Por Caio Ferraz –

Há certos tipos de humor e piada que ao invés de colaborar para um senso crítico e para criar um debate saudável diante de uma pandemia que já levou à óbito mais de 600 mil vidas de brasileiros e brasileiras, retirou nossa liberdade e estagnou nossa economia, servem para dar fôlego e forma a caça as bruxas e queimar toda nossa fantasia do único grande momento de catarse coletiva criado por nossos ancestrais da mãe África.

Bater o tambor é fazer ecoar o som de grito de pedido de socorro, é cantar aos deuses a alegria de ser e de poder viver da felicidade, ainda que por algumas horas/dias em que nossos irmãos negros são os donos da festa e da folia que criou o maior espetáculo da terra – o samba.

Saiba que quando você participa de uma campanha contra o carnaval, você está fazendo campanha contra a cultura, contra a diversidade, contra o maior e melhor produto de exportação do Brasil. A indústria do carnaval não só gera bilhões para o cofre de estados e municípios, ela gera milhares de empregos, alavanca o turismo e serve também para dar injeção de ânimo e aliviar as dores de um povo humilhado e massacrado diariamente pelas imensas perversidades perpetradas diariamente pela exploração e pela praga do racismo estrutural que temos no Brasil.

Por que ao invés de fazerem chacota contra o carnaval, as pessoas não fazem campanha contra jogos com público? Contra cultos nas igrejas? Contra viagens? Contra restaurantes e shoppings abertos?

Alguns dirão que igreja faz com que a fé cure a dor do medo, a comida sacia a fome do corpo e viagem alivia a dor do cotidiano de exploração e que carnaval não faz nada disso. Lamento contrariar o senso comum de vocês, mas é exatamente o contrário, posto visto que é no carnaval que a gente perde todos os medos, inclusive o medo do ridículo. É no carnaval que a gente mata a fome e a sede de amor, afeto e se esbalda de tesão pela vida. É no carnaval que a gente viaja na ideia de podermos ser reis e rainhas. É no carnaval que a gente pede licença para sermos coroados com a divina sensação da felicidade coletiva.

Fazer campanha ou participar de algo contra cultura foi exatamente o caminho percorrido e pavimentado pelos nazistas quando, na Alemanha, caçaram gays, ciganos, judeus e todos os que “não faziam parte” do que eles achavam que eram o modelo de gente capaz de produzir algo útil. Sabe por que? Porque matar quem cria arte, música, diversidade, inteligência crítica é a forma de calar e silenciar covardemente os que não são da tal elite culta, porém estúpida e tirana.

Cultura é e sempre será a melhor vacina contra a barbárie.

Ciência, sim!
Vacina, sim!
Carnaval, sim!
Barbárie, não!

CAIO FERRAZ é poeta, sociólogo e ativista de direitos humanos.

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