Redação

Enquanto a possível atuação como “sócio laranja” do senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) despertava o interesse do Ministério Público (MP-RJ), Alexandre Santini já vinha, nos últimos meses, reiterando suas demonstrações de fidelidade ao clã Bolsonaro. Em setembro, três meses antes de ser alvo de busca e apreensão do MP, Santini chamou atenção durante o Rock in Rio ao tentar acessar o camarote onde estava o governador do Rio, Wilson Witzel, vestindo uma camisa com o nome do presidente.

Santini já havia posado sorridente ao lado de Witzel no camarote do governador na Marquês de Sapucaí, durante o carnaval. Após a relação entre Witzel e o presidente Jair Bolsonaro azedar, o sócio de Flávio na Bolsotini Chocolates e Café passou a disparar petardos contra o governador em suas redes sociais.

FAKE NEWS – Em uma dessas ocasiões, quando levantou suspeitas sobre um almoço entre o governador de São Paulo, João Doria, e Witzel em 2018, Santini foi confrontado pelo vice-governador Cláudio Castro no WhatsApp, que o acusou de estar disparando “fake news”. O sócio de Flávio publicou o diálogo nas redes e sugeriu que o vice de Witzel havia feito ameaças. Mas há outra versão.

— Ele deu a entender que foi barrado no camarote porque estava com a camisa do Bolsonaro. Na verdade, ele só estava sem a pulseira de acesso — explicou um interlocutor de Witzel.

Em um de seus perfis em redes sociais, a descrição de Santini carrega uma espécie de ensinamento sobre “três coisas que você precisa manter em segredo: seu faturamento, sua vida amorosa, seus próximos passos”.

SOCIEDADE – Para o MP, a participação de Santini na loja de chocolates aberta com Flávio Bolsonaro, em 2015, poderia ter o objetivo de “simular que os custos da operação teriam sido divididos igualmente entre os sócios da Bolsotini”. A aquisição da loja custou cerca de R$ 1 milhão, segundo documentos levantados pelo MP. Santini é responsável por metade do capital social.

No entanto, a investigação aponta que Flávio e sua mulher, Fernanda Bolsonaro, arcaram “com a integralidade ou pelo menos a maior parte das despesas”, embora não tivessem lastro para tanto. A compensação, ainda segundo o MP, veio nos três anos iniciais de atividade da loja, período em que Flávio recolheu lucros quase R$ 500 mil acima do valor angariado por seu sócio.

MAIS PÚBLICO… – Em vídeo publicado na quinta-feira, um dia após uma equipe do MP cumprir mandado de busca e apreensão na Bolsotini, Flávio Bolsonaro argumentou que retirava mais dinheiro da loja de chocolates porque “leva mais público ao local” do que o sócio.

Segundo o MP, embora figurasse como sócio responsável por metade da loja de chocolates, Santini não efetuou nenhum aporte de recursos na Bolsotini desde a abertura da empresa até dezembro de 2018.

“Portanto, a figura do sócio que de fato não arca com recursos próprios para a capitalização da sociedade levanta suspeitas de que Alexandre Santini possa ter atuado como ‘laranja’ do casal Bolsonaro na aquisição” da loja de chocolates, “a fim de camuflar a origem dos recursos investidos no empreendimento”, segundo o MP.

A cerimônia de inauguração da loja de chocolates reuniu nomes como Fabrício Queiroz, à época um ilustre desconhecido assessor de Flávio, do então deputado federal Jair Bolsonaro, passando por figuras como o ex-jogador Bebeto e o apresentador Wagner Montes, ambos colegas de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Uma das personalidades no evento, o ex-treinador de futebol Carlos Alberto Parreira, compareceu como convidado de Santini.

EXPORTADORA – Parreira havia se tornado sócio de Santini em uma exportadora, em 2012. Apresentados por um conhecido em comum, ambos embarcaram no negócio desenvolvido pela então mulher de Santini, Michele Fernandes — descrita por Parreira como a pessoa com “know how” do assunto. Alguns meses após a inauguração da loja de chocolates, no entanto, o casal Santini e Michele pulou fora da sociedade com Parreira.

— Já tinham se passado dois anos, uma empresa de exportação leva tempo para amadurecer no mercado. Então eles fizeram uma reunião e quiseram sair da sociedade. Comprei a parte deles com meu genro, hoje até que está indo bem — lembrou o ex-treinador.

EXIBICIONISTA – Herdeiro de uma família de ascendência italiana do interior de São Paulo, Santini costumava publicar nas redes fotos a bordo de itens de luxo, como jatinho, iate, helicóptero e carro importado, antes da guinada política no mundo virtual. O suposto “sócio laranja” de Flávio Bolsonaro também aparece sem camisa em algumas publicações, exibindo um físico musculoso cultivado na academia.

Segundo Parreira, seu ex-sócio, o pai de Santini trabalhou na empreiteira Odebrecht. O próprio Santini já teve um endereço de e-mail no domínio corporativo da Odebrecht.

Procurado pelo GLOBO para se manifestar, o sócio foi sucinto ao telefone. “Não tenho interesse”, disse. A reportagem do GLOBO também enviou mensagens, mas não obteve retorno.

Fonte: O Globo, por Bernardo Mello e Juliana Castro