Por Luiz Carlos Prestes Filho

Em entrevista exclusiva para o jornal Tribuna da Imprensa Livre, Simão Sessim, líder político brasileiro que comemora dia 8 de dezembro de 2020, 85 anos de vida e 50 de lutas, afirma: “Continuo entusiasmado por tudo que preguei na minha longa carreira política. Em especial, defendo a Constituição de 1988, que ajudei a elaborar. Luto pela consolidação da democracia no Brasil. Não aceito qualquer movimento ou insinuações que venham ameaçar o regime democrático de direito”. Parlamentar, que teve 10 mandatos de deputado federal, relembra momentos marcantes de sua vida:

“Quando conclui o curso no CPOR, sai aspirante a oficial do Exército e logo a seguir fui para o estágio no Regimento Escola de Artilharia, onde fui promovido a 2º Tenente da Reserva, o que sou até hoje. Tendo sido um bom aspirante, com promoção, o Exército me ofereceu vaga para continuar. Como somente havia chance de servir no curso de paraquedista, que estava começando no Rio de Janeiro, declinei e escrevi na inscrição: “Quero um meio de vida, não de morte!”

Simão Sessim teve 10 mandatos de deputado federal, 40 anos de atuação parlamentar (Fotos: Divulgação)

Luiz Carlos Prestes Filho: A caminhada continua Simão?

Simão Sessim: Nunca parei! Trabalhei como professor lecionando, dirigindo o Instituto de Educação de Nova Iguaçu e o Colégio Aidano de Almeida. Fui Secretário de Educação de São João de Meriti e de Nova Iguaçu; procurador Geral da Prefeitura de Nilópolis. Em 1973 iniciei a carreira política, quando fui prefeito de Nilópolis para o período de 1973/1977. Depois fui assessor parlamentar e deputado federal, entre 1979 e 2019. Ao todo foram 10 mandatos consecutivos. Atuei no Congresso Nacional até 2019, quando não fui reeleito.

Neguinho da Beija-Flor, Simão Sessim e Agnaldo Timóteo

Hoje estou representante do Governo do Estado do Rio de Janeiro, em Brasília. Mas tenho como prioridade, nos próximos anos, ajudar o meu sobrinho, Abraãonzinho, que acaba de ser eleito prefeito de Nilópolis. Temos que concluir o Hospital Juscelino Kubistchek, iniciado no governo do prefeito Farid Abrão, quando aprovamos a verba de R$15 milhões junto ao presidente da República, Michel Temer. Entendo que a minha experiência me autoriza a continuar a obter recursos públicos do Governo do Estado e do Governo Federal para Nilópolis e outros municípios da região.

Mas se Deus quiser, volto para a Câmara dos Deputados na próxima legislatura. Ao atingir o recorde de 11 mandatos, serei o decano daquela casa.

No centro: Farid Abrão, Michel Temer e Simão Sessim

Prestes Filho: De onde vem essa garra e vivacidade política? Quem inspirou você a entrar na política?

Simão Sessim: Sempre tive enorme determinação nas missões que recebi. Trabalhar, lutar incessantemente procurando fazer bem feito tudo que assumo. No magistério, comecei muito jovem e cheguei a lecionar 14 aulas por dia em vários colégios e comunidades diferentes. A vivacidade política emergiu pela empatia, o grande amor, o bom relacionamento com colegas professores, alunos e pais. A inspiração surgiu, naturalmente, pela necessidade de ajudar a minha cidade abandonada, com líderes políticos ultrapassados e sem identidade com a população. Primeiro lançamos o meu irmão, Jorge David, para deputado estadual e ele foi eleito. Depois, fui candidato a prefeito e fui eleito. Então, sai do ar puro da sala de aula, para o ar pesado da política.

