Por Iata Anderson –

Nada surpreende mais em futebol do que imaginar uma vitória antes de começar o jogo.

De tanta bobagem que ouvimos nas péssimas transmissões desse mundial, fico com a simplista definição propagada por Jair Pereira: “Jogo é jogado, lambari é pescado”, o máximo. É simples assim, cada um na sua, no lugar certo, momento exato.

Assim, a Croácia encarou o gigante Brasil, com suas cinco estrelas no peito e não se apequenou.

Fez o dever de casa, jogando com cautela, jogando para não tomar gol, fazendo, se der, sempre imaginando que prorrogação e “pênaltis” estão incluídos no cardápio. Assim, de empate em empate, pode chegar á final, como fez no mundial da Rússia, melhor campanha da história. Dessa forma, o técnico Dalic poderá levar mais adiante a melhor geração croata da história, liderada pelo mágico Luka Modric, para meu gosto o maior jogador do mundo, aos 37 anos. Além disso, a seleção vice campeã do mundo apresentou até o momento o jovem Dominik Livakovic, de 27 anos, atua no Dínamo de Zagreb e estava no banco na copa da Russia, melhor goleiro do torneio até o encerramento das quartas de final. Defendeu três pênaltis contra o Japão, o primeiro, de Rodrygo, terceiro goleiro a defender quatro pênaltis em copa do mundo. Tratando de definir suas linhas, procurando dificultar o trabalho do meio campo brasileiro, a Croácia impôs seu futebol, mistura de força e disposição tática, foi melhor no primeiro tempo e acabou sofrendo o primeiro gol, belíssimo por sinal, de Neymar. Parecia que estava aberta a porteira. Não estava, os croatas equilibraram o jogo, imaginando que poderiam levar o jogo até os pênaltis, lembrando 2018, quando subiram ao pódio para as medalhas de prata. E conseguiram a segunda vitória da marca do pênalti, segunda prorrogação seguida, muito ruim para quem tem um líder técnico com 37 anos. O Brasil, bem, a seleção brasileira não terá explicações a dar porque seus jogadores não voltarão ao país, coisas do futebol moderno, nada demais. O treinador entrega o cargo, como prometeu e estamos conversados, vai começar novo “projeto”, caríssimo como o atual, corrigido, claro, para completar 24 anos sem título. Não discuto critérios nem trabalho de treinador, que ganha muitíssimo bem para fazer seu trabalho e quer ganhar jogos como qualquer um de nós, torcedores. Mas custava escalar Neymar, melhor batedor do time, para iniciar a serie?

O “trabalho foi feito”, futebol é assim mesmo, uma caixinha de surpresa, vamos ver o que o professor vai dizer, sem o consagrado “levantar a cabeça e trabalhar”.

Já escrevi algumas vezes que não sou fã do trabalho do treinador da seleção, que teve muito tempo para montar um time, com suas alternativas, e chegou ao Catar com dúvidas. Cobrei isso algumas vezes, ou melhor, sempre achei que essa era a função principal do comandante da tropa. Isso não aconteceu. A criticada convocação de Daniel Alves tinha suas razões, talvez fosse a hora de levar mais um jovem, com tantos outros, pensando em 2026. Tanto que o veterano lateral foi como reserva, na hora que o titular machucou houve uma improvisação. Isso é incoerência. Nos tempos modernos o melhor batedor começa a série de “pênaltis”, isso não aconteceu. Rodrygo, 21 anos, é batedor, quando Benzema não joga, nem Modric, o segundo batedor. Bate melhor que aquilo que fez, iniciando a série. São avaliações feitas antes da eliminação para os vice-campeões atuais. Não acho justo o que os engenheiros de obras feitas se rasgaram em todos os espaços possíveis, em busca de audiência ou querendo aparecer além do que merecem. Não leva a nada. Nada mais importante para um profissional sério que uma boa crítica.

Esse histerismo que vimos após a eliminação é deplorável.

Um absurdo a Fifa insistir ($$$) em prorrogação, lembrando que na copa da Rússia a Croácia disputou três desses períodos, o que equivale a uma partida a mais – 90 minutos – mesmo assim achegou á final, contra a França. Quem pode garantir que esse desgaste absurdo não teve influência no resultado?

Doía nos meus ouvidos a definição de que “pênalti é loteria”, nos meus tempos de ouvinte, radinho colado ao ouvido, nas arquibancadas. Fui criado assim, como qualquer menino do meu tempo até poder usar o microfone – entenda “canhão – da rádio Globo, que varria o Brasil em todos os cantos. Quando achei que chegara o tempo, discuti com um colega sobre tal definição, tão mentirosa quanto absurda. Fui fundo e dei detalhes, pois estudar futebol sempre foi uma das minhas manias. A única vez que bati um pênalti, na praia, o goleiro defendeu, foi a maior lição que eu poderia tirar. Desenvolvi, entrevistando batedores famosos, como Zico e Roberto Dinamite, além de goleiros amigos. Criei minha tese e me tornei um dos ferrenhos defensores da nova ideia. Não reivindico ser o primeiro mas, com certeza, quando lancei no ar jamais tinha ouvido outra pessoa desenvolver o tema. Bater pênalti requer técnica e equilíbrio emocional, o momento, ou Carlos Alberto Torres não teria sido o cobrador oficial do Santos, não o Pelé.

Gonçalo Ramos entrou no lugar de Cristiano Ronaldo, fez três gols, primeiro Hat-Trick da copa do mundo, arrancou aplausos de todo o lado português do estádio Lusail, e proporcionou grandes gafes da mídia falida do futebol, que não se preparou para substituir as lendas da comunicação, como tenho dito, não me canso de repetir. CR7 não foi barrado, nem será, enquanto não perder para o tempo que, sempre implacável tratará de agendar sua aposentadoria dos gramados, oficialmente. Mas que há alguma coisa estranha nisso tudo não tenho a menor dúvida.

Das seleções que eu pensava torcer, Portugal, Espanha e Brasil voltaram mais cedo, restando apenas a Croácia, do melhor jogador do mundo, Luka Modric, monstro do melhor meio-campo do planeta com Tchouameni e Toni Kroos, umas das ausências desse mundial. Penso que a final será repetição do mundial da Rússia. Dependendo de como acordar no dia da final, Mbappé poderá levar a França ao tricampeonato. O mesmo pode ser dito de Messi, não é bom esquecer desse monstro de outro planeta. A Argentina está no bolo.

Nada que possa mudar o preço do etanol, mas eu reconheci mais jogadores da Inglaterra que os nossos “canarinhos”, que jogam na Europa, exceto Militão, Vini Jr e Rodrygo que atuam na Liga e nem vejo o campeonato inglês. Digo na hora dos hinos.

Se o “canarinho” voou, em 1982, porque o “pombo” não voaria no Catar?

IATA ANDERSON – Jornalista profissional, titular da coluna “Tribuna dos Esportes”. Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como as Organizações Globo, TV Manchete e Tupi; Atuou em três Copas do Mundo, um Mundial de Clubes, duas Olimpíadas e todos os Campeonatos Brasileiros, desde 1971.

Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com


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