Por Ricardo Cravo Albin –

O sábio escritor e filósofo Bertrand Russell certa vez emitiu a trágica pergunta – “Como países cultos e históricos como Alemanha e Itália puderam gerar truculências como Hitler e Mussolini?”.

Quando ouvi as primeiras declarações do extremista Bibi Netanyahu sobre a invasão de Gaza, assegurando que Israel se declarava de imediato em estado de guerra, gelei – sim, em estado de guerra brutal, logo deduzi: sem circunlóquios, sem negociações, sem as firulas diplomáticas que líderes internacionais sempre souberam exercitar com maestria e habilidades para minimizar situações extremas.

Netanyahu já era visto com temor há décadas, como líder de uma extrema direita cega, embora claríssima (vide sua desastrada tentativa de interferência no judiciário de um país – berço de juristas e filósofos consagrados pelo mundo).

De fato, o choque entre forças truculentas era esperado: o premier radical e a organização terrorista palestina teriam mesmo um encontro marcado a provocar muito sangue, ódio e buracos inevitáveis na paz mundial. Como já agora, no terceiro dia de guerra (escrevo na segunda-feira à noite) tudo está a indicar.

As cenas que acabo de ver nos telejornais da noite são de fato horrorizantes. E o ataque por terra de centenas de tanques na cidade de Gaza por Israel é mesmo de guerra feroz em marcha. Que exibe agora seu lado mais cruel, como em todas as guerras.

As repercussões são preocupantes e de tirar o folego: países já se alinham em blocos, como um ainda mal maior já se desenhasse. Uma guerra global. A história indica que as grandes guerras começam dessa exata maneira.

O grupo palestino extremista Hamas que controla a faixa de Gaza desde 2007 invadiu de surpresa por terra, mar e ar o território israelense na sexta-feira, projetando sobre cidades de Israel dois mil foguetes, causando incontáveis (nem me arrisco a declarar números de agora, porque a tragédia se multiplica a cada minuto) mortes e destruição. Hoje, o premier já convocou milhares de reservistas para a escalada de uma guerra imediata.

Não me cabe aqui julgar os porquês da veemência e truculência do Hamas em busca da soberania de territórios, tampouco os excessos de Israel com a política de assentamentos ilegais e de possíveis sufocamentos das populações dos espaços ocupados pela nação-berço dos judeus. Mas fique claro aqui, sim, a rejeição dos povos civilizados ao terrorismo e ao ataque brutalizado de indivíduos e famílias civis. O Hamas, poucos sabem, detém o controle do governo na Faixa de Gaza, responsabilizando-se por serviços como segurança pública (!!!), coleta de lixos e até educação. O grupo terrorista, ao que suspeitam analistas internacionais, pretende se credibilizar como suprema autoridade palestina na região, em oposição a Mahmoud Abbas, hoje controverso líder da Cisjordânia, mergulhada em casos de corrupção.

De fato, esse ataque surpresa do Hamas em Israel deixou Netanyahu muito mal entre as nações amigas, vale dizer quase todo o Ocidente. Pelo inusitado de ser surpreendido sem qualquer sintoma de aviso prévio por parte da sua Inteligência militar. Razão de a FAB ter providenciado nesta 2ª feira voos de nossas aeronaves para resgatar milhares de brasileiros que desejam deixar o país por onde transitavam. Inclusive as vitimas de uma festa brasileira de música eletrônica em Gaza na mesma sexta-feira, comandada (!!!) pelo pai do DJ Alok.

Netanyahu vem sendo acusado de ter submetido Israel ao seu mais grave buraco de desinformação estratégica desde a guerra do Yon Kippur há meio século.  Bons tempos em que o estado judaico podia ostentar líderes da competência de uma Golda Meir. O mundo inteiro antevê na guerra em curso a vitória de Israel pela superioridade de seu exército e armamentos. Além do apoio do chamado Ocidente, a que o Brasil se alinha desde sempre. Além, é claro, de ser o país agredido, tal como a Ucrânia.

Uma questão inquieta: e os reféns aprisionados pelo Hamas? A última notícia é arrepiante, já que o grupo terrorista ameaça executar um refém a cada bomba lançada por Israel sobre Gaza. Meu Deus!

O venerável Sir Bertrand Russell, um dos fundadores do nosso Pen Clube Internacional em Londres, estava coberto de razão: Como países cultos como Alemanha e Itália puderam alimentar trogloditas como Hitler e Mussolini?

Como um país de Golda Meir e Ben-Gurion pode ser liderado por um Bibi?

RICARDO CRAVO ALBIN – Jornalista, Escritor, Radialista, Pesquisador, Musicólogo, Historiador de MPB, Presidente do PEN Clube do Brasil, Presidente do Instituto Cultural Cravo Albin e Membro do Conselho Consultivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Em função das boas práticas profissionais recebeu em 2019 o Prêmio em Defesa da Liberdade de Imprensa, Movimento Sindical e Terceiro Setor, parceria do Jornal Tribuna da Imprensa Livre com a OAB-RJ.

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