Por Miranda Sá

“O homem do rebanho chama de verdade aquilo que o conserva no rebanho e chama de mentira aquilo que o ameaça ou exclui do rebanho” (Nietzsche)

É inolvidável a primorosa poesia de João Nogueira cantando “Segredo” fazendo a defesa dos cuidados na interpretação das coisas com o alerta: – “Não deixe que males pequeninos/ Venham transtornar os nossos destinos”.

Gosto de repetir que aprendi com William Blake, romancista e jornalista escocês, autor de vários livros de sucesso, incluindo o excelente romance “A Estranha Aventura”, que “quem nunca altera a sua opinião é como a água parada e começa a criar répteis no espírito”, e aproveitando a letra filosófica de “Disparada”, de Geraldo Vandré, afirmo que sempre “as visões vão se clareando, até que um dia acordamos”.

Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, vê e escuta o que se passa no Governo Bolsonaro desde que assumiu o poder; e entristece tendo votado nele, iludido pelo discurso contra a corrupção.

Assumindo a presidência da República montou na égua dos sigilos sinalizando que deve esconder da opinião pública o que pensa e o que faz. Pena que seja seguido por quem não deveria copiar a intransparência embaciando a verdade, como fez sigilo de 100 anos a cúpula militar no processo que absolveu a indisciplina do general-ativista Eduardo Pazuello.

… E daí em diante os segredos nos assustam por ver o envolvimento de dezenas de militares (talvez centenas) da reserva, lotando os gabinetes ministeriais, principalmente na Saúde, onde explodiu agora o caso mais suspeitoso de corrupção.

Isto confirma tristemente que o projeto ditatorial do capitão Bolsonaro, admirador do golpista e depois ditador Hugo Chávez, pode contar com apoio dos militares burocratas; acredito, porém, que os quarteis não embarcarão nesta aventura antidemocrática.

O apoio da guarda pretoriana de pijama pouco vale e as simpatias de alguns poucos oficiais superiores das FFAA não bastam para que o capitão Bolsonaro mergulhe numa tentativa de golpe. Para saciar a sua sede de poder, é melhor continuar a desatinada campanha reeleitoral que empreende, inaugurando até postos de gasolina para justificar os gastos com o dinheiro público….

Assusta-me e revolta-me é que o povo brasileiro vem perdendo a confiança nas suas Forças Armadas, principalmente no Exército de Caxias onde antigamente se obedecia ao princípio de que “a verdade é o símbolo da honra militar”.

Não considerei irreverente ao escrever outro dia que “os generais Castello Branco, Costa e Silva, Emílio Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo se remexem envergonhados nos seus túmulos…. Não expliquei o porquê, certo de que é tão transparente.

Mas revelo que é pelo silêncio ensurdecedor que a cúpula militar mantém diante do contrassenso que a Nação assiste diante do palavreado inconsequente do Presidente arremetendo contra ministros do Supremo e congressistas, e dizendo que o “nosso lado” pode não aceitar eleições de 2022 sem mudar o voto eletrônico”.

Assim, regurgitando o seu personalismo autoritário, o capitão Bolsonaro ameaça o Congresso e o STF, e divide o Brasil entre “nós” e “eles”, em vez de chefiar a Nação pelo bem de todos….

Não faço segredo: se o Ministério da Defesa e os comandantes das FFAA influenciados por militares envolvidos em suspeitas de corrupção apoiarem as sandices do Presidente, conspurcarão o seu passado de honradez e patriotismo, entrando para a História como “males pequeninos” que ameaçaram o destino glorioso do Brasil.


MIRANDA SÁ – Jornalista profissional, blogueiro, colunista e membro do Conselho Editorial do jornal Tribuna da Imprensa Livre; Trabalhou em alguns dos principais veículos de comunicação do país como a Editora Abril, as Organizações Globo e o Jornal Correio da Manhã; Recebeu dezenas de prêmios em função da sua atividade na imprensa, como o Esso e o Profissionais do Ano, da Rede Globo.


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