Nilópolis é uma das treze cidades da Baixada Fluminense e um dos menores municípios do Brasil (Reprodução/arquivo Google)

Jovem, ganhei a eleição de prefeito de Nilópolis com apoio da família, amigos e, principalmente, professores e alunos. Naqueles anos, peguei uma prefeitura falida, com salários atrasados em seis meses. Acertei as finanças, implantei um programa de saneamento básico que permitiu o fechamento de grandes valões no bairro da Chatuba. Foram cerca de 7 km de redes de esgotos e drenagem, o que ajudou no combate às doenças e enchentes. Também, construímos a rodoviária, liberando o trânsito caótico do centro da cidade. Edificamos o viaduto sobre a linha férrea. Melhoramos a área da educação e a saúde voltou a funcionar com o nosso saudoso Hospital Juscelino Kubistchek, atendendo toda Baixada.

Uma vez que Nova Iguaçu e São João de Meriti a época não tinham hospitais. Pavimentamos as principais estradas, interligando os bairros. Enfim, transformamos Nilópolis na melhor cidade da Região Metropolitana. Saímos com aprovação altíssima, o que serviu para o meu crescimento político. Em seguida, convidado pelo governador Faria Lima, fui para a Fundação para o Desenvolvimento Econômico da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (FUNDREM). Quando participei do planejamento e da realização de grandes projetos nas cidades de Nova Iguaçu, Nilópolis, São João de Meriti e Duque de Caxias. Foram mais de 200 km de estradas asfaltadas! Levantamentos aerofotogramétricas dos municípios de toda a região, o que proporcionou a implantação dos cadastros fiscais e melhorias da arrecadação do IPTU. Nesse momento, em 1978, me candidatei a deputado federal, quando, aos 42 anos de idade, fui eleito.

Como disse acima, depois fui reeleito para 10 mandatos consecutivos para trabalhar no Congresso Nacional, instituição que considero ser a grande universidade da política brasileira.

O prefeito eleito Abraãozinho David com o atual prefeito de Nilópolis, Farid Abraão, a vice prefeita Jane Louise David, Ricardo Abraão (presidente da Beija-Flor) e o ex-deputado Simão Sessim

Prestes Filho: Aos 85 anos, por favor, relembre seu pai, sua mãe, a família.

Simão Sessim: Meus pais, Sessim David e Regina Simão, eram libaneses, nasceram na vila Deddeh, que fica no distrito de Koura, perto de Trípoli, norte do Líbano. A palavra Koura, significa: país. Casaram-se cedo e vieram para o Brasil na década de 1920, fugindo da fome e dos desesperos causados pela 1ª Guerra Mundial. Com eles vieram meus tios Abraão David e Júlia David. Antes a mãe do meu pai e do meu tio, vovó Catarina, já havia fugido do Líbano, com pavor da guerra, grávida, com seu filho, Jorge Juan. Curioso é que, não sabendo se expressar, ela falava que o destino era a capital do Brasil. Certa de que a capital do Brasil era Buenos Aires, terminou indo para lá, onde teve o filho Jorge, meu tio mais novo, casado, posteriormente, com a tia Joana. Anos depois meu tios conseguiram trazer todos da Argentina para o Brasil.

República do Líbano é um país localizado na extremidade leste do mar Mediterrâneo, na Ásia Ocidental, numa região que faz ligação entre esse continente e a Europa. Faz fronteira com a Síria ao norte e a leste e com Israel ao sul e a oeste (Fonte: Wikipédia)

