Por Iata Anderson –

“Vai começar o mais charmoso campeonato do futebol brasileiro”.

Não se assuste se ouvir a frase em alguma transmissão esportiva nas rádios ou TV. Com certeza isso vai acontecer, resultado de um trabalho que não se renova, se prepara, com todos os recursos que a internet oferece. Claro, você sabe a que se referem os tais profissionais que ainda acreditam – ou não – que o campeonato carioca ainda é o mais importante do país, como nas décadas de 1950 até aparecer a turma do charuto e do champanhe, as papeletas amarelas, malas pretas, tapetão, etc. Penso que o último campeonato realmente charmoso foram aqueles dominados pela máquina tricolor, montada pelo sempre presidente Francisco Horta, uma visão muito acima do seu tempo, que tive o privilégio de entrevistar, conviver, trocar mensagens, até hoje. Claro, houve a fase do Flamengo, de Zico e Cia. mas a análise não foca individualmente times ou jogadores, mas a estrutura, no geral. Houve época charmosa, sim, como jogar em Conselheiro Galvão, casa cheia, visitar o alçapão da Rua Bariri, as intermináveis viagens a Campos para encarar Americano e Goitacás, nada fácil. Sobravam craques, isso é charme, torcida vai atrás, que ver o “cobra”, jogador de seleção. Quem não queria ver o Botafogo, com metade da seleção brasileira, bicampeã do mundo em 1962, hoje vendendo seu futebol para empresários? Maracanã lotado, maior público de todos os tempos, no mundo, mais de 177 mil pagantes, num inesquecível Fla x Flu com talco e charanga nas arquibancadas, isso era charme.

As coisas mudaram, o tempo também, não importa, sou saudosista, sim, melhor que ser estúpido de acreditar que o Rio, com apenas dois jogadores na atual seleção, tem o futebol mais charmoso do Brasil.

FLA x FLU. (Foto: Mailson Santana / Fluminense FC)

Mais que um empate com sabor de virada, o torcedor merengue jamais esquecerá a homenagem que o clube prestou a Francisco “Paco” Gento, lendário ponta esquerda falecido na última terça-feira, aos 88 anos. Gento chegou a Madrid com 19 anos, vindo do Racing Santander, jogou durante 18 anos, mesmo período em que serviu a seleção espanhola, conhecida à época como Fúria, eliminada na copa de 1962, no Chile, numa das mais vergonhosas arbitragens de todas as Copas, a favor do Brasil, que seria bicampeão mundial. Presidente de Honra do clube, Gento fez história ao lado de outros magníficos jogadores como Di Stéfano, Puskas, Kopa, Rial,  Santisteban, Pirri, Amancio, Santamaria e Araquistain, entre outros, que ajudaram a construir a história do maior clube do mundo, nas mãos do então treinador Santiago Bernabéu. Formou com Canario, ex-America, Del Sol, Di Stéfano e Puskas o mais fabuloso ataque do futebol europeu em todos tempos, campeão das cinco primeiras Copa da Europa, hoje Champions League, de 1955/56 a 1959/60 e mais uma em 1961/62, sendo o único jogador do mundo a vencer seis vezes o mais importante torneio de clubes europeus. Mais 12 vezes campeão espanhol, em 600 jogos e 182 gols, Gento conquistou 23 títulos pelo Real Madrid, igualado recentemente por Marcelo, em 16 temporadas, ao conquistar a Supercopa da Espanha, como capitão, taça oferecida aos torcedores no empate contra o Elche (2×2), no Santiago Bernabeu.

Inexplicavelmente, Marcelo foi para o banco de reservas, barrado, uma vez mais, por Mendy, a maior aberração de toda história do futebol mundial.

Francisco “Paco” Gento recebe o Prêmio Nacional de Esportes, em 3 de março de 2014 em Santander, Espanha. (Crédito: Juan Manuel Serrano Arce/Getty Images)

A famosa “Copinha” marcou mais um episódio de violência contra o futebol, a sociedade, e os adolescentes que dela participam. Um punhal foi atirado ao gramado durante o jogo Palmeiras x São Paulo, em Barueri, com vitória do Verdão, classificado para a final, contra o Santos, terça-feira, aniversário da cidade de São Paulo. Uma vez mais vimos o quanto estão despreparados para eventos desse porte, imprensa (Sportv), que nada informa, com medo de falar o tempo todo, omitindo fatos, sem liberdade ou conhecimento para informar o que se passa durante os jogos, sistematicamente. Fica tudo 0x0 e estamos conversados, fizemos a nossa parte. A polícia diz ter feito a sua parte, revistando alguns torcedores, impossível fazer isso com todos, não viu quem atirou a arma branca no gramado, dificilmente terá um culpado, a não ser que “escalem” alguém para pagar a conta. E nós, simples amantes do futebol, ficamos, outra vez, decepcionados com o que acontece nos gramados e, mais grave, a falta de informação. No meu tempo a gente se preparava para as transmissões, checava tudo, informava.

Hoje o repórter apenas dá substituições e olhe lá.

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.


Tribuna recomenda!