Por Pedro do Coutto –
A ONU revelou na quarta-feira informações extremamente importantes sobre a fome no mundo que atinge 10% da população universal, assinalando também que a insegurança alimentar no Brasil está atingindo 70,3 milhões de homens e mulheres que ao anoitecer não têm certeza de que poderão se alimentar a partir da manhã seguinte.
É preciso destacar que 30 milhões de brasileiros e brasileiras passam fome e assim tornam-se mais vulneráveis às doenças, inclusive porque metade da população de nosso país não conta com rede de tratamento de esgotos, e um terço não consome água potável.
GRAVE SITUAÇÃO – A fome é um fenômeno terrível, desesperador e depressivo que faz com que, como a GloboNews revelou no jornal de quarta-feira, pessoas recorram ao lixo para buscar alimentos. É uma vergonha que um dos maiores produtores de alimentos do mundo, o Brasil, exportador de grãos e carne, principalmente, não tenha disponibilidade de produtos para serem consumidos pela sua própria população.
Trata-se de um processo deplorável que se agravou acentuadamente no governo Jair Bolsonaro, sobretudo porque os salários perderam disparados para a inflação. Permaneceram estacionados, enquanto os preços dispararam. Agora, sobem menos, mas o déficit acumulado tem consequências dramáticas que não foram ainda resgatadas.
O programa Bolsa-Família é um investimento assistencial extremamente importante. Mas por si só, não resolve o desafio porque não influi na redistribuição de renda. Em matéria de concentração de renda – exatamente o oposto – os juros da Selic estão funcionando como um instrumento de pressão terrível, inclusive porque só podem usufruir os resultados das aplicações com base nestes juros, os que possuem altos recursos financeiros.
RETRAÇÃO – A população, é claro, não pode fazer aplicações em títulos públicos à base de 13,75% ao ano Com isso, os investimentos econômicos se retraem dando lugar às aplicações financeiras que concentram a renda nacional cada vez mais. O relatório da ONU é focalizado no O Globo em reportagem de Alice Cravo e Jeniffer Gularte. Na Folha de S. Paulo a reportagem é de Lucas Lacerda. É incrível como a situação de fome não motiva e desperta consciência dos que concentram a renda. O fenômeno é mundial e se repete há dois mil anos depois da morte e ressurreição de Jesus Cristo.
O posicionamento conservador, no fundo, significa um impulso favorável a esse absurdo no século XXI. No Brasil, a campanha eleitoral vitoriosa do presidente Lula da Silva assegurou o combate frontal à fome. Ele está, sem dúvida alguma, empenhado nesse propósito, mas para isso terá que enfrentar os desafios contidos na valorização do trabalho humano, na expansão do mercado de empregos e na desconcentração de renda que abalam o país. As imagens da noite de quarta-feira na GloboNews não são novas, mas repetem cenas de alguns anos na Venezuela, onde milhares de pessoas foram ao lixo em busca de alimentos e sobrevivência.
APELO – Agora, a cena humilhante se repete no Brasil, o lixo transforma-se em fonte de alimentação e combate ao flagelo da fome. Trata-se de um quadro negativo e depressivo que representa sobretudo um apelo à consciência de todos os que conseguem se alimentar, vivendo longe dos rios de esgoto que passam nas portas e seguem o traçado das ruas das favelas cariocas e de todo o país.
O combate à fome desperta a solidariedade humana, mas ela sozinha, conforme os fatos comprovam, não pode derrotar a humilhação. O governo precisa agir urgentemente para desconcentrar a renda e valorizar os salários. Sem isso, a fome vencerá mais uma vez em nossa história. Vamos esperar que o quadro se altere para muito melhor.
PETRÓLEO – Nicola Pamplona, Folha de S. Paulo de ontem, revela que o preço do barril de petróleo (159 litros) ultrapassou os US$ 80, causando provavelmente um aumento dos produtos refinados, como a gasolina e o óleo diesel, além do GLP, gás liquefeito do petróleo.
O Brasil é exportador de petróleo bruto, portanto, o aumento do mercado internacional o beneficia, mas ao mesmo tempo é importador de gasolina e diesel, entre outros produtos refinados, o que representa acréscimo das despesas. O preço do petróleo no mercado internacional, entretanto, abre a oportunidade para que finalmente a Petrobras realize um cálculo essencial; qual a receita que decorre do aumento do óleo bruto e qual a despesa que a consequência nos refinados que importa?
No governo Bolsonaro fazia-se o cálculo apenas do aumento da despesa e se esquecia do aumento da receita. É preciso, conforme todos perceberam, que sejam realizados dois cálculos simples: o que acrescenta de um lado e o que retira de outro. Conhecer o saldo, seja negativo ou positivo, é uma medida fundamental para as contas da Petrobras e do próprio país.
ATIVOS IMOBILIÁRIOS – Em reportagem publicado no O Globo de quarta-feira sobre a ideia da construção de um condomínio residencial na área que foi de Furnas, Selma Schmidt, no final do texto, acentuou que por uma medida estabelecida pelo governo federal, até 20230, os fundos de pensão e de complementação de aposentadoria terão que se desfazer dos investimentos do setor imobiliário.
Confirmada tal hipótese, ela acarreta uma desvalorização desses imóveis pelo aumento da oferta no mercado e, na minha opinião, não faz sentido, a não ser apenas o de aumentar as aplicações financeiras e a mobilidade do mercado.
PEDRO DO COUTTO é jornalista.
Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ). Envie seu texto para mazola@tribunadaimprensalivre.com ou siro.darlan@tribunadaimprensalivre.com
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