Naquela época os libaneses chegavam ao Brasil com o passaporte turco, uma vez que o Líbano era dominado pela Turquia. Por isso, é que nós, até hoje, somos chamados de turcos e não de libaneses, nossa verdadeira origem. Meu pai e meu tio Abraão, moraram um tempo na casa do meu tio Salomão, em Ricardo de Albuquerque. Mesmo sem saber falar português saiam às ruas como mascates, levando nas malas miudezas que vendiam para garantir o sustento. Evoluíram, vieram para Nilópolis onde construíram seus armarinhos. Assim, nossa garra, nosso amor pelo Brasil e nossa grande gratidão a Nilópolis nasceram. Tudo fruto da excelente acolhida que tiveram das famílias brasileiras. Em especial, as famílias nilopolitanas que lhes devotaram respeito. Meu pai, mãe e tios, sempre foram vizinhos, nas residências e nas lojas comerciais. As esposas faziam roupas que vendiam nos armarinhos. Meu pai era rigoroso, exigia muito que estudássemos e não admitia reprovação na escola. Uma imagem que ficou gravada em mim, foi quando minha mãe morreu, em casa, no parto do 9º filho. Morreram ambos. Eu tinha 9 anos. Lembro o desespero do meu pai, sendo amparado pelo tio e amigos. Para meu pai foi muito difícil cuidar de 8 filhos. A nossa imensa gratidão a tia Julia, nossa segunda mãe, que cuidou da família. Ela já tinha 8 filhos, então teve que cuidar de 16! Foi ai que meu pai resolveu matricular a mim, minha irmã Marlene e meu irmão Getúlio num internato, no Colégio Silvio Leite no Lins de Vasconcelos, Meier, subúrbio do Rio de Janeiro. Foi um ano de muita tristeza. Eu com 9 anos e irmãos menores em lugar estranho, tendo que conviver com pessoas diferentes. Apesar da disciplina rigorosa, sofríamos bülling dos garotos maiores nos recreios e na hora da merenda. Os inspetores faziam vista grossa. Nos agrediam para tomar a nossa merenda.

Só tinha alegria uma vez por mês, quando meus irmãos ou o meu pai vinha nos buscar para um fim de semana em casa.

Prestes Filho: Quais principais fatos que influenciaram sua vida pessoal e política?

Simão Sessim: Na vida pessoal, influenciaram negativamente a morte de minha mãe e a passagem pelo colégio interno, que mais parecia uma prisão. Sem dúvida o fato mais lamentável foi a morte de meu irmão mais novo, Nagib, dentista e professor, brutalmente assassinado no dia do seu aniversário. Era casado, diretor do Instituto de Educação de Nova Iguaçu. Ele morava comigo. Foi uma fatalidade! No dia seguinte era prova de admissão no instituto e eu pedi que ele não comemorasse o aniversário, uma vez que iríamos sair cedo para aplicar as provas. Ele disse que ia apenas dar uma chegada na praça perto de casa e que voltava logo. Fui dormir. Acordei com a notícia de que ele foi a um baile em Coelho Neto, num Volkswagen acompanhado de quatro amigos. Houve uma discussão com seus amigos, por causa da namorada de um policial militar. Ele tentou apaziguar. Quando saíram do baile o carro foi alvejado e ele foi o único atingido. Morreu oito dias depois.

Simão Sessim com o Papa Francisco

Outro fato negativo que me abalou muito, foi a morte da minha esposa, em 16 de julho de 2001. Estávamos num SPA, num hotel em Teresópolis, oferecimento do querido ministro Francisco Dornelles. No primeiro dia, a beira da piscina ela sofreu um infarto com parada cardíaca. O hotel não tinha desfibrilador e foi socorrida em hospital distante, cerca de 30 minutos. Reanimada, várias vezes, não resistiu. Foi o dia mais desesperador de minha vida. Como dá para perceber, lembro de todos os fatos de minha vida pessoal. Recordo da infância, do convívio incessante com os meus primos e amigos, muitos daqueles com quem conservo uma relação próxima até hoje. Época quando eu gostava de jogar futebol, bola de gude e botão. Como eram deliciosas as aventuras da adolescência, sempre ao lado dos primos, com bailes, namoros e festas. Fazíamos vaquinha para comprar e dividir lanches.

Nos sonhos da mocidade nunca me imaginei prefeito e deputado. Tudo era simples. O projeto de vida era trabalhar, viver de maneira independente do meu pai, casar e ter filhos.

Prestes Filho: Quando você começa exatamente sua vida profissional?

