Redação

O governador eleito de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), começa a assumir um papel que lhe permitirá no futuro, se desejar, tornar-se o rosto de um conservadorismo democrático, distante da marca nefasta do bolsonarismo. Tem demonstrado na montagem de sua equipe de governo a compreensão da nova situação política, uma vez que esteja instalado no Palácio dos Bandeirantes — e que o presidente Jair Bolsonaro esteja desalojado do Palácio do Planalto.

Apresentado por Bolsonaro como um técnico quando assumiu o Ministério da Infraestrutura, Tarcísio revelou conhecer o jogo político nos debates da campanha eleitoral contra o adversário Fernando Haddad, do PT.

DE OLHO NO FUTURO – Sem a agressividade tosca que define o “bolsonarismo raiz”, esse candidato improvável venceu as eleições com votos bolsonaristas e antipetistas. Começou a montar sua equipe de governo de olho no futuro, não no passado de ministro bolsonarista.

Afirmou no início da semana que jamais foi “bolsonarista raiz” e que não quer “guerra ideológica” no seu governo. “O Brasil está muito tenso e dividido, é preciso pacificar”, disse em entrevista à CNN Brasil.

Até agora, a única concessão que fez ao bolsonarismo ideológico foi na escolha do deputado federal Capitão Derrite (PL-SP) para chefiar a Secretaria da Segurança Pública. Linha-dura, Derrite disse ser contra o uso de câmeras no uniforme da PM. Era o que também dizia o próprio Tarcísio, até recuar alegando ser necessário avaliar os resultados. Eles já existem e são eloquentes: segundo estudo da Fundação Getulio Vargas, a ação de PMs com câmeras causa 50% menos mortes e 64% menos lesões.

RESPEITAR OS FATOS – Espera-se que Tarcísio respeite os fatos, assim como soube voltar atrás ao manter a obrigatoriedade de servidores se vacinarem contra a Covid-19, indo contra os ditames da cartilha bolsonarista.

Noutro ato de independência em relação a Bolsonaro, anunciou Gilberto Kassab, ex-ministro de Dilma Rousseff e presidente do PSD (partido da base parlamentar do futuro governo Lula), para o posto estratégico de secretário de Governo.

Também com a intenção de montar uma equipe de ministeriáveis, convidou o ministro Paulo Guedes para ocupar sua Secretaria de Fazenda. Guedes não aceitou, e o secretário será Samuel Kinoshita, da equipe dele no ministério, responsável pela coordenação do plano econômico do governador eleito no gabinete de transição.

NOVO MOMENTO – Outro nome de destaque que afasta Tarcísio do bolsonarismo é Guilherme Afif Domingos, o coordenador-geral da transição, também do PSD.

E a preocupação em ter um secretariado mais técnico e o mais distante possível da polarização que rachou o país demonstra que Tarcísio compreendeu perfeitamente o novo momento da política brasileira.

O país precisa de uma direita civilizada, capaz de defender suas ideias dentro das regras da democracia. Se mantiver o tom, o comando do maior estado da Federação fará de Tarcísio o ponto de referência natural para os conservadores legítimos, distantes dos lunáticos terraplanistas que idolatram Bolsonaro.

Fonte: O Globo

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