Por Pedro do Coutto –

Sem dúvida alguma, o confronto dos salários estacionados com a inflação ascendente é um tema essencial que deveria estar presente nas campanhas dos candidatos à Presidência da República nas urnas de 2 de outubro e também na campanha de governadores.

Trata-se de um problema econômico e social da maior importância e a defasagem dos salários em relação aos índices inflacionário causa em grande parte a fome que atinge milhões de brasileiros e brasileiras, a queda do consumo, inclusive de alimentos, a insegurança pública, fatores estes alimentados por um elo de ligação entre a pobreza e a fome.

INSEGURANÇA ALIMENTAR – Enquanto 33 milhões estão mergulhados nela dramaticamente, 60 milhões de eleitoras e eleitores vivem na chamada insegurança alimentar e têm dúvida se no dia seguinte encontrarão alimentos em suas mesas para si e para seus filhos e filhas.

O tema é primordial, mas não está demonstrando a sua presença na dimensão de sua importância nos pronunciamentos dos candidatos e candidatas. Na edição de ontem da Folha de S. Paulo, Catia Seara, Julia Chaib e Vitória Azevedo publicaram reportagem revelando que na campanha que se inicia hoje em todo o país, o ex-presidente Lula da Silva focalizará o combate à fome e a sua aproximação com os evangélicos, nesse segundo caso para neutralizar a presença de Bolsonaro nessa corrente religiosa.

Em matéria de congelamento de salários, o presidente Jair Bolsonaro não pode tocar no assunto, já que ele segue há quase quatro anos a política de concentração de renda traçada pelo ministro Paulo Guedes. E a concentração de renda tem crescido aceleradamente no Brasil. Mas Bolsonaro, acentua Mariana Holanda e Matheus Teixeira, também na Folha de S. Paulo de ontem, conta com o reflexo do aumento do Auxílio Brasil e a participação da sua mulher, Michelle, para crescer especialmente no Sudeste.

Bolsonaro e Michelle. (Arquivo Google)

CAMPANHA – Na minha opinião, a corrente evangélica, que na verdade inclui os protestantes, desde a cisão aberta no Vaticano em 1470 para Martinho Lutero, encontra-se naturalmente contida na divisão dos segmentos sociais identificados à base da renda mensal de cada família ou de cada pessoa. A campanha aberta começa hoje nas ruas do país e no dia 28 nas emissoras de televisão e rádio.

Não se deve minimizar a importância do contato pessoal entre candidatos, eleitores e eleitoras, pois tal movimentação acarreta sempre o reflexo nas comunidades em que os atos de rua se realizam. Sob esse aspecto, divirjo um pouco da posição de Fernando Gabeira na manhã de ontem em comentário na GloboNews. Ele focalizou o peso das redes sociais na internet. Tudo bem. Mas na minha opinião é maior ainda o peso do programa eleitoral na tv e no rádio. Por várias razões.

Uma delas é de que as redes sociais exigem o acesso das pessoas às telas do computador ou do celular. Ao passo que as mensagens pela televisão e radiofônicas surgem em momentos inesperados e diversos, fazendo com que a comunicação seja mais amplamente estabelecida.

FAKE NEWS –  Relativamente às redes sociais temos que levar em conta a nociva presença de fake news que na medida em que se sucedem diante de nós, mais perdem credibilidade. Uma informação falsa pode contribuir para fanatizar ainda mais os fanatizados, mas não pode substituir a verdade. Graças a Deus, a verdade prevalece sempre. Este é um fato que pode ser comprovado por todas as pessoas.

O problema essencial continua sendo a maior participação do trabalho na renda decorrente da produção nacional. Enquanto essa participação não se realizar, a concentração de renda vai se ampliar da mesma forma que a veloz favelização dos grandes centros, como é o caso do Rio de Janeiro.

PESQUISA –  Os fatos, a meu ver, deverão comprovar o cotejo entre as telas da televisão e as telas da internet. Por isso, vamos aguardar a próxima pesquisa do Datafolha. De qualquer forma, a questão do emprego e do salário é definitiva e decisiva tanto para o desenvolvimento econômico quanto para o progresso social do Brasil, melhorando as condições de vida da nossa população. O salário é a única forma efetiva de redistribuição de renda.

A desvalorização do trabalho humano está caracterizada no Auxílio Brasil, uma vez que esse só existe em função da carência e da insuficiência da massa salarial paga aos brasileiros e brasileiras. Daí, inclusive, o nome auxilio.

Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

SALÁRIO CONGELADO –  Na edição de domingo da Folha de S. Paulo, Julianna Sofia e Fábio Pupo publicaram uma ótima reportagem sobre a queda dos vencimentos dos funcionários federais, a menor despesa dos últimos 26 anos registrada desde 1996. A causa está exatamente no congelamento dos salários e não na realização de concursos públicos para preencher as vagas decorrentes das aposentadorias.

A matéria acentua que as despesas com o pagamento de 570 mil funcionários e funcionárias é hoje de 3,4% do Produto Interno Bruto quando tal despesa já significou 4,2% do PIB. Impossível que o congelamento não produza algum reflexo nas urnas de outubro.

Para traduzir em números absolutos a percentagem de 3,4% temos que aplicar essa percentagem sobre R$ 6,5 trilhões que é o montante do Produto. Não confundir com o montante da dívida interna que se encontra em cerca de R$ 6 trilhões. Para ser exato, R$ 5,8 trilhões acompanhando informação do Banco Central publicada na imprensa.

ORÇAMENTO  – Verifica-se assim que a participação do funcionalismo público no orçamento federal é muito pequena proporcionalmente, pois 3,4% representam pouco mais de R$ 200 bilhões, enquanto o orçamento federal para 2022 é de R$ 4,8 trilhões.

A reportagem da Folha de S. Paulo inclui declarações de Rudinei Marques, presidente do Fórum Nacional das Carreiras do Estado e também observação de Mauro Silva, presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais. Ambos sustentam a situação de dificuldade que atinge o funcionalismo, resultado do confronto entre os preços e os vencimentos mensais de toda a categoria.

*Pedro do Coutto é jornalista.

Enviado por André Cardoso – Rio de Janeiro (RJ)

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