Simão Sessim: Quando comecei no magistério fui obrigado a servir o exército, cursando no Centro de Preparatório de Oficiais da Reserva (CPOR). Foram dois anos na Arma de Artilharia, com ênfase nos meses de férias: julho, janeiro e fevereiro. Nos outros meses, as aulas e exercícios eram aos domingos. Como pegava o trem, às 3 horas da manhã, não dormia. Colocava o uniforme no banheiro dos salões das festas ou dos bailes que frequentava. Voltava às 14 horas, sem almoço, e ia direto jogar no meu time, o Comercial Futebol Clube. A noite eu ia com a namorada para o cinema e entrava de graça, porque o porteiro era o técnico do time. Concluindo o curso no CPOR, sai aspirante a oficial do Exército e, logo a seguir, fui para o estágio no Regimento Escola de Artilharia (RESA), onde fui promovido a 2º Tenente da Reserva, o que sou até hoje. Tendo sido um bom aspirante, com promoção, o Exército me ofereceu vaga para continuar.

Como somente havia chance de servir no curso de paraquedista, que estava começando no Rio, declinei e escrevi na inscrição: “Quero um meio de vida, não de morte!”

Queria ser engenheiro, mas já lecionando, não tinha mais tempo, precisava ganhar dinheiro para casar. Namorei 10 anos e casei com uma mulher maravilhosa de família humilde. Ela foi uma grande companheira, excelente mãe e avó. Tenho muitas saudades. Foi importante – também – na minha trajetória política, principalmente quando virou esposa do prefeito, Primeira Dama; assistindo aos funcionários e pessoas carentes; promovendo o Natal; festas em geral; etc. Foram momentos de alegria, quando nasceram os nossos filhos Sérgio e Marcelo. Hoje homens formados que cursaram engenharia e medicina respectivamente. Posteriormente casaram e vieram minhas noras Sônia e Alessandra, em seguida os netos Sérgio, Simão, Saulo, Nathalia, Marcelinho e Sophia Vitória. Casado, professor, lecionando, conclui o curso de Direito na Faculdade Gama Filho. Pouco advoguei. A vida no magistério, os cargos de direção de escolas públicas, o amor pela minha comunidade me empurraram para a política. Logo no 1º mandato fui escolhido Coordenador da Bancada que tinha expoentes da política como Célio Borja, Álvaro Valle, Amaral Neto, Dancílio Ayres, Hideckel de Freitas e Lígia Lessa Bastos. O partido era a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Tinha excelente relacionamento com o presidente da República, General João Baptista Figueiredo, e com o ministro chefe da Casa Civil, General Golbery do Couto e Silva. Com a reforma política ingressei no Partido Democrático Social (PDS) com todos parlamentares citados acima, incluindo agora a Sandra Cavalcanti. Lembro do saudoso Léo Simões e do meu maior amigo na política, o deputado Rubem Medina. Logo no início do primeiro mandato apresentei um projeto de Emenda Constitucional que dava a Aposentadoria Especial para os Professores com 25 anos de serviços prestados. Aprovado na Câmara, esta emenda foi derrotada no Senado. Aconselhado pelo saudoso deputado Álvaro Valle, fizemos a seguinte alteração: valia 25 anos para mulheres e 30 anos para homens. Foi então aprovada a Aposentadoria Especial dos Professores, que permanece até hoje.

Nem a recente Reforma da Previdência conseguiu alterá-la, apesar do esforço do governo atual.

Rubem Medina, Laura Carneiro, Roberto Medina, Simão Sessim, entre outros

Prestes Filho: O ciclo democrático trouxe grandes momentos para a sua trajetória?

Simão Sessim: Nesse período ajudei a aprovar a Anistia, Ampla, Geral e Irrestrita que, em 1979, abriu as portas para a democratização do país. Havia um grande desejo da população em ter de volta aqueles políticos cassados em 1964. Disputei, em 1982, com vários deles, inclusive com Leonel Brizola que fundou o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Apoiei Moreira Franco, 2º colocado pelo PDS, e fizemos 14 deputados Federais. Continuei coordenador da bancada. Nessa eleição que foi conjunta e com votos vinculados, elegemos o prefeito de Nilópolis, meu primo Miguel Abraão. Nessa década, apesar da grande campanha pelas Diretas Já, que foi derrotada por falta de votos suficientes, o Congresso Nacional escolheu por eleição indireta o Dr. Tancredo Neves para presidente da República e José Sarney para vice. Na noite anterior a sua posse, Tancredo foi operado de emergência e assumiu o Sarney.

