Por Luiz Carlos Prestes Filho

Para o especialista em Terceiro Setor, Takashi Yamauchi, o desenvolvimento econômico sempre deve estar interligado, envolvido e integrado com o social e o Meio Ambiente. Todo município brasileiro deveria focar nos seus arranjos produtivos empresariais, principalmente o Rio de Janeiro. O professor tem a convicção de que a elaboração de Balanços Sociais e Ambientais colaboram para estabelecer um relacionamento duradouro com instituições publicas e privadas: “O acompanhamento das despesas; documentos fiscais e contábeis; controle de fundos; financiamentos; investimentos privados; patrocínios; subvenções; renúncias fiscais; entre outros, podem e devem ter gestão transparente”. As informações disponíveis afirmam que o Terceiro Setor movimenta entre 1% e 4% do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil, patamar muito baixo quando comparado com outros países, até mesmo da América Latina. Nos Estados Unidos o movimento é de 35% do PIB, na Alemanha chega a 39%.

Luiz Carlos Prestes Filho: Qual a sua visão sobre o potencial da Economia da Cultura do Rio de Janeiro?

Takashi Yamauchi: O Rio de Janeiro é o berço da Economia da Cultura do Brasil, no entanto está extremamente desorganizado, com pendências junto a instituições públicas e governos, sendo assim há necessidade de profissionalizar a sua gestão.

Prestes Filho: A indústria poluente vem perdendo espaço no Estado do Rio de Janeiro. Deveríamos investir mais nas Cadeias Produtivas de Serviços Culturais?

Takashi Yamauchi: Devemos priorizar a cadeia produtiva do turismo, pois os dados estatísticos, comparado com outros países, demonstram que estamos bem aquém do nosso potencial. Uma pequena comparação: a Igreja Notre Dame, em Paris, recebe regularmente 13 milhões de turistas ano; o Brasil, de acordo com uma pesquisa do Ministério do Turismo, registrou cerca de 7 milhões de chegadas internacionais, em 2017.

Prestes Filho: Qual a sua visão, especifica sobre o nosso potencial?

Takashi Yamauchi: Temos um potencial sem exploração adequada. Por exemplo, o Carnaval do Rio de Janeiro está abandonado a própria sorte. Para dizer que o Carnaval hoje tem potencial é necessária a profissionalização de sua gestão; uma articulação eficiente com todas as empresas que se beneficiam da Cadeia Produtiva da Economia do Carnaval.

Carnaval de Rua do Rio (Divulgação)

Prestes Filho: O Rio de Janeiro foi sede de grandes eventos esportivos, temos uma vocação não explorada?

Takashi Yamauchi: Outra vez, o Carnaval do Rio de Janeiro, é a nossa primeira e mais importante expressão cultural no mundo, mas isso acontece apenas nos dias dos desfiles, o resto do ano não é explorado pela Economia do Turismo. Isso tem que mudar. Porque não fortalecer todas atividades estruturantes existentes no Carnaval? Não temos turismo, temos alguns eventos esporádicos, não há uma política de turismo, não exploramos os ativos existentes. O turismo que somente depende da participação do governo, não é turismo. Deveria haver uma participação das estruturas empresariais ligadas a Federação das Indústrias, Federação do Comércio e Associação Comercial. Tem que ter uma agência de desenvolvimento de turismo. O Rio de Janeiro não está explorando o potencial do Carnaval, apenas usando a beleza da sua natureza maravilhosa e recursos humanos criativos disponibilizados pela tradição histórica. Falta a presença do gestor privado.

Prestes Filho: Quais questões legais poderiam ser atualizadas?

Takashi Yamauchi: Devemos elaborar leis coerentes para com o turismo, articulando as mesmas com a Lei de Imagem, com a Lei de Paisagem, entre outras. Há necessidade urgente de atualizar aquelas agremiações carnavalescas que ainda não conseguiram se atualizar; devemos abandonar os modelos de estatutos absolutamente arcaicos; devemos estruturar ações complementares para que nenhuma escola de samba viva instabilidade financeira; acabar com qualquer inadimplência e possibilidade de dividas. O Carnaval deveria ser a base e fundamento do turismo do Rio de Janeiro. O Carnaval é o tema central da Cidade Maravilhosa. Inclusive, este evento deve estabelecer um compromisso ambiental. Esse item é obrigatório dentro de toda atividade turística. As escolas de samba deveriam realizar o seu balanço social e ambiental de acordo com a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC T 15), estabelecida pelo Conselho Federal de Contabilidade, isso está valendo desde 2004. Proponho mudanças que podem trazer novas fontes de recursos financeiros e gerar grande economia.

Prestes Filho: Deveríamos estabelecer um aliança estratégica com as universidades e os centros de pesquisas?

Takashi Yamauchi: Há muito tempo poderíamos ter criado um centro de tecnologia ligado ao Carnaval, baseado na Lei Federal 13.243/16 que dispõe sobre os estímulos ao desenvolvimento científico; à pesquisa; à capacitação científica e tecnológica; e a inovação. Essa lei veio para estimular as Instituições Científicas, Tecnológicas e de Inovação (ICTs). A Cidade do Samba deve ser entendida como um Polo Tecnológico. O setor de turismo mobiliza em torno de 70 segmentos da economia. Falta gestão! Tenho realizado reuniões com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e visitado algumas agremiações do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Tento mostrar que muitas mudanças estão em curso. Mas não são as mudanças que vão mudar a gestão, há necessidade de estruturar e mudar conceitos arraigados, quase transformados em tradições.


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Cineasta, formado na antiga União Soviética. Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local, colunista do jornal Tribuna da Imprensa Livre. Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009). É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).