Por César Aira

Que absurdo, pensou ele, sem os versos brotando dele (sozinho, diria por sua própria iniciativa), escrever essas coisas em verso. A prosa não era mais adequada? Quem teve a ideia de verificar as tábuas de marés ou os métodos de extração do ferro? Era uma aberração, e pior ainda era que todos achavam que era sublime. Esta era a sua opinião a partir de sua posição como poeta. Fazendo versos desde a infância, descobriu que não significavam nada; e vivendo tinha descoberto que a linguagem era usada para dizer coisas. Havia uma incompatibilidade, que era o que o havia comprometido com a poesia. Porque a poesia, não querendo dizer nada com o instrumento usado para dizer as coisas, dizia alguma coisa, que era ao mesmo tempo alguma coisa e nada. Ele adorava esse quebra-cabeça, mas estava convencido de que não poderia durar. Era muito extravagante. Isso a tornou mais preciosa. Efêmera, a poesia era uma flor rara que se abriu por acaso, e o milagre quis que ela se abrisse em vida. No futuro, uma humanidade mais razoável faria bom uso da prosa.

Intercâmbio de comunicação entre o Jornal digital Debate y Convergencia e o Jornal Tribuna da Imprensa Livre.

Tradução: Siro Darlan de Oliveira.

***

Una flor rara

Qué absurdo, pensaba, sin que los versos dejaran de brotarle (solos, se diría que por iniciativa propia), escribir estas cosas en verso. ¿No era más adecuada la prosa? ¿A quién se le ocurre, versificar las tablas de mareas o los métodos de extracción del hierro? Era una aberración, y peor todavía era que a todo el mundo le pareciera sublime. Esto lo opinaba desde su posición de poeta. Haciendo versos desde la infancia, había descubierto que no querían decir nada; y viviendo había descubierto que el lenguaje servía para decir cosas. Había una incompatibilidad, que era lo que lo había comprometido con la poesía. Porque la poesía, al no querer decir nada con el instrumento que servía para decir cosas, decía algo, que era a la vez algo y nada. Amaba ese enigma, pero estaba convencido de que no podía durar. Era demasiado extravagante. Eso se la hacía más preciosa. Efímera, la poesía era una flor rara que se había abierto por casualidad, y el milagro había querido que se abriera justo cuando él vivía.

En el futuro, una humanidad más razonable haría buen uso de la prosa.

CÉSAR AIRA – Romancista, dramaturgo, tradutor e crítico literário. Seu primeiro romance, Moreira, apareceu em 1975, e desde então publicou mais de sessenta volumes, entre romances, contos, teatro e ensaios. Sua obra é traduzida em todo o mundo, incluindo França, Estados Unidos, Rússia, Itália e México. Aira é também professor universitário em Buenos Aires, onde vive e escreve pelo menos dois livros por ano.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


Tribuna recomenda!