Participei, apoiei e aprovei a Lei que estabeleceu que o Brasil teria uma nova Constituição e que na eleição de 1986 seriam escolhidos os deputados e os senadores que iriam compor a Assembleia Nacional Constituinte. Concorri e ganhei o meu terceiro mandato – sem dúvida o mais importante da minha carreira política! Participei da elaboração da atual Constituição ao lado de políticos como Dr. Ulysses Guimarães, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas, José Sarney, Francisco Dornelles, Nelson Jobim, Bernardo Cabral, Afonso Arinos e Roberto Campos. Também, dos queridos amigos Wladimir Palmeira, Marcelo Cerqueira, José Richa e Sandra Cavalcante. Foi um trabalho incessante dirigido pelo presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Dr. Ulysses Guimarães.

Francisco Dornelles, Simão Sessim e o “senhor diretas” Ulysses Guimarães

Anos quando o Congresso Nacional fervilhava de gente de todos os segmentos: trabalhadores, banqueiros, sindicalistas, empresários, índios, afrodescendentes, líderes religiosos, feministas e outros. Foram utilizados todos os meios de contatos com os constituintes: pressões, vaias, lobbies, aplausos. Suportei e reagi a tudo isso, afinal era direito de cada um querer aprovar matérias de seu interesse, às vezes em detrimento da coletividade. Trabalho que muitas vezes atravessou madrugadas, fins de semana, noites mal dormidas, almoço e janta, substituídas por lanches. Inesquecível o dia da alegria, da emoção, quando o Dr. Ulysses promulgou a “Constituição Cidadã”, que há 30 anos resiste às tentativas de ser rasgada. Mas ela vem consolidando a democracia no Brasil! Na década de 1990 tive um infarto, sozinho, num quarto do Hotel San Marco, em Brasília. Levado para o Hospital Santa Cecília, o grande amigo, Rubem Medina, intercedeu e, vendo a gravidade, exigiu que fosse levado para São Paulo. Lá recebi ajuda do meu líder, o saudoso Luís Eduardo Magalhães e do hoje senador, José Serra, para que fosse operado pelo melhor cardiologista da época, o Dr. Adib Jatene. Foram 11 horas de cirurgia e depois CTI. Na convalescência, em casa tive uma terrível depressão e culpava o trabalho político. Prometia não concorrer mais a nada. Era o ano de 1994. Até que meu filho Marcelo me levou a um banco na calçadão de Nilópolis. Ocasião quando recebi manifestações de muito carinho e alegria no meio de lágrimas. Reconheciam o meu trabalho em defesa da cidade. Ao voltar para casa, como num passe de mágica, a depressão acabou. Faltava muito pouco para a escolha dos candidatos. Consultei o médico, Dr. Paulo Dutra, e ele disse que com os devidos cuidados aprovava o meu desejo. Foi quando conquistei o meu 4º mandato. Ganhei novos mandatos em 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. Ao todo foram 10 mandatos seguidos de deputado federal, 40 anos no Congresso Nacional.

Simão Sessim e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Ressalto que durante esses anos cresceu a minha credibilidade e experiência, aumentando as responsabilidades. Foi quando assumi a presidência de várias Comissões Parlamentares temáticas; vice-presidências e/ou membro de CPIs e de Comissões Especiais. Fui membro titular da mesa diretora, o que me permitiu presidir várias sessões. Para citar algumas: a que aprovou o Plano Nacional de Educação; a Lei de Mais Médicos; a Lei dos Portos, que varou dois dias. Fato importante foi presidir e controlar a sessão quando os índios invadiram o plenário da Câmara, reivindicando seus direitos.

No centro: Simão Sessim e o deputado federal Arthur Lira (PP-AL)

Assumi a vice-presidência do partido no plenário, durante vários anos. Tive alegrias como: a eleição e reeleição do meu primo, Farid Abrão, como prefeito de Nilópolis. Ele já havia sido deputado estadual. Não posso deixar de destacar a importância da eleição do meu sobrinho, Ricardo Abraão, como deputado estadual; e do meu irmão, Jorge David, e de meu filho, Sérgio, como prefeitos de Nilópolis.

