Por José Carlos de Assis

O general Villas Boas, ex-comandante do Exército, escreveu a Bolsonaro uma carta com elogios e estímulo. Não podia ser de outra forma. O general foi o principal cabo eleitoral de Bolsonaro na área militar. Deve estar dando ao presidente o benefício do tempo: em algum momento, no futuro, considera que o governo Bolsonaro começará a dar certo. É uma espécie de “pensamento desejoso”, coisa que todo mundo tem, e alguns acertam.

Villas Boas provavelmente entende que um ano é muito pouco para se avaliar o desempenho de um governo. A avalanche de problemas de curto prazo na qual está embaralhado consome as energias do Presidente de tal forma que compromete também as iniciativas de longo prazo. Numa perspectiva realista, curto prazo e longo prazo se confundem, atropelando a capacidade de planejamento do governo.

Deve ser nesse sentido que Villas Boas escreveu ao Presidente com elogios e estímulos. Ele espera que Bolsonaro se desembarace do curto prazo, onde há realmente problemas consideráveis, para atacar os problemas futuros. Por enquanto, é preciso torcer pelo êxito da equipe econômica. Claramente Paulo Guedes vem demonstrando grande ineficiência, o que traz um embaraço adicional porque ele é praticamente irremovível.

A condição física do general Villas Boas, portador de uma doença incurável, lhe dá uma espécie de atestado de sinceridade e coragem na avaliação do governo. Ele não precisa de elogiar o governo Bolsonaro de forma insincera; pode fazê-lo com a honestidade de quem encara suas próprias condições físicas com estoicismo. Naturalmente que outros podem divergir da avaliação do governo de Villas Boas, mas não poderão falar que mentiu.


JOSÉ CARLOS DE ASSIS  é jornalista, economista, escritor e doutor em Engenharia de Produção pela Coppe/UFRJ, autor de mais de 20 livros sobre economia política. Colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), é pioneiro no jornalismo investigativo brasileiro no período da ditadura militar de 1964. Autor do livro “A Chave do Tesouro, anatomia dos escândalos financeiros no Brasil: 1974/1983”, onde se revela diversos casos de corrupção. Caso Halles, Caso BUC (Banco União Comercial), Caso Econômico, Caso Eletrobrás, Caso UEB/Rio-Sul, Caso Lume, Caso Ipiranga, Caso Aurea, Caso Lutfalla (família de Paulo Maluf, marido de Sylvia Lutfalla Maluf), Caso Abdalla, Caso Atalla, Caso Delfin (Ronald Levinsohn), Caso TAA. Cada caso é um capítulo do livro. Em 1983 o Prêmio Esso de Jornalismo contemplou as reportagens sobre o caso Delfin (BNH favorece a Delfin), do jornalista José Carlos de Assis, na categoria Reportagem, e sobre a Agropecuária Capemi (O Escândalo da Capemi), do jornalista Ayrton Baffa, na categoria Informação Econômica.