Por Miranda Sá

Entre as inúmeras e esquisitas fantasias bíblicas, encontramos em Gênesis 5:21-32 que Matusalém, filho de Enoque e avô de Noé, viveu 969 anos. Vá lá que a antiga inflação nos permita cortar os zeros e deixar a idade dele em 10%, 96 anos e 9 meses. Mesmo assim teria sido uma vida muito longa naquela época.

Insistentemente, porém, os barbudos do Sinédrio “terrivelmente ortodoxos”  (ainda existe isto lá para as bandas de Israel?) creem ou fingem crer piamente nisto; é correto que se preservem os textos milenários, mas querer impô-los a alguém é insensatez.

Recuso-me acreditar nas oito centenas de anos de Matusalém, mas louvo os dez por cento estimados como a média da vida humana atualmente. Isto alegra e lembra a entrevista de antigo violinista do Teatro alla Scala a Milano, que participou em 1955, aos 23 anos, da apresentação de Toscanini em louvor aos 88 anos do maestro.

Descreveu o musicista que encerrada a execução da orquestra, à meia noite, Toscanini juntou-se aos jovens musicistas e confidenciou em voz baixa: – “Os velhos já estão indo para casa, então vamos nos divertir!”.

É o exemplo que temos encontrado nas redes sociais. Com a base em suas experiências os “setentões” e “oitentões” vibram e lutam pelas suas convicções. Antigamente expunham a vida do gênero humano em três fases, mocidade, maturidade e velhice. O desenho atual da margem de vida traz esquemas mais extensos.

O quadro que nos apresentam hoje é assim: Infância, até os 10 anos; Adolescência, dos 10 aos 20; Primeira mocidade, de 20 aos 30; Segunda Mocidade, dos 30 aos 40; Primeira Maturidade, dos 40 aos 55; Segunda Maturidade, de 55 aos 70; Primeira Velhice. dos 70 aos 85; Segunda Velhice, dos 85 até quando Deus quiser…

É claro que não vemos nisto uma exposição genérica; depende do DNA individual e, como disse Goethe, “uma alma forte, capaz de estabelecer uma renovação psicológica que dê ao corpo, mesmo frágil, assume a idade que quiser”.

Crendo nisto, constatamos a presença de setentões com vivacidade juvenil, assim como vemos jovens, de tenra idade, envelhecem prematuramente. Não sei se é por isto que maldigo os tempos que atravessamos.

Enquanto experientes de sessenta, setenta, oitenta anos, não conseguem emprego, abrem vagas para pessoas despreparadas ,sem noção da realidade e pensando apenas no “aqui e agora”; sem passado e sem futuro.

Daí, somos levados a pensar que é a experiência vivida e consolidada pela cultura é desprezada nos dias atuais; é no reinado da ignorância e da desinformação que leva o eleitorado a ver os fogos de artifício da demagogia populista. E na presença de brilho e cores, se divide entre os populismos corruptos “da direita bolsonarista” e “da esquerda lulista” numa polarização que estimula a injustiça social.

Em texto anterior sobre os oitentões – que me foi agraciado com a notificação e divulgação de 154 tuiteiros – ataquei essa partilha eleitoral lembrando a covardia “do mito” Bolsonaro sempre terceirando a sua delinquência, antes e depois de presidente; e seu sucessor, o pelego Lula, divertindo-se em viagens internacionais com a companheira das visitas intimas, sem se preocupar com a governança infestada de corruptos que reuniu à sua volta.

A experiência dos setentões sugere que ambos perdem popularidade a cada dia. Nas cabeças pensantes floresce a reação semeada pela conscientização das evidências. Uma pesquisa mostrou que a carga propagandista dos dois populistas aumentou consideravelmente; com as verbas públicas do lado dos pelegos que patinam na corrupção; e no extremismo de direita, através da fraude religiosa e a cegueira do fanatismo.

Não adianta. Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir sabe que a Nação está farta da polarização fajuta entre ambos. Dos “socialistas” que cacarejam para a esquerda e desovam na direita; e da direita com hipocrisia evangélica e falso conservadorismo.

MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e diretor executivo do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo. mirandasa@uol.com.br

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