Neste contexto, a eleição este ano, do meu sobrinho Abraãozinho David Neto, para prefeito de minha cidade, traz a convicção de que vale a pena lutar.

Edson Celulari, Anísio Abraão David e Simão Sessim desfilando na passarela do samba pela Beijar-Flor de Nilópolis

Prestes Filho: Você sente que reconhecem sua luta?

Simão Sessim: Recebi honrarias como a Medalha do Mérito Legislativo, Medalhas dos Ministérios do Trabalho, Transportes, Marinha, Aeronáutica e Exército. Títulos de cidadão honorário dos mais diferentes e distantes municípios do Brasil. Fui honrado com as medalhas: “Tiradentes”, da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); e “Pedro Ernesto”, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Ser convidado para representar o presidente da Câmara dos Deputados, durante a despedida do Papa Francisco, ao lado do presidente Michel Temer, foi um momento memorável. Assim como representar o Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU).

Prestes Filho: O Brasil de hoje mobiliza sua militância cidadã? Quais foram suas grandes decepções?

Simão Sessim: Continuo entusiasmado por tudo que preguei na minha longa carreira política. A defesa da Constituição que ajudei a elaborar, a consolidação da democracia, não aceitando qualquer movimento ou insinuações que venham ameaçar o regime democrático de direito. Fui colega do presidente Jair Bolsonaro durante todo o tempo em que ele esteve como deputado federal no Congresso Nacional. Foram 28 anos juntos, quase todo o tempo no mesmo partido. Votei nele, acreditando nas propostas de acabar com a corrupção; melhorar a segurança em todo o país; aprovar as reformas necessárias; dar base para fazer o país melhorar a economia e crescer; fazer avançar as privatizações. Na minha visão, apoiado na experiência, está faltando um melhor relacionamento com a Câmara dos Deputados. É preciso acreditar e apostar mais na liderança do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia; estabelecer parcerias. Há muita desconfiança, ciúmes, falta de coerência, além da ausência de humildade no relacionamento com o mundo político e com a mídia, com os governadores e prefeitos. A condução, no enfrentamento da pandemia da Covid-19, mostrou falta de respeito para com a ciência. O Brasil é maior do que todos nós e deve estar acima de tudo e de todos, com certeza. Na vida pessoal, não lembro de decepções que tenham destaque.

Deus me deu nesses 85 anos que comemoro grandes alegrias, além de uma vida longa com muito amor, paz e saúde. Me colocou no mundo numa cidade que amo muito – Nilópolis. A palavra Koura, denominação da vila onde nasceram meus antepassados, significa: “país”. Para mim, a palavra Nilópolis tem esse significado.

Simão Sessim em dois momentos no Congresso Nacional, com o deputado Rodrigo Maia e o senador David Alcolumbre 

Prestes Filho: Percebo que as suas realizações foram tantas que trazem forças para continuar.

Simão Sessim: O Plano de Construção de Escolas Técnicas em todo o país, que apresentei em 1985, ao presidente Sarney, e ele aprovou, permitiu a criação de instituições de ensino técnico em Nilópolis e em Nova Iguaçu. A de Nilópolis transformei em CEFET e depois em Instituto de Ciência e tecnologia, hoje uma verdadeira Universidade Tecnológica, com vários cursos de graduação e pós-graduação. Veio para corrigir o atraso do Brasil na preparação de professores e alunos com habilitação profissional. Tive voz ativa na elaboração e aprovação do Plano Nacional de Educação. Gostaria de citar aqui algumas leis que apoiei, em especial, aquelas que melhoraram a vida dos brasileiros como: Lei Maria da Penha, que pune com rigor a violência contra a mulher; a Lei Caó, que define os crimes de preconceito de raça ou cor, tornando os mesmo inafiançáveis e imprescritíveis; a Lei do Funded, que veio melhorar o financiamento da educação nos municípios, colaborando para a reforma e a construção de escolas, além da valorização dos salários dos professores.

