a dor dos pais, esposas, filhas e filhos, transparece a desumanidade do negacionismo genocida. E o pior, como disse Francis Bacon, é que “as condutas, assim como as doenças, são contagiosas”.
MIRANDA SÁ – Jornalista, blogueiro e colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã. Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.
MAZOLA
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