Simão Sessim participando de Audiência Parlamentar na sede da Organização das Nações Unidas (ONU)

Participei da aprovação da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que permitiu ampliar o acesso de toda a população a saúde pública, criando um sistema que poucos países tem igual; da Lei de Responsabilidade Fiscal, que regulamentou os gastos do executivo; a Legislação do Código Florestal, que proporciona a defesa, a preservação do meio ambiente e a situação fundiária; a Reforma Trabalhista, que permitiu o aumento de empregos; a legislação que criou a receita dos royalties para Estados e municípios produtores de petróleo. Foi de minha autoria a lei que possibilita a Fundação Oswaldo Cruz poder vender para o exterior seus produtos, depois de atendido o mercado interno, tanto as vacinas e como outros suprimentos. Estabeleci que a receita tem que ser aplicada na área tecnológica daquela instituição.

Também, com base no aumento de vida dos brasileiros, provocado pela ciência e pela medicina, apresentei a lei que hoje oferece as pessoas com mais de 80 anos preferência e privilégios na justiça, bancos, aeroportos, hospitais, filas, etc.

O colunista Ancelmo Gois e Simão Sessim na passarela do samba

Prestes Filho: A sua vida daria um enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis. Quais seriam as alas e os carros alegóricos? Qual seria a sua fantasia?

Simão Sessim: Tenho grande paixão pela nossa Beija-Flor que é o maior patrimônio cultural de Nilópolis. Símbolo da criatividade, da beleza e da força do povo nilopolitano. Como diz o nosso hino: “Minha escola, minha vida, meu amor.” Desfilo pela diretoria há cerca de 40 anos. Confesso que a Beija-Flor abriu muitas portas, desde a presidência da República, passando por ministérios e muitos órgãos federais. Também, fui recebido, através dela, em vários Estados e municípios, Brasil afora. Difícil imaginar um enredo, mas vou dar um palpite. As alas, poderiam descrever a minha vida nas várias fases, poderiam ser constituídas de alunos, vereadores, deputados, professores, etc.

As alegorias poderiam ser escolas, universidades e o Congresso Nacional – a Câmara dos Deputados e o Senado. Claro, tem que ter a prefeitura de Nilópolis e o edifício da ONU, em Nova Iorque, onde participei e discursei algumas vezes. Outro carro com as obras de infraestrutura que realizei. A minha fantasia poderia ser o avental de professor ou o terno e a gravata exigida nas sessões da câmara dos deputados. Aproveito aqui para lembrar o seguinte episódio. Quando concorri a prefeito, a Beija-Flor era do Segundo Grupo.

“Os garis” José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni) e Simão Sessim desfilando pela Beija-Flor

O carnavalesco era um professor federal, ligado ao governo militar. Como eu era professor e saia da vida acadêmica para a política, o Nelson David, que era presidente, e o Anísio Abraão David, que já era o presidente de honra, nosso eterno presidente!, resolveram me apoiar. Então, como propaganda subliminar, decidiram que o enredo daquele ano de 1972 seria: “Educação para o Desenvolvimento”. Citavam o Mobral, Órgão do Ministério da Educação que cuidava da alfabetização. Aconteceu que eu ganhei a eleição mas a Beija-Flor se manteve no Segundo Grupo. Mas em 1976, no último ano do meu governo, a Beija-Flor, passou para o Grupo Especial. Ganhou com o enredo “Sonhar com Rei dá Leão”.

Quando veio a notícia desse grande título, eu decretei feriado no município. Foi uma baita festa!

Simão Sessim discursando na ONU


LUIZ CARLOS PRESTES FILHO – Diretor Executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Cineasta, formado na antiga União Soviética; Especialista em Economia da Cultura e Desenvolvimento Econômico Local; Coordenou estudos sobre a contribuição da Cultura para o PIB do Estado do Rio de Janeiro (2002) e sobre as cadeias produtivas da Economia da Música (2005) e do Carnaval (2009); É autor do livro “O Maior Espetáculo da Terra – 30 anos do Sambódromo” (2015).